Dentro de exatos 14 dias, telespectadores e radiouvintes passarão a ver e ouvir os programas eleitorais gratuitos do TRE mas ao invés da Globo, que atrai audiência para suas reprises com as chamadas do "vale a pena ver de novo", o que se nota nas ruas já é suficiente para se chegar à certeza de que estaremos diante de reapresentações sem a mesma emoção das antigas novelas.
As tramas paralelas que os autores globais criam são, não raras vezes, antológicas: é nelas que nasce a maioria dos bordões de gosto popular que costumam resistir ao tempo. Por exemplo: um bordão até hoje lembrado, mesmo passadas já quase duas décadas, é aquele criado pelo "nanico" Jamil Nakad (PRTB) que, em seus poucos segundos de fama na eleição de 1998, apresentava-se como "o novo" em relação aos veteranos que disputavam cargos naquele ano Jaime Lerner, Requião, Alvaro Dias...
Neste ano, a variação de "mesmos" é mínima: estão aí de novo pedindo voto, embora para cargos diferentes, Requião, Alvaro, Beto Richa, Gleisi Hoffmann... Portanto, sob o ponto de vista de elenco, a novela tende a ser a mesma. Todos já experimentados (com sucesso) nas urnas e todos com discursos e comportamentos previsíveis.
Então, tudo leva a crer que o script será muito parecido com os do passado. Aparecerão eventualmente fatos novos, mas o fio condutor da campanha continuará agarrado aos ataques às fraquezas dos adversários. Para cada um deles, segundo seus pontos de vista, os outros farão o papel de vilões; o papel de mocinho será representado apenas pelo jeito como cada um enxerga a si próprio.
Antes dos programas eleitorais, eles já atuam desta forma nas ruas. A Boca Maldita, por exemplo, continua como palco uma espécie de "cidade cenográfica" em que o povo é mero figurante. De resto, "os mesmos" repetem "falas" que, com certeza, serão reproduzidas na propaganda eletrônica.
As promessas não mudarão. Todos se dirão muito empenhados em melhorar a vida do povo e para isso inventam projetos com nomes pomposos e ambições ilimitadas, sem se darem muito ao trabalho de explicar de onde tirarão recursos para cumpri-los. Nem, neste momento, estarão muito preocupados se, de fato, farão o que dizem, ainda que registrem tudo em cartório.
O que valerá mesmo, em grande parte, é a eficácia dos ataques que desferirão uns contra os outros. Munição não faltará a nenhum deles. Não é preciso ser profeta para antecipar os discursos "do contra" e, neste caso, Beto Richa, tenderá a ser o centro das atenções já que, afora os "laranjas", todos são adversários.
Contra ele, Gleisi (PT) e Requião (PMDB) dirão que o governador quebrou o estado, geriu mal as finanças, não pagou fornecedores, deixou viaturas sem gasolina, nomeou comissionados em excesso, não teve projetos e não executou obras e, por isso tudo, não cumpriu a promessa do choque de gestão.
Beto pode disparar contra Requião: o senador e ex-governador lhe deixou dívidas, espantou investidores, tomava vinhos e criava cavalos à custa do dinheiro público e, sobretudo, é um destemperado dado a bravatas; portanto, inapto para ocupar um cargo que exige sensatez e equilíbrio.
Já contra Gleisi, além do caso da nomeação de um assessor que se descobriu depois ser pedófilo e das ligações políticas com o deputado André Vargas (enrolado com doleiros), pesará a acusação de que, como chefe da Casa Civil da Presidência, fez de tudo para prejudicar o Paraná, brecando empréstimos e investimentos federais.
Claro que, em meio a todas essas mútuas acusações, virão também questões de aparência mais nobre, mas nem por isso tratadas com a seriedade que mereceriam. Por exemplo: poderiam os candidatos adentrar o campo ideológico discutindo suas opções pelo neoliberalismo ou, contrariamente, pela presença ativa do Estado no controle público? Poderiam debater as diferenças programáticas entre seus partidos (PT, PSDB e PMDB), mas encontrarão substância para tratar deste tema? E sobre as respectivas visões estratégicas em relação ao Paraná, mostrarão aí, os candidatos, diferenças fundamentais e capazes de sensibilizar o eleitorado com suas ideias? Qual deles se apresentará como o mais inovador, o mais capaz de deixar as miudezas pessoais de lado e realmente mostrar capacidade para indicar caminhos seguros para o desenvolvimento econômico do estado?
Está lançado o desafio: quem conseguirá fazer com que a eleição deste ano não seja apenas uma pobre reprise em preto e branco?
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