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Zika e política

Declarações desastradas do ministro da Saúde dão munição para fogo amigo

Há quase quatro meses do cargo, ministro Marcelo Castro tem sido criticado por falas infelizes. Para peemedebistas, situações são usadas por petistas como pretexto para retirar peemedebista e retomar pasta para o partido

Ministro Marcelo Castro tem sido criticado por falas infelizes. | Valter Campanato/Agência Brasil
Ministro Marcelo Castro tem sido criticado por falas infelizes. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Indicado para comandar a pasta com o maior orçamento da Esplanada – R$ 118,5 bilhões em 2016 − numa barganha do governo com o PMDB, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, tem dado munição para quem deseja vê-lo fora do cargo. Enquanto o país enfrenta uma das piores crises de saúde pública da história recente com a epidemia de zika e o surto de microcefalia, ele enfrenta forte pressão de setores do próprio PMDB e também do PT para ser retirado cargo.

O pretexto para derrubá-lo são as declarações cada vez mais polêmicas que tem dado nas últimas semanas. O argumento de pessoas de dentro do próprio governo é que Castro não seria preparado para a função. Como pano de fundo, porém, fica evidente que o contexto é muito mais político do que em nome da saúde pública.

Na última segunda-feira (25), Marcelo Castro disse que o Brasil está perdendo “feio” a batalha para o mosquito. A declaração não teria agradado ao Planalto e foi contesta pela Organização Mundial da Saúde, que a considerou fatalista.

Semanas antes, o ministro declarou torcer para que, antes de entrar no período fértil, as mulheres peguem zika “para ficarem imunizadas pelo próprio mosquito”. Logo que a crise da microcefalia explodiu, outra declaração gerou críticas: “Sexo é para amadores, gravidez é para profissionais”, um recado para que os casais planejem a gestação.

A cada fala considerada desastrada, aumenta a pressão, inclusive interna, para a saída de Castro. Para peemedebistas ouvidos pela reportagem, isso tem sido usado como pretexto do PT para conseguir retomar a pasta. Historicamente ocupado por petistas, o Ministério da Saúde entrou na reforma ministerial promovida pela presidente Dilma Rousseff no ano passado na tentativa de apaziguar o PMDB e retomar o apoio do partido na Câmara.

“As declarações podem até ser infelizes, mas não dá para exonerar um ministro por esse critério. O que tem de ser avaliada é a gestão. Mesmo porque, a presidente Dilma também não tem os melhores discursos”, diz o deputado federal João Arruda (PMDB-PR). Outro paranaense na Câmara, o peemedebista Sérgio Souza também sai em defesa do colega de partido. “Não vejo que ele tenha causado um prejuízo político que se justifique tirá-lo do cargo”, afirma.

Mas o que pesa mesmo a favor de Castro é a ligação com a ala do PMDB pró-governo. Em tempos de eleição para a liderança do partido na Câmara e decisões sobre o processo de impeachment, é pouco provável que a presidente Dilma Rousseff o tire do cargo. “Se ela [a presidente Dilma] começa a minar a ala do PMDB que defende o governo e é contra o impeachment, irá se fragilizar e dará mais força aos grupos que defendem a sua saída ou uma postura mais independente. Então, acho que ele não sai”, avalia Arruda.

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