
No início de setembro, faltando pouco mais de um mês para as eleições, pelo menos metade dos candidatos a deputado estadual e federal no Paraná não tinha declarado nenhum gasto relativo a eleição. De acordo com a última prestação de contas divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cerca de 54% dos candidatos ao Legislativo no estado estavam com as contas de campanha zeradas. Neste ano, são quase 1,2 mil concorrentes para 84 vagas, mas poucas candidaturas ganham força e visibilidade.
Uma das explicações é que os partidos buscam indicar o maior número de candidatos possível para angariar mais votos de legenda e assim, obter cadeiras na Câmara ou na Assembleia Legislativa. Para compor as chapas gigantes, os grupos chamam candidatos de "última hora", apenas para preencher as vagas.
Alguns partidos possuem um nome de maior expressão que "puxa" votos e acaba registrando muitos candidatos para garantir a candidatura deste líder, levando em conta o quociente eleitoral. Vários postulantes explicam que concorrem como forma de "ajudar os amigos". A reportagem da Gazeta do Povo conversou com diversos destes candidatos que, embora estejam aptos para concorrer, não buscam votos.
As "pseudo-candidaturas" não são ilegais, mas enfraquecem o processo de escolha de representantes porque os partidos têm como prioridade alcançar cargos. O cientista político Mario Sergio Lepre critica a estratégia e diz que há dificuldade de se trabalhar em para o coletivo. "No Brasil existe baixa representatividade autêntica. Muitas vezes a pessoa se candidata para satisfazer interesses individuais ou de um pequeno grupo, ou pode ser amigo de alguém e entrar", afirma.
Muitos dos pseudo-candidatos foram convencidos por um líder do partido sobre sua importância para a legenda ou sobre os benefícios futuros que sua candidatura poderá ter. Em geral, são pessoas com poucos recursos, que desconhecem o programa do partido e foram filiados um ano antes das eleições, prazo máximo imposto pelo TSE.
Um dos casos mais emblemáticos é o de Davane Souza. Ela chegou a se filiar e participar de uma reunião para ser candidata pelo PSDC, mas acabou desistindo da candidatura. "Falaram que era para concentrar os esforços em três candidatos com chances de serem eleitos e que só seria eleito quem tivesse uma carreira política. Preferi não gastar meu tempo e me desgastar para conseguir votos para uma pessoa que eu nem conheço", reclama.
A principal queixa destes candidatos é em relação à falta de recursos. Marizan Miranda de Oliveira (PEN) conta que teve seu nome colocado na disputa e acredita que tem poucas chances de vencer devido à falta de verbas. "Tenho feito campanha de porta em porta. Recebi só santinhos e perfurados do partido", relata.
Um dos líderes do PSDC, o vereador de Curitiba e candidato a deputado estadual José Carlos Chicarelli, explica que existe uma busca por lideranças que possam ter potencial de angariar um grande número de votos. Ele admite que muitos nomes convidados não terão possibilidades de vencer e não têm auxílio financeiro, mas acredita que ainda assim eles podem ter benefícios futuros. "Ao ingressar no time, ele pode ter algum benefício, como compor a equipe do vereador ou deputado eleito ou conseguir vagas nos gabinetes, além do próprio crescimento pessoal", explica Chicarelli.



