A mudança de discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), começou a ser ensaiada na semana passada, quando o Palácio do Planalto recebeu uma pesquisa mostrando os efeitos da crise política sobre o governo. A consulta revelou que a blindagem de Sarney não era bem assimilada pela opinião pública e, pior, estava "pegando mal" tanto para Lula como para a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência, em 2010.
Convencido de que a situação do aliado está cada vez mais difícil, Lula pretende ter uma conversa com ele na segunda-feira (3) apesar de negar publicamente o encontro. Sarney está deprimido com a avalanche de denúncias que também atingem sua família e disse ao presidente, por telefone, que a saída política para pôr fim à guerra no Senado pode ser a renúncia. "Eu estou vivendo um calvário, um inferno astral", afirmou Sarney a dois interlocutores que estiveram com ele nos últimos dias, um do PT e outro do PSDB.
Lula não deseja a saída do presidente do Senado, mas analisará com ele a conveniência de sua continuidade à frente do cargo. Porém, ele não planeja pedir a Sarney que resista à pressão. Na sua avaliação, só o peemedebista pode saber se tem condições de suportar o bombardeio dos adversários.
"Não é problema meu"
Depois das sucessivas declarações de apoio a Sarney, o presidente Lula deixou claro na quinta-feira (30) que não está mais disposto a sair publicamente em defesa do peemedebista. Lula, que há apenas alguns dias falava em respeito à "biografia" de acusados e afirmava que nem tudo pode ser tratado como "crime de morte", dessa vez declarou que a permanência de Sarney no cargo é um problema que cabe exclusivamente ao Senado.
"Não é problema meu. Não votei no presidente Sarney para ser presidente do Senado. Nem votei nele para ser senador no Maranhão", disse Lula, que se atrapalhou ao citar o Estado representado pelo peemedebista na Casa - Sarney foi eleito pelo Amapá. "Não votei no Arthur Virgílio, não votei em ninguém. Eu votei nos senadores de São Paulo. Então, quem tem que decidir se o presidente Sarney tem de ficar na presidência do Senado é o Senado, não eu", concluiu.
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