Os ativistas do movimento 15-M, da Espanha, decidiram romper com o preconceito recorrente de que a política é uma atividade exercida por gente corrupta e, por essa razão, os cidadãos de bem deveriam evitar se envolver na disputa partidária. Em 17 de dezembro do ano passado eles criaram o "Partido X-Partido do Futuro". A nova legenda espanhola defende a participação direta do cidadão na produção de leis, o estímulo a leis de iniciativa popular, técnicas de governo colaborativo, transparência e uso da internet como instrumento disseminador de democracia (para conhecer o partido: www.partidodelfuturo.net).
Vejam que interessante. Os indignados da Espanha passaram a usar as armas da política tradicional para combater a corrupção e a prática de certos políticos que usam bens e cargos públicos para atender fins pessoais. Enquanto isso, no Brasil, os cidadãos indignados ainda patinam entre desilusões e tentativas de participar da vida pública de forma eficaz.
Os ativistas do movimento 15-M foram de uma clareza tremenda que vale a pena ser reproduzida por aqui. Perceberam que se queriam mudar a política espanhola teriam de entrar em terreno dominado pelo preconceito e por práticas que condenam. A ideia do Partido do Futuro é conseguir ter mais influência sobre a agenda do governo e buscar saídas para a crise econômica que castiga o país.
Embora jovem, a legenda começa a despertar a simpatia daqueles que estão desiludidos com os políticos tradicionais. É o primeiro partido da Espanha dos tempos da cultura digital. Nasce com o lastro de credibilidade decorrente do movimento 15-M, que em maio de 2012 levou milhares de pessoas às ruas. O Partido do Futuro está se legitimando pela prática política que seus membros tiveram como porta-voz de angústias da sociedade espanhola no ano passado. Um exemplo inspirador para os desiludidos e indignados cidadãos brasileiros.
Tendências
Fora Renan 1
É difícil dizer no que o abaixo-assinado virtual vai dar, mas que está ficando interessante, isso está. Ativistas brasileiros lançaram no site Avaaz.org uma entidade sem fins lucrativos que permite organizar mobilizações na internet a campanha "Fora Renan" (http://www.avaaz.org/po/brasil_fora_renan/?tGUGaeb). Até o início da noite de ontem, o abaixo-assinado contava com a adesão de mais de 690 mil apoiadores on-line.
Fora Renan 2
Os organizadores da mobilização virtual pretendem chegar a 1,36 milhão, o que corresponde 1% do eleitorado nacional. Os ativistas consideram que, ao chegar a essa marca, estarão mostrando que o pedido de afastamento de Renan Calheiros (PMDB) da presidência do Senado tem a mesma força de um projeto de lei de iniciativa popular. Para que a sociedade consiga dar entrada no Congresso Nacional com um projeto de lei de iniciativa popular é preciso a assinatura física de 1% do eleitorado do país distribuído por, pelo menos, cinco estados.
Fora Renan 3
Se atingirem a marca, será incrível. Infelizmente, parece difícil que os senadores venham a se sensibilizar com a petição virtual. Como a eleição é secreta, as críticas acabam se diluindo e deixam os parlamentares ilesos. Esse esforço pode ser canalizado para o fim do voto secreto nas eleições da Mesa Diretora do Congresso Nacional e para acompanhar o trâmite das denúncias contra Renan Calheiros na Justiça.
Marchas contra a corrupção 1
Na comunidade Dia do Basta CWB, do Facebook (http://www.facebook.com/groups/diadobastacwb/), o debate sobre a efetividade das marchas contra a corrupção voltou à tona. O internauta Leonardo Garrido coloca em dúvida o sucesso das passeatas que vêm ocorrendo de tempos em tempos: "Com todo o respeito aos que vão, mas na minha opinião não vai adiantar absolutamente nada, enquanto estiver lá caminhando com nariz de palhaço, orelha de burro, e cartaz na mão, nada vai mudar! Os políticos corruptos continuarão em seus postos, vivendo vidas nababescas", afirma ele. "Ou partimos para ações contundentes e de real eficácia, fiscalizando e propondo projetos de iniciativa popular(...), ou iremos apenas ganhar algumas calorias a menos nessas caminhadas."
Marchas contra a corrupção 2
O contraponto à posição de Leonardo Garrido veio do internauta Guilherme Lipienski: "Dia do Basta [à corrupção] não se faz só de marchas, são [realizadas] ações no cotidiano das mais variadas formas, desde arrecadação de assinaturas, fiscalização de políticos", declara Lipienski. "Creio que traz sim uma mudança. Há cinco anos você via tantos manifestos e atos por aí? A sociedade está mudando, de pouco em pouco, e esta é uma das formas." E você? Qual a sua opinião sobre as marchas?
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