
A votação que definiu o andamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara Federal fez com que a sociedade “conhecesse” boa parte dos parlamentares da Casa. Dos 513 deputados, poucos podem ser considerados rostos familiares da população, já que os holofotes geralmente se voltam a líderes partidários e titulares de comissões importantes.
Em meio a votação do impeachment, um a um, surgiram figuras que fazem parte do “baixo clero” da Câmara. Muitas foram as manifestações de surpresa na internet ao conhecer alguns parlamentares, como o deputado Sergio Reis (PRB-SP), por exemplo. Mais popular como cantor sertanejo, ele é titular de apenas uma das comissões da Casa: a que trata de fontes de recursos para incentivo à cultura.
Reis é um dos representantes dessa ala da Casa, que pode parecer inexpressiva, mas ganhou contornos de importância em votações decisivas. Entre elas estão o próprio impeachment e a eleição do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no início de 2015. “A política abandonou o ‘baixo clero’, permitindo que eles se organizassem em torno de outras lideranças, a mais expressiva foi Eduardo Cunha”, diz o cientista político Murillo de Aragão.
Os deputados inexpressivos sempre somaram maioria na Casa, explica Aragão, mas, como seguiam caminho traçado por seus líderes – a maioria, até então, governistas –, não representavam maiores problemas na relação do Planalto com o Congresso. Porém, com a própria “desconstrução” dos líderes, houve um clima de revolta que levou grande parte dos parlamentares a se voltar contra o governo.
“O baixo clero ganhou importância e evidência [com a votação do impeachment], tanto que o governo teve de lutar voto a voto, o que não é comum de se ver no Congresso. Alguns líderes que tentaram fechar com o governo acabaram até desautorizados pelos deputados”, afirma o cientista político da UnB Leonardo Barreto. “Ao negociar no varejo, o governo colocou muita gente do baixo no alto clero.”
Para o especialista, porém, a própria caracterização do baixo clero vem perdendo força desde as últimas eleições, quando houve grande fragmentação dos partidos no Congresso e maior índice de infidelidade. “A grande diferença entre alto e baixo clero é que uma ala influenciava e outra era influenciada, mas isso foi desconstruído, justamente pelo governo ter montado um bloco muito heterogêneo de lideranças”, avalia.
No Senado
Barreto aponta que o esteriótipo dos representantes do baixo clero também poderá ser visto na votação do impeachment no Senado, mas em menor escala. “Na Casa, como se trata de uma eleição majoritária, a maioria é de ‘campeões de votos’, a régua da seleção é muito maior”, diz.
Ele afirma, porém, que alguns suplentes – pouco conhecidos – passarão a mesma imagem de surpresa ao eleitor durante as votações. Um deles é Donizeti Nogueira (PT-TO), que ocupa a cadeira da ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB-TO).



