Em depoimento ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o auditor fiscal preso Luiz Antônio de Souza disse que funcionários da Receita Estadual do Paraná repassariam periodicamente dinheiro obtido com propina para uma entidade representativa da categoria. Segundo o delator, no período eleitoral, a entidade teria devolvido o montante para os servidores do Fisco promoverem doações legais para a campanha de reeleição do governador Beto Richa (PSDB), em 2014.
O teor do depoimento, feito no acordo de delação premiada firmado com o Gaeco, foi informado à reportagem pelo advogado de Souza, Eduardo Duarte Ferreira . O nome da entidade representativa de auditores estaduais não foi revelado.
A lei eleitoral proíbe que entidades representativas doem a campanhas, mas permite que pessoas possam doar a candidatos.
Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou recentemente que auditores fiscais doaram cerca de R$ 1 milhão à campanha de reeleição de Richa e a outros 25 aliados do governador no ano passado. Segundo a reportagem, dos 933 auditores, 291 contribuíram com o caixa eleitoral do governador e de aliados. Todas as doações foram registradas legalmente pela Justiça Eleitoral.
Apesar disso, a suposta triangulação para financiar a reeleição de Richa está sendo apurada pelo Gaeco. Reforçam essa suspeita dois pedaços de papel apreendidos na casa do ex-inspetor-geral de fiscalização Márcio de Albuquerque Lima, que está preso. Um dos papéis tem números de contas bancárias que seriam da campanha de Richa.
“Essa apreensão de documento [as tirinhas] se coaduna com os demais elementos de prova já colhidos pelo Ministério Público, sobretudo a partir das declarações do delator [Souza]. Mas não quero fazer juízo de valoração sobre isso agora”, diz o promotor do Gaeco Renato Lima Castro.
Outro lado
O advogado de Márcio de Albuquerque Lima, Douglas Maranhão, afirmou que não comentaria o assunto porque precisa se “inteirar do que foi apreendido”.
Por meio de nota, o PSDB ressaltou “que todas as doações feitas para a campanha de reeleição de Richa foram voluntárias e declaradas à Justiça Eleitoral, que aprovou a prestação de contas”. O texto afirma ainda que o partido “desconhece qualquer doação que, antes de ser depositada na conta bancária da campanha, pudesse ter passado por ‘uma associação’”.
Apesar de o nome da entidade representativa dos auditores não ter sido divulgado, a reportagem procurou o Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita do Paraná (Sindafep) e a Associação dos Funcionários Fiscais do Paraná/Regional Londrina (Affep). Mas não conseguiu contato.



