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Nos anos 1950, nos Estados Unidos, alguns jovens costumavam fazer um desafio perigoso: dois carros corriam em direção a um precipício, e o primeiro que pisasse no freio perdia, sendo chamado de “frangote”. Era o “chicken game”. É o jogo que estão jogando Alexandre de Moraes, Donald Trump e Lula: todos dobram a aposta e querem ver quem freia antes. Se estamos acostumados a ter um terremoto político por dia, a semana que passou foi especialmente pródiga neste sentido.
Os protestos da direita contra Lula e Moraes foram um sucesso enorme, com ruas e praças lotadas em várias cidades. Depois de anos apanhando e com manifestações menores, a direita voltou às ruas. A sensação de crescimento deve favorecer as próximas manifestações e o Congresso, obviamente, fareja votos. Os deputados, especialmente os do Centrão (que já estava se dissociando do governo), seguem a direção da maré, e as eleições estão se aproximando.
Na segunda-feira, tivemos a “Vaza Toga 2.0”, uma grande investigação jornalística de Eli Vieira e David Ágape sobre o processo do 8 de janeiro no STF. A reportagem mostra, com provas, que o gabinete de Alexandre de Moraes teria feito investigações e acusações extrapolando sua competência; que, mesmo com pedidos de soltura da PGR, assessores do ministro procuravam publicações políticas nas redes sociais dos detidos e, caso o indiciado tivesse escrito algo contra Lula ou o STF, ficava preso. As reportagens devem ter surpreendido zero pessoas, mas agora há provas. É importante ressaltar que essa investigação foi ofertada a alguns veículos de mídia, que se recusaram a publicá-la – em parte por conivência, em parte por medo. Se o jornalismo se recusa a publicar uma notícia, uma investigação, não temos jornalismo!
Moraes e Lula não vão negociar: preferem levar o país consigo ao precipício em vez de frear
Algumas horas depois da divulgação da Vaza Toga, Moraes decretou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, por ter descumprido medidas cautelares ao fazer uma chamada de vídeo com Nikolas Ferreira durante as manifestações, e porque seu filho Carlos publicou (e depois apagou) uma foto do ex-presidente. Na operação da PF, também foram recolhidos todos os celulares presentes na casa. Bolsonaro ainda foi proibido de receber visitas. Os abusos são vários.
Isso levou à obstrução da direita no Congresso. Os pedidos de impeachment de Moraes, de instalação da CPI do Abuso de Autoridade na Câmara, e de tramitação do projeto de lei da anistia ganham força. Mas, como os deputados temem sofrer retaliações do STF, antes precisam acabar com o foro privilegiado. Davi Alcolumbre continua se recusando a pautar o impeachment; abafa qualquer ação da direita, e depois reclama quando a direita age.
Ao mesmo tempo, o STF está rachado. A maioria dos ministros não assinou a carta de apoio a Moraes depois de ele ter sido sancionado pela Lei Magnitsky; muitos não foram ao jantar oferecido por Lula; há boatos de que Luís Roberto Barroso quer sair, enquanto outras informações de bastidores indicam que a prisão de Bolsonaro dividiu ainda mais a corte e poderá ser revista.
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Por fim, o ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA Mike Benz denunciou interferências da CIA nas eleições brasileiras de 2022. Ainda virão as indiscrições do ex-assessor do TSE Eduardo Tagliaferro. Um terremoto depois do outro.
Moraes não vai recuar. Agora é tarde demais para ele, e ele não tem esse temperamento. Moraes e Lula não vão negociar: preferem levar o país consigo ao precipício em vez de frear; preferem ser tiranos em um paiseco, capachos da China e da Rússia, ao lado de Irã e Venezuela, fazer do Brasil um pária internacional e sempre mais pobre, a perder poder.
Não parece haver saídas possíveis com Moraes no poder – sim, é ele quem está no poder hoje. Ou a elite política abandona o ministro, ou a Lei Magnitsky será aplicada a mais pessoas; ou se diminui a compra de óleo diesel da Rússia, ou haverá mais retaliações americanas; ou se respeita o Estado de Direito, ou caímos na arbitrariedade; ou nos aproximamos da China, ou dos EUA. Ou Moraes ou o Brasil, tertium non datur.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos




