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apuração criminal

Inovadora nos métodos de investigação, Lava Jato se mete em polêmica com grampos

Gravações telefônicas haviam sido pouco utilizadas na operação. Escutas têm histórico de questionamentos

Gravações de conversas por celular, e divulgação dos áudios, é alvo de questionamentos à Lava jato. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Gravações de conversas por celular, e divulgação dos áudios, é alvo de questionamentos à Lava jato. (Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

A Operação Lava Jato, que se destacou justamente pelas inovações no que se refere a investigações criminais, voltou às origens nas últimas semanas ao utilizar o velho artifício das escutas telefônicas como método de investigação. O grampo telefônico até então havia sido pouco utilizado nas investigações da maior operação contra a corrupção do país.

A divulgação das escutas telefônicas do ex-presidente Lula levantou uma série de polêmicas. “A divulgação desses áudios foi porque o processo não tinha mais a necessidade de ter sigilo”, diz o professor adjunto de direito da PUCPR Sólon Linhares. “Não tem relevância jurídica a ponto de cogitar qualquer vício penal. A força-tarefa está agindo com os instrumentos que possuiu, que são muito poucos.”

Ouça todas as gravações de Lula realizadas pela PF

Durante palestra realizada na quinta-feira (17), o juiz Sergio Moro minimizou a importância das interceptações para as investigações. “A prova de interceptação, seja telemática ou prova telefônica, não foi a rainha das provas nesse caso, embora tenha tido um papel relevante”, disse o juiz.

Essa foi a primeira vez que os áudios de interceptações da Lava Jato vieram a público. Em outros casos, normalmente, estavam disponíveis no processo apenas transcrições, e não a íntegra das escutas.

Grampos só no início

A operação começou como uma investigação de um grupo de doleiros que atuava no país. Escutas telefônicas e quebras de sigilo foram responsáveis por trazer ao centro das investigações os doleiros Nelma Kodama, Carlos Habib Chater, Alberto Youssef e Raul Srour – somente este último não está preso e condenado na Lava Jato.

Depois de descobertos os núcleos de doleiros, os métodos que levaram ao fio da meada da corrupção na Petrobras são considerados inovadores por operadores do Direito. O uso das colaborações premiadas se destacou, assim com as quebras de sigilo bancário e fiscal, por exemplo, que foram amplamente usados como prova.

“O principal legado da Lava Jato é a aplicação definitiva da Lei 12.850, que normatizou com limites claros a investigação criminal no que diz respeito as quebras de sigilo, interceptações telefônicas, escutas ambientais e trouxe mais concretamente para o processo penal a situação dos agentes infiltrados, da ação controlada e da colaboração premiada”, opina o advogado Marlus Oliveira.

Nulidades

O uso de interceptações telefônicas em investigações criminais não é uma novidade. As polêmicas em torno do método também não. No ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou um recurso da Procuradoria-Geral da República que tentava validar provas da Operação Castelo de Areia, deflagrada em 2009. Durante as investigações, a PF apurou o envolvimento de doleiros e da construtora Camargo Corrêa em desvio de dinheiro de obras públicas. Em abril de 2011, o STJ havia considerado ilegais as provas produzidas a partir de interceptações telefônicas na operação da Polícia Federal.

Em 2012, o Tribunal Regional Federal da 1.ª Região declarou nulas interceptações telefônicas realizadas na Operação Trem Pagador, que investigava desvios de recursos públicos na construção da Ferrovia Norte-Sul

O professor de direito Sólon Linhares diz que não é possível prever se as provas da Lava Jato podem ser anuladas pela Justiça. “O papel dos advogados é tentar”, diz. “Todo o procedimento investigatório feito pela Polícia Federal foi dentro da legalidade, com todos os cuidados possíveis para evitar esse tipo de situação.”

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