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Adriano Gianturco

Adriano Gianturco

Opressores e oprimidos

A teoria do conflito é a origem do problema — e agora voltou

(Foto: Imagem criada por Whisk IA)

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O governo voltou a apostar na narrativa dos ricos contra os pobres (desta vez com gatinhos e IA), e prontamente eclodiram vários protestos nesse sentido pelo país.

Quando você acha que o funk nasce da repressão da elite contra a favela; quando se pensa que “pichação é arte” porque seria a resposta dos periféricos urbanos contra a burguesia; quando se acredita que o próprio país nasceu vítima do colonialismo e da exploração — e que isso seria uma peculiaridade;

Quando milhões de pessoas acreditam que a ditadura militar foi apoiada pelos Estados Unidos da América; quando, para os alunos de Direito (futuros advogados, juízes e concursados), se repete que “o direito penal brasileiro existe para prender pobre, puta e preto”;

Quando se ensina às crianças que os índios eram “bons selvagens”, que viviam em harmonia com a natureza e que os colonizadores destruíram tudo isso; que as empresas poluem e estão destruindo o planeta; quando se pensa que a economia é um jogo de soma zero;

Quando se acredita que os EUA são o mal e que a China é um anjo; que a desigualdade decorre apenas da escravidão e da exploração; que todos os problemas das mulheres derivam do patriarcado e do machismo; que a moda é fruto dos interesses das multinacionais e que a música é o resultado das majors do setor;

Quando se pensa que todos os problemas de um território derivam do mapa (veja o mapa do IBGE); que “cultura é poder”, “arte é poder”, “comida é poder”, “linguagem é poder”; que “palavras matam”, mas também que “o silêncio é violência”; que “o Brasil é um país racista” em nível estrutural;

Quando se diz que a Inglaterra comercializava com o Brasil “para criar um mercado de consumidores” — com tom ameaçador, como se isso fosse algo ruim!;

Quando um dos mais influentes intelectuais do país afirma que “a ética social e moral dominante é criada pelos brancos para oprimir os próprios negros”; quando se pensa tudo isso, a luta passa a ser a única resposta possível.

Não por acaso, é esse o termo que usam o tempo todo: a “mudança social”, para eles, vem do conflito.

Essas ideias, que hoje muitos repetem de forma simples, foram elaboradas por intelectuais da Escola de Frankfurt, da teoria crítica, da teoria feminista marxista e da teoria do racismo estrutural. Todas elas têm a mesma matriz: o marxismo.

Ninguém nem conhece, por exemplo, a teoria liberal da luta de classes. Ninguém pensa que o verdadeiro conflito seja entre governantes e governados — acham que é entre ricos e pobres.

E vejam: ninguém aqui nega que força, violência, opressão e exploração existam — muito pelo contrário! As teorias do conflito estão na origem da sociologia: grandes autores como Gumplowicz, Marx, Weber, Wright Mills e Dahrendorf focaram nos conflitos sociais (de modo diverso, claro).

Ninguém pensa que o verdadeiro conflito seja entre governantes e governados — acham que é entre ricos e pobres

O ponto é que reduzir tudo a isso, de forma reducionista e monofatorial, como faz o marxismo, é tecnicamente errado. A sociedade é um sistema de interações complexas: há opressão e exploração, assim como há mérito, sorte, acaso; há injustiças, assim como há justiças.

O poder influencia a arte, a cultura, as cidades, as relações entre etnias e gêneros, a economia etc., assim como esses fenômenos também influenciam o poder.

O grande problema é que as teorias do conflito destroem o tecido social de um país, criam fraturas sociais e morais muito profundas, impossibilitam o diálogo — são visões fortes, simplistas e enraizadas nas emoções.

Conciliação e harmonia tornam-se difíceis; ódio, ressentimento e luta imperam. Essa é a situação que estamos vivendo atualmente. E de onde vem tudo isso? Das teorias do conflito.

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