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Adriano Gianturco

Adriano Gianturco

Geopolítica

Estados Unidos, China e Rússia são impérios

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Desfile militar em Pequim, capital da China, em setembro de 2025: país asiático se comporta de forma imperialista. (Foto: Andrés Martínez Casares/EFE/EPA)

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Os Estados Unidos querem controlar a Groenlândia e o Panamá, e já influenciam grande parte do globo. A Rússia quer a Ucrânia, já controla toda a Europa do Leste e está se expandindo na África. A China já tomou Hong Kong, sonha em tomar Taiwan e avança no Mar do Sul da China. A Turquia acabou de controlar a Síria, e expande sua influência na região e também na África. O Irã, herdeiro do império persa, estende seus tentáculos em Gaza e no Iêmen. A França não renuncia ao seu colonialismo na África e em várias ilhas ao redor do mundo. O Reino Unido ainda tem a Commonwealth.

Estamos acostumados a pensar em termos de países e de Estados, mas existem três grandes formas políticas: impérios, cidades-Estado e Estados-nações. Temos impérios antigos (Persa, Romano, egípcio, chinês etc.), impérios modernos (Britânico, espanhol, francês, português, Otomano etc.), e impérios contemporâneos como Estados Unidos, China, Rússia, Irã, Turquia, França e Inglaterra. Olhar esses países dessa forma ajuda a compreender melhor a geopolítica atual.

As polis gregas e as cidades-Estado medievais europeias eram cidades-Estado. Já o Estado-nação (o que hoje chamamos de Estado ou país) é o filho mais novo: nasce apenas em 1648, com o Tratado de Westfália. Os impérios são os mais antigos, sempre existiram.

Os EUA são o império dominante da atualidade, mas em relativo declínio. Turquia e China estão em ascensão, enquanto Rússia e Irã continuam incomodando

Os impérios são militaristas; tendem à expansão territorial; podem agir de forma antieconômica – mantendo uma custosa presença militar no exterior, fazendo protecionismo, bancando organizações internacionais – para ter ganhos geopolíticos; pensam na história e no futuro, e não só na economia e na qualidade de vida. Nós pensamos na economia, tentamos melhorar o bem-estar e aumentar o PIB per capita, trocar de carro ou passar boas férias; para eles, questões muito antigas são ainda vivas, e moldam sua forma de pensar, votar e agir.

Os EUA são o império dominante da atualidade, mas em relativo declínio. Turquia e China estão em ascensão, enquanto Rússia e Irã continuam incomodando. Manter a hegemonia fica sempre mais caro e mais difícil. Os EUA querem liquidar a guerra na Ucrânia para focar seus esforços na China, dividindo russos e chineses. O maior aliado histórico dos norte-americanos, a Europa, não vem ajudando; tornou-se um peso e tem uma agenda global oposta. Os Estados Unidos querem chacoalhá-la e incentivá-la.

Groenlândia e Panamá são estratégicos para os Estados Unidos frearem o avanço da China, para se protegerem militarmente, para controlarem terras raras (junto com as minas na Ucrânia) e nós logísticos portuários estratégicos. Impérios não aceitam outros impérios. Não é coincidência que um líder como Donald Trump surja em um momento como esse, de declínio (relativo) e de desafios existenciais nos EUA.

Todos os impérios passam por fases de ascensão e declínio. Nada é para sempre. Os Estados Unidos não estiveram sempre em posição hegemônica, e não permanecerão nela indefinidamente. A “Primeira Lei de Niall Ferguson” afirma que, quando uma grande potência gasta mais com dívida do que com gasto militar, deixa de ser uma grande potência.

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A China atual é a continuação direta do império mais antigo da história, o da dinastia Han. Xi Jinping lembrou Trump disso em uma visita oficial. Querem voltar ao que eles julgam ser seu lugar normal.

Essa não é uma crítica marxista – nem sequer é uma crítica, é simples ciência política. Toda a história é a história de impérios. Os EUA se baseiam no “excepcionalismo americano” e na teoria do “destino manifesto”, mas todos os impérios que já fracassaram também se acha(va)m excepcionais, escolhidos por Deus, e acredita(va)m ter uma grande missão a cumprir.

Todos eles deixam um legado – a cultura, o direito e os aquedutos romanos, a matemática árabe, as ferrovias e a medicina britânicas etc. Mas o maior legado é deixar o entendimento de como impérios funcionam. Não são ONGs, não são meros Estados-nações; são impérios e se comportam como tais: militarismo e política de potência e expansão.

The empire strikes back: os impérios estão voltando – a bem da verdade, eles nunca foram embora.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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