A demissão do diretor-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes, não é um fato que em si vá contribuir ou influir no desgaste das relações entre o PMDB, o governo e o PT.
Inclusive porque o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, só faltou pedir que a presidente Dilma Rousseff apressasse a demissão ao se referir a ela em tom de desafio para defender o apadrinhado, abraçar uma causa ruim e resguardar interesses paroquiais.
Ontem de manhã a avaliação era a de que o deputado cometera um erro estratégico ao duvidar que Dilma bancasse a demissão ao custo de arrumar briga "com metade da República, com o maior partido do Brasil".
No tom, no método e no mérito do caso, Henrique Alves não contou com o respaldo do partido. Mas expressou a insatisfação crescente não só no PMDB, mas também em legendas com menos poder de vocalizar descontentamentos, como PR e PP, com a adoção de pesos e medidas diferenciados no trato dos partidos aliados.
O problema é mais amplo: diz respeito ao que é visto como a execução de um plano para fortalecer a hegemonia do PT, proteger quem atenda aos interesses desse projeto e enfraquecer os que possam representar alguma ameaça ou almejem algo mais que o papel de meros coadjuvantes.
Isso tanto no cotidiano do governo como nas disputas eleitorais que se avizinham. Com exceções aqui e ali, o PMDB e adjacências enxergam nos movimentos do PT a intenção de coagir os partidos da base governista a marchar com os candidatos do partido em detrimento das postulações dos aliados.
O sentimento é o seguinte: fortalecida pela popularidade, Dilma trata os parceiros com pragmático desdém. Recorre a eles quando precisa "blindar" ministros considerados intocáveis sob a ótica do Planalto, mas não age da mesma forma na contrapartida. Ao contrário. Aproveita ocasiões em que as suspeitas recaem sobre o lado mais fraco para firmar imagem de austeridade.
E avança no terreno político eleitoral, onde teoricamente não transitaria por temperamento e falta de vocação.
O PMDB ainda está engasgado com a ação de Dilma em favor da candidatura de Fernando Haddad a prefeito de São Paulo na inauguração de uma creche em Angra dos Reis (RJ). Por dois motivos: fez a saudação em estado governado pelo partido e simplesmente ignorou que o PMDB tem candidato (Gabriel Chalita) na capital paulista.
O estresse cresce, mas o governo ainda conta com larga margem de vantagem porque os insatisfeitos não têm saída.
Se alguém nessa altura já estivesse se movimentando de forma clara como alternativa de poder citados Eduardo Campos e Aécio Neves, como exemplos a história da ruptura entre PT e PMDB estaria hoje em andamento.
Não sendo o caso, existe apenas como hipótese remota, mas existe
Petrobras
A gerência de imprensa e comunicação social da Petrobras envia mensagem para apontar "um erro grave", uma "mentira inadmissível" em nota sobre a intenção do ex-presidente Sérgio Gabrielli de deixar a empresa só depois do carnaval, quando poderia tirar proveito dos patrocínios dados a blocos e trios de Salvador como postulante a candidato ao governo da Bahia.
E qual o erro grave, a mentira inadmissível? A afirmação de que equipe da sucessora de Gabrielli na Petrobras tenha feito levantamento daqueles patrocínios. Pois bem: não há equipe de transição nem trabalho de apuração de financiamentos.
No mais, a gerência confirma o patrocínio de blocos e trios de Salvador, mediante "análises técnicas e jurídicas", com o objetivo de "valorizar e ampliar o conhecimento sobre o carnaval baiano, além de expor a marca, reforçando a imagem da Petrobras como maior patrocinadora da cultura brasileira".
A nota não discutia a metodologia da Petrobras. Apenas indicava que Gabrielli poderia tirar dividendos políticos se circulasse no carnaval na dupla condição de presidente da empresa patrocinadora e aspirante aos votos baianos. E sobre esse ponto a gerência nada comenta.
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