Lamentável a lógica binária do ministro da Defesa, Jacques Wagner. Em sua página do Facebook, Wagner afirma que hoje na política brasileira estão dois times em campo. De um lado estaria o time da “defesa da democracia”, que seria formado por “expoentes da cultura nacional” que apoiam Dilma Rousseff e “pregam respeito à Constituição”. De outro, estariam os que perderam nas urnas, partidários do “quanto pior, melhor”. Wagner fecha o raciocínio dizendo: “E você, de que lado vai jogar nesta partida, no time que está sempre contra o Brasil ou no time da democracia?”.
Não parece razoável que um ocupante de cargo de tamanha importância estratégica veja o jogo democrático como uma luta de ‘nós contra eles’
É uma visão política estranha, mais apropriada a torcedores de times de futebol que a um ministro da Defesa. Não parece razoável que um ocupante de cargo de tamanha importância estratégica veja o jogo democrático como uma luta de “nós”, os únicos “defensores da democracia”, contra “eles”, o time que sempre joga “contra o Brasil”. Afinal, a pasta da Defesa necessita de um líder com elaborada visão estratégica, que possa decidir com inteligência a uma infinidade de questões de alta relevância para a segurança da nação.
De um ministro da Defesa se esperava uma visão sofisticada do momento político, jamais a sustentação de uma tese infantil, mais adequada ao mundo das redes sociais que condizente com a realidade. O ponto de vista de Wagner é eficaz para alimentar comportamentos extremistas e está bem alinhado com o que declararam há alguns dias um vereador petista da Câmara de Porto Seguro, na Bahia, e o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas, em Brasília.
Às armas?
Na quinta-feira do dia 20, o vereador Élio Brasil publicou mensagem no WhatsApp se manifestando contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff: “Se for preciso, pegaremos em armas para defender a democracia e o governo eleito democraticamente pelo povo. E só para lembrar, em 64 já fizemos para ter essa democracia que temos hoje”. Depois que o estrago foi feito, o vereador disse que tinha falado no sentido figurado. Em evento em Brasília há duas semanas, o presidente da CUT defendeu Dilma e pediu que os movimentos sociais fossem à “rua entrincheirados, com armas na mão, se tentarem derrubar a presidente”. Não sofreu reprimendas de nenhuma liderança petista.
A mentalidade binária de Wagner assim como o incitamento à guerrilha em caso da queda da presidente (ainda que “no sentido figurado”) obedecem a uma lógica que é própria das torcidas organizadas e de extremistas.
No mundo político, esses posicionamentos apenas atrapalham o bom funcionamento da democracia. O ministro, o vereador e o dirigente da CUT assumem comportamentos irresponsáveis que podem levar a consequências nefastas.
Impeachment
Se houver elementos para que seja aberto um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, isso deve transcorrer dentro dos parâmetros estabelecidos na Constituição – comprovação inequívoca de crime de responsabilidade, consenso político de que a chefe do Executivo não tem mais condições para prosseguir governando. É medida extrema prevista no texto constitucional.
Estando identificados os requisitos e sendo conduzido o processo pelo Congresso Nacional, uma vez que Dilma sofra impeachment, seria impensável algum insensato falar em pegar em armas, seria irresponsável alguém falar que o afastamento foi obra de um grupo maldoso cujo desejo seria destruir o país.
A lógica das torcidas organizadas de futebol piora o ambiente da política brasileira. Nas redes sociais, no Congresso e no Palácio do Planalto. É completamente inapropriada para quaisquer matizes ideológicas, sejam elas favoráveis ou contrárias ao governo federal.
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