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pesquisa tecnológica

Nesta terra, em se inovando, tudo dá

Especialistas dizem que o apoio governamental para que empresários invistam em inovação e tecnologia é fundamental para garantir o desenvolvimento socieconômico mais robusto

Evelize e Ivo Machado, da Natuphitus: “O cosmético é, em grande parte, como a informática. Sempre há novos lançamentos e as empresas, para se manterem, precisam, em algum momento, estar à frente das outras” |
Evelize e Ivo Machado, da Natuphitus: “O cosmético é, em grande parte, como a informática. Sempre há novos lançamentos e as empresas, para se manterem, precisam, em algum momento, estar à frente das outras” (Foto: )

Evelize Rocha Machado apenas comprava e revendia cosméticos quando o congelamento de preços do Plano Cruzado, de 1986, levou à falência a distribuidora da qual ela adquiria os produtos. Fez contato com os fornecedores e abriu a própria distribuidora, contratando três pessoas. Hoje tem 40 funcionários, atende a todo o Brasil e exporta para Portugal. Entre uma coisa e outra há a história de uma pequena empresa que sempre acompanhou a evolução do mercado pelas próprias pernas e que hoje poderia dar grandes saltos se houvesse maior apoio governamental para a inovação tecnológica.

Aos 61 anos, Evelize divide o comando da Natuphitus Cosmética com o marido, Ivo Machado, 67, os filhos Elizandra, 39, Alexandre, 36, Rodrigo, 31, e o genro André Schütze, 40. A família forma a diretoria da empresa. Em 1986, Evelize ainda trabalhava sozinha, e o conceito de inovação era incipiente no Brasil. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior tinha apenas um ano de existência. Em 1987, o Paraná criou uma secretaria extraordinária para esse fim. Dois anos depois, a Constituição Estadual assegurou recursos para o fomento à pesquisa científica e tecnológica – o que só foi regulamentado em 1998, com a criação da Fundação Araucária. Além disso, o artigo 202 da Carta paranaense estabelecia que a pesquisa deveria se voltar, "preponderantemente, para a elevação dos níveis de vida da população paranaense, através do fortalecimento e da constante modernização do sistema produtivo estadual".

Evelize não tinha nenhum apoio para modernização, pesquisa ou desenvolvimento. Mas encarou o desafio. Por sua distribuidora, a Corebras, não conseguia garantir a qualidade dos cosméticos que revendia. Daí veio a decisão de fazer os produtos em uma fábrica própria, com a marca Natuphitus, inaugurada em 1993, em parceria com o marido, que deixou o trabalho anterior.

"O cosmético é, em grande parte, como a informática. Sempre há novos lançamentos e as empresas, para se manterem, precisam, em algum momento, estar à frente dos outros", pondera Evelize. Para a Natuphitus, o pulo do gato foi em 2004, com o lançamento da manteiga de cacau em roll-on.

Atualmente, para desenvolver um produto inovador, a empresa participa da seleção de um edital lançado pelo Sistema Indústria Senai/Sesi. Para Elizandra, o ideal seria ter o apoio de uma universidade, para estudar a melhor forma de se chegar ao objetivo proposto. "Se há matéria-prima disponível na China, por exemplo, poderíamos estudar uma maneira de tornar o produto 100% paranaense, para não depender de fornecedor e importação."

Conhecimento

Segundo Ruy Quadros, professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, há diversos benefícios quando empresas e universidades se unem. Ele cita um projeto de pesquisa pré-competitiva em curso em São Paulo, envolvendo multinacionais como montadoras, Petrobras, as instituições de ensino e a fundação de amparo à pesquisa local (Fapesp). "Agrega muito conhecimento, há muitas teses envolvidas, e todas as empresas envolvidas vão se apropriar desse conhecimento para desenvolverem seus produtos."

Em projetos assim, diz ele, a Fapesp investe de 30% a 70% do valor do projeto, dependendo do interesse público. E, na maioria dos casos, há uma justificativa importante para o poder público investir recursos. "Há cada vez mais evidências de que não há desenvolvimento socioeconômico significativo sem um retrospecto favorável de desenvolvimento em ciência, tecnologia e inovação", observa a economista Elisa Maria Pinto da Rocha, pesquisadora e professora da Fundação João Pinheiro.

Universidades são ativo estratégico

Apesar do impacto negativo que as universidades estaduais possam causar às finanças estaduais, principalmente por causa da folha de pagamento, abrir mão delas seria um grande retrocesso. "São Paulo teve essa visão estratégica. Quando investiu em universidades estaduais já era um estado rico, mas havia uma visão de que era preciso reforçar o adensamento da pesquisa", diz Ruy Quadros, da Unicamp.

Quadros pondera que as empresas se instalam nas imediações de universidades, não apenas buscando parcerias e acesso a laboratórios e equipamentos, mas também para usufruir da mão de obra qualificada. "A infraestrutura tecnológica é fundamental na atração do melhor tipo de investimento, que desenvolve produtos e inovações", avalia. "Se o estado que já vem fazendo esforço em manter essa estrutura andar para trás, estará abrindo mão de um ativo fundamental."

Estratégias

Alocação de mais recursos públicos por meio de fundações de amparo à pesquisa – no caso do Paraná, a Fundação Araucária –, fundos setoriais que realmente funcionem, e sinergia entre vários órgãos e instituições. Segundo a economista Elisa Maria Pinto da Rocha, da Fundação João Pinheiro, essas são as ferramentas que estão à mão dos governos estaduais para fortalecer o desenvolvimento científico e tecnológico regional.

"A sinergia entre os órgãos já poderia contribuir bastante para um ambiente mais favorável à inovação, independentemente da alocação direta de recursos pelos fundos ou fundação de amparo", observa Elisa. Segundo ela, é preciso uma atuação conjunta das universidades, empresas com potencial inovador e órgãos de financiamento, como o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).

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