O Palácio do Planalto avalia que terá de recomeçar do zero a recomposição da sua base aliada após a prisão do líder do governo, senador Delcídio Amaral (PT-MS). No governo, a impressão é que a articulação ficou totalmente combalida e será preciso agir muito rápido porque em pouco mais de 20 dias o Congresso vai entrar em recesso. Até lá, o Planalto precisa aprovar a nova meta fiscal de 2015, para que a presidente Dilma Rousseff não corra o risco de descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, realimentando as discussões do impeachment.
No Senado, prisão de Delcídio prejudica pauta governista
A prisão de Delcídio Amaral (PT-MS) já traz implicações negativas para o governo. Com reunião do Congresso Nacional cancelada em razão da detenção do senador, o principal prejuízo foi o adiamento da votação sobre a nova meta fiscal. Outras pautas prioritárias e ligadas ao ajuste do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, também seguem prejudicadas. Dentro da bancada do PT, a ordem é não perder o ânimo e correr para aprovar o que for preciso.
“O esforço é não deixar nada parar, tocar e concluir o ano apontando as saídas da economia para entrar em 2016 com outro clima, outras condições”, afirmou Paulo Rocha (PT-PA). Para o senador, Delcídio dialogava com a oposição e demais setores da máquina política, mas outros articulares estão preparados para dar sequência às pautas de interesse do governo.
A estratégia é dar espaço a outros nomes que já participavam da articulação. “Naturalmente, o Delcídio sempre dava uma ajuda em questões do orçamento, mas o grande articulador no Congresso é o [José] Pimentel (PT-CE)”, argumenta Humberto Costa (PT-PE). Outros senadores que devem assumir protagonismo são os peemedebistas Romero Jucá (RR) e Eunício Oliveira (CE). Recém-chegado ao partido da base, Blairo Maggi (PR), também tem bom trânsito com demais parlamentares.
Prioridade
A meta fiscal é a maior preocupação do governo atualmente. Correndo o risco de ter as contas reprovadas novamente e estar suscetível a pedidos de impeachment, a presidente Dilma Rousseff buscava um relaxamento da meta que, em vez de superávit, lhe permitisse um déficit de R$ 119,9 bilhões.
Depois de um bom tempo sem se falar direito, o episódio fez com que Dilma e o vice-presidente Michel Temer acabassem conversando nesta quarta-feira (25) sobre os problemas que vão enfrentar daqui para a frente. A avaliação era de que Delcídio, neste momento, havia se tornado uma peça fundamental em toda a articulação para aprovação de medidas consideradas fundamentais para o ajuste fiscal.
Dilma embarca na noite de hoje para uma viagem de uma semana fora do país. Temer estará à frente da Presidência e terá ajudar na composição na semana que vem. Os dois precisam estar alinhados.
Novo líder
No meio deste turbilhão, ainda atônita, a presidente busca um novo líder do governo. Não quer que o nome seja do PT, como insistem em exigir os petistas. O Planalto chegou a pensar em anunciar o senador Wellington Fagundes (PR-MT) como substituto de Delcídio, mas a presidente preferiu adiar a decisão porque quer conhecê-lo melhor, enquanto aguarda também as tradicionais checagens da vida pessoal do parlamentar.
Chegou-se a cogitar a possibilidade de o senador, que está fora do país, ser convidado para acompanhá-la em um dos trechos da viagem da semana que vem, para que eles possam conversar melhor. Não há, porém, nada decidido porque o governo também avalia outros nomes.
Enquanto isso, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, passou o dia em reunião com parlamentares da base, trabalhando para reconstruir o que tinha sido tão duramente colocado de pé e que foi totalmente destruído com o “tsunami Delcídio”. O governo, que tinha conseguido um fôlego no Congresso com parceria entre Berzoini e Jaques Wagner, na Casa Civil, se viu completamente sem energia depois das prisões.
O Planalto continua avaliando que Delcídio cometeu erros crassos e inadmissíveis. “Uma lambança”, na avaliação de um dos interlocutores da presidente, o que impediria qualquer tentativa de defendê-lo. Mesmo sabendo da possibilidade de o senador fazer delação premiada, o governo não vai trazer o problema para si e descarta trabalhar em prol do seu ex-líder. A estratégia é evitar, ao máximo, que a nova crise política prejudique ainda mais a já abalada imagem de Dilma.
Interlocutores da presidente avaliam ainda que a prisão de Delcídio não trouxe para o governo apenas problemas políticos e econômicos. O episódio, na opinião de auxiliares, fechou totalmente as portas do Judiciário para o Planalto a qualquer movimento e conversas que eventualmente precisassem ocorrer.
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