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Poucas situações expõem tão claramente a bolha que domina parte da grande imprensa, dos intelectuais e dos “especialistas” quanto a recente operação policial no Rio de Janeiro. Assim que surgiram as primeiras informações sobre a ação, precipitaram-se críticas à polícia, ao governador e ao suposto “erro” de mais uma intervenção contra o crime organizado.
Por razões difíceis de compreender, essa bolha — o beautiful people — parece ter extrema dificuldade em enxergar a realidade dos fuzis, das granadas e das atrocidades praticadas pelo narcotráfico. Vive-se, para esse grupo, em um mundo invertido: o bandido vira mocinho, e o policial, vilão. Não bastasse isso, alimenta-se a fantasia de que a população pobre apoia os criminosos e vive em harmonia sob o domínio do tráfico. Para essa narrativa, os traficantes seriam quase empreendedores que buscam apenas “paz para trabalhar”, ignorando — ou fingindo não ver — a violência, o medo e os abusos impostos às comunidades.
O cúmulo dessa distorção veio de um grande telejornal, que noticiou que traficantes teriam “retaliado” ao ataque policial fechando vias públicas. A escolha da palavra é reveladora: subentende uma ação legítima, como se bloquear ruas e aterrorizar civis fosse uma resposta aceitável — e não mais um crime brutal contra a população.
Mas a realidade, sempre insistente, resolveu aparecer. Quando alguém finalmente decidiu perguntar ao povo o que ele pensa, o resultado foi cristalino: segundo levantamento da AtlasIntel, 87,6% dos moradores de favelas do Rio aprovaram a operação. O recado é direto: quem vive sob o domínio do tráfico quer se livrar dos traficantes.
Esse apoio massivo representa o verdadeiro tapa na cara do beautiful people. Nada expõe com mais força a distância entre os universos — o da Zona Sul carioca e suas fantasias ideológicas, e o das comunidades que pagam o preço real da violência.
A pesquisa traz outro ponto revelador: quanto mais distante da realidade das favelas, menor o apoio à operação. No Rio de Janeiro, 87,6% dos moradores de favelas aprovaram a ação policial. Já entre quem não vive em favelas, no restante do país, o apoio cai para 51,8% — uma diferença que diz muito sobre quem realmente conhece o peso do domínio do tráfico no cotidiano. A população segue apoiando a polícia, mas a queda mostra o óbvio: quem não vivencia o terror diário tende a ser influenciado pelos discursos produzidos por “especialistas” e veículos que se apresentam como neutros. O problema é que, há tempos, a grande mídia abandonou a imparcialidade para abraçar suas causas e narrativas preferidas — mesmo quando estas colidem frontalmente com a realidade vivida pela população.




