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Adolfo Sachsida

Adolfo Sachsida

Inteligência artificial

Desta vez é diferente: a revolução tecnológica que muda tudo

A IA promete prosperidade, mas o choque será duro: empregos em risco, desigualdade e o passado já não serve como guia nesta nova revolução. (Foto: Imagem criada utilizando OpenAI/Gazeta do Povo)

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A melhor forma de se preparar para a próxima guerra costuma ser estudar os acertos e erros da anterior. Mas essa estratégia falha quando o passado deixa de servir de guia. É o que ocorre agora, diante da Revolução Tecnológica em curso. Usar a experiência das últimas décadas como referência pode nos levar a conclusões perigosamente equivocadas.

Desde os anos 1970, cada nova onda tecnológica foi acompanhada por previsões catastróficas — computadores, internet, robôs — que nunca se concretizaram. Essa sequência de “falsos alarmes” gerou uma perigosa sensação de segurança. Só que, desta vez, é diferente.

A inteligência artificial (IA) não é apenas mais uma inovação; ela combina armazenamento massivo de dados, aprendizado de máquina, reconhecimento de imagem e voz, automação e robótica em um salto comparável ao da Revolução Industrial. Seus benefícios de longo prazo serão imensos, mas o custo da transição pode ser devastador.

Entre 1760 e 1850, a Inglaterra quadruplicou seu PIB e aumentou a expectativa de vida, mas à custa de décadas de miséria e desemprego. O paralelo é claro: a IA criará prosperidade, mas exigirá uma dolorosa adaptação. Assim como a máquina a vapor substituiu o músculo humano, a IA começa a substituir o raciocínio humano em tarefas repetitivas, analíticas e até criativas.

A pandemia de 2020 acelerou transformações já em andamento. O trabalho remoto, o comércio online e a digitalização de serviços tornaram-se rotina, enquanto o poder de processamento e o armazenamento de dados avançaram exponencialmente.

A convergência dessas tendências criou um ambiente em que a IA potencializa tudo: drones, veículos autônomos, medicina digital, finanças descentralizadas, ensino virtual e até o jornalismo. Nenhuma profissão está totalmente protegida.

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As revoluções anteriores atingiram primeiro ocupações de rotina; agora, o impacto é transversal. A IA ameaça desde motoristas e atendentes até professores, advogados e programadores

O setor financeiro enfrentará desintermediação com contratos inteligentes; a educação sofrerá com o ensino automatizado e a tradução instantânea; a medicina será redesenhada por diagnósticos e cirurgias assistidas; e o mercado imobiliário se transformará com o avanço do home office.

O problema não é o progresso, mas sua velocidade. Quando milhões perdem o emprego em poucos anos, o tecido social se rompe. E nunca a aceleração foi tão intensa: o ChatGPT, lançado em 2022, transformou o mundo do trabalho em menos de três anos. Os mais afetados serão os profissionais acima de 40 anos, que enfrentam maiores barreiras à requalificação. Sem políticas públicas eficazes, esse choque ampliará desigualdades e tensões sociais.

As revoluções tecnológicas sempre elevaram o padrão de vida, mas exigem planejamento e visão. É urgente modernizar o sistema educacional, promover educação continuada, incentivar pesquisa aplicada e redesenhar programas sociais para um mundo em que o trabalho humano será drasticamente alterado. Nesse contexto, ganha relevância a ideia de uma renda mínima universal — proposta originalmente por Milton Friedman — não como paternalismo, mas como investimento na estabilidade social durante a transição.

A próxima guerra já começou. Não será travada com armas, mas com dados, algoritmos e conhecimento. A vitória caberá a quem compreender que o passado não serve mais de bússola. A Revolução Tecnológica trará prosperidade no longo prazo, mas custará caro no curto prazo. O desafio não é conter o avanço da tecnologia — o que seria inútil —, e sim garantir que ninguém fique para trás no processo.

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