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O presidente Lula e o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O presidente Lula e o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

A frase “é a economia, estúpido” ganhou repercussão, após o estrategista de campanha de Bill Clinton dizer que o sucesso econômico de um país é um fator determinante para um político ganhar as eleições. De fato, a economia exerce um papel relevante no universo político, pois abrange problemas concretos e reais para a população, como inflação, renda e emprego.

No caso brasileiro, tivemos exemplos emblemáticos da força da economia na política. Fernando Henrique Cardoso (FHC), ex-ministro da Fazenda do governo Itamar, se tornou presidente por duas vezes devido ao sucesso do Plano Real. FHC soube capitalizar politicamente o sucesso do plano, derrotando Lula por duas vezes nas eleições de 1994 e 1998.

Outro presidente beneficiado pelas circunstâncias econômicas foi o próprio Lula. De 2003 a 2007, o mundo viveu uma era de ouro na economia, com impactos muito positivos para o Brasil. O PIB da China crescia a taxas de dois dígitos, possibilitando um boom de preços de commodities, que favoreceram extraordinariamente as exportações brasileiras. 

Japão, EUA e União Europeia também cresciam, impactando positivamente a economia brasileira, seja pelas exportações ou pela atração de investimentos desses países para o Brasil.

Esse contexto econômico, aliado ao sucesso do Plano Real e do tripé macroeconômico (câmbio flutuante, sistema de metas da inflação e austeridade fiscal), construído no governo FHC, possibilitou a elevação do investimento direto no país, crescimento do PIB, da renda e do emprego, favorecendo politicamente o presidente Lula em seus dois mandatos. 

Apesar dos escândalos do mensalão, Lula conseguiu capitalizar politicamente o bom momento da economia brasileira – mesmo que o mérito não fosse dele. Nesse período, conseguiu ser reeleito, elegeu Dilma, e fez o PT crescer consideravelmente em números de prefeituras pelo Brasil (411 em 2004, 547 em 2008 e 624 em 2012).

Se, no passado, o PT conseguiu crescer em números de prefeitura, influenciado pelo bom momento da economia, por que agora esse movimento não ocorreu de maneira significativa? 

Embora o PT tenha crescido em prefeituras comparativamente a 2020, ainda perdeu de lavada dos outros partidos. No 1º turno, o PSD ficou com 878 prefeituras, o MDB com 547, o PP com 743, União Brasil com 578, PL com 510, Republicanos com 430, PSB com 309, e o PT, na nona colocação, com 248, perdendo até mesmo do moribundo PSDB com 269 prefeitos eleitos. 

Ora, se os petistas comemoram a taxa de desemprego em 6,6%, a surpresa positiva do crescimento econômico de 2023 e 2024 (em torno de 3%), e a inflação sob controle (mérito do Banco Central), por que não houve um crescimento considerável de prefeituras como ocorreu no passado?

Em outras palavras, se a economia está indo relativamente bem, por que o presidente Lula não é mais aquela figura capaz de arrastar multidões e impactar no resultado das eleições municipais?

Uma possível resposta é que os bons resultados de indicadores econômicos não se traduzem necessariamente em uma percepção real de melhora de vida para os brasileiros. Talvez, porque essa melhora seja insuficiente, depois de tantos anos de perda de renda com a crise do governo Dilma e da pandemia.

Outra hipótese é que o crescimento da renda não ocorre em todas as classes sociais, mas se concentra apenas nos segmentos mais ricos da população. Diferentemente do passado, não há uma ascensão robusta da classe D para C, e da C para B.  

Uma outra possível explicação é que talvez o brasileiro esteja mais maduro politicamente, entendo que a melhora da economia não se deve a Lula, mas às reformas realizadas durante os governos Temer e Bolsonaro (trabalhista, previdenciária, marco do saneamento, lei de liberdade econômica, independência do Banco Central), com impactos positivos atualmente.

Ainda sobre amadurecimento político, talvez o brasileiro esteja levando em conta outros fatores, além da economia, na hora de votar, como segurança pública e corrupção – áreas que a esquerda, num passado recente, deixou muito a desejar.  

A única certeza para o desempenho pífio das esquerdas nessa última eleição municipal é que a frase “é a economia, estúpido” não se aplicou. 

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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