
Em depoimento a senadores, a presidente da Petrobras, Graça Foster, classificou como um "grande constrangimento" a prisão de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da empresa, investigado pela Polícia Federal (PF) na Operação Lava Jato. O "grande constrangimento" de Graça corresponde a um sinal amarelo aceso na estatal e no Palácio do Planalto em ano eleitoral.
INFOGRÁFICO: Confira as denúncias e os personagens envolvidos nos escândalos da Petrobrás
A série de dúvidas levantadas contra a empresa já faz estragos na imagem de Dilma Rousseff. Pesquisa Datafolha divulgada na primeira semana de abril mostrava que 78% dos brasileiros acreditavam haver corrupção na Petrobras. Pesquisa Ibope divulgada quinta-feira revela que Dilma caiu de 40% para 37%* das intenções de voto. A pesquisa foi realizada entre 10 e 14 de abril, quando o noticiário sobre a Petrobras e a Operação Lava Jato já fervia. A disputa pela Petrobras, na prática, tem sido uma prévia do processo eleitoral, uma etapa da eleição antes da Copa do Mundo.
Os vários poréns da Petrobras, da compra de Pasadena à Operação Lava Jato, são vistos pela oposição como uma arma única para balançar a atual gestão e para fazer a candidata Dilma perder pontos. Se não é a "bala de prata", capaz de aniquilar a reeleição de Dilma, é ao menos capaz de fazer Dilma sangrar até outubro. Para isso, no entanto, governo e oposição duelam pela abrangência de uma CPI criada no Congresso. A oposição quer investigar exclusivamente a estatal. O governo quer incluir a investigação do metrô de São Paulo e do Porto de Suape, em Pernambuco, para que haja artilharia a ser disparada contra os tucanos em São Paulo e contra o governo de Eduardo Campos (PSB).
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), adiou a decisão sobre o assunto. Calheiros disse que a votação deverá ocorrer somente após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o assunto. "É mais prudente assim", afirmou.
A disputa entre governo e oposição atravessou a Praça dos Três Poderes e chegou ao STF. Caberá à ministra Rosa Weber apreciar dois mandados de segurança impetrados para definir, afinal, qual será o foco da CPI.
Histórico
A utilização da Petrobras como elemento eleitoral não é uma novidade. Nas últimas eleições, o PT acuou o PSDB afirmando que o partido, à época do presidente Fernando Henrique Cardoso, queria mudar o nome da estatal para Petrobrax e privatizá-la.
Agora, o ataque vem do outro lado. "Nas últimas eleições, acusavam a nós do PSDB, do Democratas, de querermos privatizar as empresas públicas. Diziam que íamos privatizar a Petrobras. O que eu quero é reestatizar a Petrobras, tirá-la das mãos de um partido político que a ocupou para fazer negócios e entregá-la novamente aos interesses maiores da população brasileira", disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato do PSDB à presidência.
O PT, por enquanto na defensiva, tem afirmado que as denúncias contra a estatal estão sendo investigadas pela Polícia Federal e por órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria Geral da União (CGU). Uma CPI, para os petistas, não seria nada além de uma atitude eleitoreira.
"O foco era para levar isso [CPI da Petrobras] para fazer um palanque para servir de debate no período eleitoral. Se é para fazer uma discussão política, e aí o Congresso é legítimo para isso, uma CPI tem legitimidade para fazer uma investigação política, então vamos fazer de todos os casos que têm impacto no Brasil e que têm recursos federais envolvidos", declarou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), em entrevista ao portal UOL e à Folha de S.Paulo.
A CPI ainda nem saiu do papel, mas a batalha política na Petrobras trouxe a eleição para abril.
Colaborou Lucas de Vitta, especial para a Gazeta do Povo
* Pesquisa Ibope feita entre os dias 10 e 14 de abril com 2.002 eleitores. Margem de erro de 2 pontos porcentuais. Registro BR00078/2014.



