Apoio do PV não será garantia de transferência de votos
A esperada disputa polarizada entre PT e PSDB rachou ao meio graças a Marina Silva (PV). Com quase 20 milhões de votos, a candidata agora ameaça ser o fiel da balança no segundo turno. Tanto que o apoio "verde" já desperta declaradamente a cobiça de Dilma Rousseff e José Serra.
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Serra deve ter aliados mais empenhados
Escondido por colegas de partido nas eleições regionais durante o primeiro turno, José Serra deverá ter aliados mais empenhados por sua candidatura nesta segunda etapa da corrida presidencial, segundo avaliação de analistas políticos. A definição da disputa a favor dos tucanos em estados importantes Minas Gerais e São Paulo, os dois maiores colégios eleitorais do país, ficaram nas mãos do PSDB deixa os principais nomes do partido livres para colocar suas tropas para trabalhar pela eleição de Serra.
A cultura dos brasileiros de tentar levar as eleições sempre para o segundo turno, o escândalo envolvendo a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra suposto tráfico de influência no governo federal e a postura da candidata Dilma Rousseff (PT) em relação a questões polêmicas, como o aborto, explicam porque a petista não levou o pleito no primeiro turno, segundo cientistas políticos ouvidos pela reportagem. Para o segundo turno, dizem os especialistas, Dilma Rousseff é a grande favorita, mas terá de mexer no discurso.
"Surpresa seria uma vitória no primeiro turno. Fora a eleição do [Fernando Henrique Cardoso] FHC, todas tiveram segundo turno", diz o cientista político Malco Camargos, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUCMG). "O brasileiro não gosta de dar vitória no primeiro turno para ninguém. Nem o Lula levou. O único que venceu no primeiro turno foi o FHC. Houve uma campanha pesada contra Dilma, com uma reação de valores conservadores e religiosos", avalia o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB).
Para o cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), o escândalo foi o que mais pesou. "O fator principal foi o escândalo Erenice. Afinal de contas é muito complicado para ela dizer que a sua principal auxiliar mantinha uma rede nepotista no governo. E uma rede profundamente corrupta."
Além do escândalo Erenice e de questões de fundo moral, para o cientista político, coautor do livro Sistema político brasileiro uma introdução, Antônio Octávio Cintra, a história política da candidata também influenciou. "Ela era uma candidata que não existia politicamente. Começou com o apoio do Lula. A Dilma se domou, mas para muita gente ela passa a imagem de falsa, de criada. Para muitos ela desempenha esse papel e isso pesou nesta reta final", diz.
Para o segundo turno, de acordo com os especialistas, Dilma é a grande favorita, já que a velha máxima de que "começa uma nova eleição" não passa, segundo eles, de uma falácia. "Ela parte na frente. Não é verdade que no segundo turno zera tudo. Essa eleição começou faz quatro anos. Ela tem um governo altamente avaliado por trás. O Serra terá dificuldade", afirma Camargos.
O cientista político da UnB Paulo Kramer concorda. "Em termos de estratégia, tem que ser destacado que na história das eleições brasileiras desde 1989, o primeiro colocado no primeiro turno sempre venceu o segundo. Aquele velho ditado de que segundo turno é uma nova eleição não vale muito para a disputa presidencial."
Segundo Barreto, mesmo com o favoritismo ao seu lado, Dilma terá que trabalhar bastante no segundo turno. "Ela é favorita ainda, mas vai ter de mexer na estratégia: lidar com o caso Erenice, falar muito de Lula, de Deus e religião e tentar assumir uma pauta ambiental".
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