
Embora a Odebrecht venha negando participação no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato, documentos e depoimentos reforçam a suspeita de que a cúpula da construtora, que é a maior empreiteira do país, sabia e participava dos desvios na estatal de petróleo. E-mail enviado em outubro de 2007 pelo executivo da Odebrecht Rogério Araújo, preso desde sexta-feira (19 ), para outros quatro executivos fala em “arranjo” em um projeto da Petrobras de interesse da construtora e do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), também investigado por participar do esquema.
O e-mail diz: “Petrobras/PR vai conversar com o Governador sobre este novo arranjo com a participação da CNO [Construtora Norberto Odebrecht] (é importante o Sérgio Cabral ratificar! e também definir o seu interlocutor neste assunto que atualmente junto à Petrobras e Mitigue é o Eduardo Eugenio).”
No e-mail que cita Cabral, o executivo da Odebrecht trata de uma obra no âmbito do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Ele divide a mensagem em três tópicos. O primeiro menciona o executivo Julio Camargo, apontado pela PF como lobista de multinacionais e operador de pagamentos a ex-dirigentes da Petrobras. A PF suspeita que Araújo estaria se referindo ao empreendimento Unidades de Geração de Vapor e Energia, Tratamento de Água e Efluentes do Comperj. no qual a estatal petrolífera contratou consórcio formado pela Odebrecht, Toyo e UTC.
A PF destaca a ‘orientação’ que a Petrobras teria dado a Julio Camargo e ao empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, para que a parceria com a Odebrecht se concretizasse.
Em comunicado publicado nesta segunda-feira (22), nos principais jornais do país, a Odebrecht nega ter participado de qualquer cartel na Petrobras. “Não há cartel num processo de contratação inteiramente controlado pelos contratantes, como ocorre com a Petrobras, onde a mesma sempre definiu seus próprios orçamentos e critérios de avaliação técnico-financeiro e de performance.”
O ex-governador Sérgio Cabral negou que tenha agido para incluir a Odebrecht no consórcio que fechou contrato de R$ 11,5 bilhões com o Comperj, em Itaboraí, cidade na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Carregador de malas
Além do e-mail, o ex-vice-presidente da Braskem e atual presidente institucional da Odebrecht Alexandrino Alencar afirmou em depoimento à Polícia Federal, em 12 de maio, que recebeu “em quatro ou cinco oportunidades” Rafael Ângulo Lopez, apontado pela força-tarefa da Operação Lava Jato como carregador de malas de dinheiro do doleiro Alberto Youssef, que lavava o dinheiro do esquema.
Alexandrino Alencar, que também foi preso na sexta-feira, contou que se reuniu em pelo menos duas ocasiões em hotéis de São Paulo com o ex-deputado José Janene (PP-PR) – morto em 2010 –, e com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Segundo o executivo, também participaram dos encontros o doleiro Youssef e o ex-assessor parlamentar José Cláudio Genu, homem de confiança de Janene no Congresso.
Janene é apontado como o mentor do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro desviado da Petrobras, que deu origem à Operação Lava Jato. Com sua morte, Youssef assumiu o comando do esquema. Alexandrino Alencar disse que “conheceu a pessoa de Rafael Ângulo Lopez, o qual se tratava de um assessor/mensageiro do deputado Janene”.



