Acuada pelo descontrole da base no Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff vai retomar uma das tarefas que considera mais indigestas: o corpo a corpo das negociações com líderes partidários. As tentativas de recompor alianças vão se expandir em reuniões pelas próximas semanas e testar os nervos da petista. Com a perda de espaço dos parlamentares do PT, ela mira caciques de outras legendas para recuperar a governabilidade.
Chega mais
A recomposição da base depende da aproximação com pelo menos cinco lideranças do Congresso.
Renan Calheiros
(PMDB-AL)
Recuperar a relação com o presidente do Senado é visto como tarefa número um para o governo. A expectativa é que Renan atue como um “antídoto” contra ações lideradas por Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara. O senador também se cacifa pela influência política no Tribunal de Contas da União.
Leonardo Picciani
(PMDB-RJ)
O líder do PMDB na Câmara é um dos principais aliados de Eduardo Cunha. Porém, tem dado sinais de que estaria disposto a um voo-solo – de olho em uma possível derrocada do presidente da Casa por envolvimento na Lava Jato. Dilma já dedica atenção pessoal a Picciani, graças à intermediação do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB).
Eunício Oliveira
(PMDB-CE)
Ao lado de Renan, o líder da bancada do PMDB no Senado é visto como chave para debelar rebeliões na Casa. Ao contrário da maioria dos peemedebistas, Oliveira já construiu pontes com o Planalto. O genro do senador, Ricardo Fenelon Junior, acaba de ser nomeado diretor da Agência Nacional de Avião Civil (Anac).
Ricardo Barros (PP-PR)
O PP tem a quarta maior bancada da Câmara, com 39 parlamentares, e costuma influenciar os demais partidos médios, como o PR (34 parlamentares). Como o líder da legenda, Eduardo da Fonte (PP-PE), é um dos investigados na Lava Jato, cresceu a importância de Ricardo Barros. O paranaense é vice-líder do governo e, na semana passada, atuou para impedir que a sigla rompesse com o Planalto.
Jovair Arantes (PTB-GO)
Reconquistar o PTB e o PDT, que romperam com o governo na semana passada, está na pauta da articulação política do governo. Até agora, os dois partidos, que juntos têm 44 deputados, são vistos como um caso de “rebeldia temporária”. Ambos não deixaram os ministérios que controlam (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; e do Trabalho, respectivamente).
O “amigo” mais desejado é o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Apesar de ter ido contra o governo em diversas votações no primeiro semestre – em especial, nas pautas relacionadas ao ajuste econômico –, Renan é visto como único capaz de agir como antagonista do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que rompeu declaradamente com o Planalto há três semanas.
As pontes com o alagoano são fundamentais para manter algum controle sobre um eventual processo de impeachment e também sobre o julgamento das contas de Dilma.
Renan, em parceria com o ex-presidente José Sarney, teria o trânsito que falta ao governo no Tribunal de Contas da União para evitar a rejeição das contas de 2014, alvo de polêmica sobre as “pedaladas fiscais” (maquiagem contábil para fechar o balanço anual do governo dentro da lei orçamentária). Além disso, no caso de abertura de processo de impeachment pela Câmara, será o Senado quem vai julgar Dilma.
Um dos instrumentos para agraciar o senador seria o estreitamento da parceria da gestão Dilma com Renan Filho (PMDB), governador de Alagoas. Além do “tubarão” Renan, outros dois “peixes grandes” estão na lista do governo – os líderes do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), e na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). O primeiro teve o genro, o advogado Ricardo Fenelon Junior, 28 anos, recém-nomeado para a diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Já Picciani, escudeiro de Cunha na Câmara, abriu um canal de diálogo com Dilma a partir do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB).
O Planalto luta ainda para manter na base partidos médios como o PP (5 senadores e 39 deputados) e recuperar outros que romperam com o governo, como o PTB (3 senadores e 25 deputados) e o PDT (6 senadores e 19 deputados).
“A iniciativa de conversar é boa, mas quem garante que a coisa vai além da conversa?”, questiona o deputado paranaense Alex Canziani (PTB).
Vice-líder do governo ao longo da primeira gestão Dilma, o petebista diz que o Planalto passa por uma crise de “liderança”. “Os líderes do PT não têm mais credibilidade exatamente porque não tem autonomia para entregar nada.”
Presidente do PT no Paraná, o deputado Enio Verri diz que os petistas perderam espaço na defesa dos interesses do governo porque foram encurralados pelo presidente da Câmara. “É uma situação muito difícil. Tanto que a maioria da bancada preferiu encarar a briga nas bases do que no plenário”, diz Verri.
Atual vice-líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) conta que já foram três reuniões sem respostas efetivas de Dilma. “Acho que ela ainda não foi convencida de que precisa mexer no governo – e muito”, diz.
A principal alteração, segundo Barros, é dar mais autonomia aos partidos que comandam os ministérios, ou seja, retomar a política de “porteiras fechadas”.
“Não adianta nada um partido ter ministro se não puder implantar seu programa partidário no ministério”, diz. Para Barros, porém, a situação é cada vez mais complicada para Dilma. “O governo precisa se dar conta de que a sua principal moeda para a formação das coalizões, que são os cargos, está ficando podre. Quando os líderes rejeitarem postos porque não vale a pena o desgaste de integrar o governo, não tem mais como negociar.”
Renan não considera impeachment como prioritário
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) disse nesta segunda-feira (10) que não trata como pauta prioritária um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“As pessoas perguntam sobre impedimento, perguntam sobre apreciação de contas dos governos anteriores e deste governo. E tenho dito que isso não é prioridade. Na medida em que o Congresso tornar isso prioritário, nós estaremos pondo fogo no Brasil. Não é isso que a sociedade quer de nós”, afirmou Renan.
Na última quinta-feira (6), o plenário da Câmara dos Deputados aprovou contas de parte dos mandatos de Itamar Franco (1992-1994), de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).
As contas foram colocadas em pauta pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A ação foi vista como uma “limpeza” do caminho para a avaliação das contas da presidente Dilma relativas a 2014.
A rejeição das contas de Dilma pelo Tribunal de Contas da União é um dos cenários que podem desencadear um processo de impeachment.
Janot
O presidente do Senado afirmou que a recondução de Rodrigo Janot para a chefia da Procuradoria-Geral da República deve ser analisada com celeridade pela Casa.
“Como já dissemos, tão logo chegue no Senado a indicação, mandaríamos para CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Conversarei com líderes para apreciarmos no mesmo dia que o indicado for sabatinado na CCJ”, disse.
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