O relatório Focus do Banco Central, que traz a média da projeção de variáveis econômicas (PIB, IPCA, dólar, etc.) dos analistas do mercado financeiro, apontou um aumento da taxa Selic de 10,5% a.a para 11,25% a.a., ao final de 2024, na sua última edição. O documento só confirmou o que já estava embutido nas taxas dos títulos públicos prefixados, negociados nas tesourarias dos bancos e no Tesouro Direto.
No início deste ano, as projeções de mercado apontavam para uma taxa Selic em 9% a.a. Como tão rapidamente a previsão para a taxa básica de juros piorou tanto? A resposta passa mais pelo governo, e menos pelo Banco Central.
É verdade que o Banco Central é o único responsável pela política monetária do país para controlar a inflação. É ele que coloca e tira dinheiro de circulação, comprando e vendendo títulos públicos, nas operações de “open market”, para alterar a taxa Selic. Porém, a instituição não faz isso sem motivos. Na verdade, o Copom (Comitê de Política Monetária) aumenta a Selic para controlar a inflação.
A inflação é um fenômeno essencialmente monetário. É uma alta generalizada e persistente dos preços, causada pelo excesso de dinheiro acima do que a economia consegue absorver. Quando se imprime dinheiro (Banco Central compra títulos públicos), a taxa de juros cai, e pessoas e empresas tomam mais crédito para consumo e investimento. O aumento do consumo das famílias e dos investimentos das empresas (compra de máquinas) pressiona a demanda agregada do país. Se o país não tiver capacidade de oferta (produção) suficiente para aguentar o excesso de demanda, os preços automaticamente sobem, e o processo inflacionário se materializa.
Apesar do bom trabalho do Banco Central no controle inflacionário no pós-pandemia, a doença está longe de ser curada. Para falar a verdade, a patologia estava controlada, até que, no meio do caminho, apareceu o governo Lula.
Embora o Banco Central tenha tido reconhecimento internacional no combate à inflação, o atual presidente nunca reconheceu isso. Tratava o presidente do Banco Central como se fosse um “moleque” inimigo do Brasil. Foram várias as pressões para Campos Neto e sua equipe baixarem a Selic na canetada, assim como foi feito durante a gestão Dilma Rousseff.
Por sorte, os membros do Copom têm resistido a essa pressão; caso contrário, a inflação poderia ser bem maior.
A piora no cenário inflacionário ocorre principalmente por culpa do governo. A começar pelo excesso de gastos públicos, que pressiona a demanda agregada, e eleva a inflação corrente
Além disso, o elevado déficit fiscal tem outros efeitos, como a piora das expectativas inflacionárias e perda de potência da política monetária.
A piora das expectativas inflacionárias, captada pelas projeções do boletim Focus, ocorre quando as pessoas acreditam que terá mais inflação no futuro. Todo mundo, com receio de mais inflação pela frente, se antecipa, elevando os preços no presente. Por exemplo, se o empresário acredita que seus custos irão aumentar daqui a alguns meses, ele se antecipa, reajustando os preços agora. Em resumo, a piora das expectativas inflacionárias traz riscos para a inflação corrente.
Já a perda de potência da política monetária ocorre quando o Banco Central tem que aumentar ainda mais a taxa de juros para compensar os problemas causados pelo excesso de gastos do governo (aumento da inflação e piora das expectativas inflacionárias). É como se o médico (Banco Central) tivesse que aumentar mais a dosagem do remédio (juros) para combater a doença (inflação). Se o governo colaborasse, e fizesse a sua lição de casa, certamente a dosagem de juros poderia ser bem menor no combate inflacionário.
Enganam-se aqueles que acreditam que a inflação está controlada, porque o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto apontou ligeira deflação (-0,02%). O IPCA é um índice de inflação, composto pela média de vários itens, cada um com o seu peso no indicador. A ligeira queda do IPCA de agosto foi puxada pela deflação dos alimentos e de energia elétrica – itens não sensíveis a juros.
Dado esse cenário, resta saber como o atual diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, vai votar na próxima reunião do Copom. Seu voto vai dar uma sinalização de como vai agir o Banco Central a partir de 2025. Se o Banco Central aderir às pressões do governo, com movimentos da Selic não condizentes com o cenário inflacionário, a volta da inflação é quase certa. Basta olhar o exemplo dado por Dilma.
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