Eu estou há algum tempo longe do Rio Grande, mas o Rio Grande sempre está no coração. Por isso me surpreendeu o fato de que quadrilhas – agora o nome da moda é “facção”, parece até sinal de respeito – de bandidos estão dominando lugares inundados, saqueando casas, depósitos, lojas, fábricas e distribuidoras. Estão até ameaçando pessoas, inclusive em abrigos. As quadrilhas se apropriam dos abrigos como se fossem os mandantes lá dentro. Não sabia que a situação estava assim no Rio Grande do Sul. Eu até aconselharia o governador a conversar com seus colegas de Goiás, Ronaldo Caiado, e de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para saber o que eles estão fazendo lá. Em Goiás, Caiado deu uma segurada, e bandido hoje está na pior por lá. E também vemos um combate muito grande, com medidas preventivas e punitivas, em São Paulo.
Faltam lideranças nesta crise do Rio Grande do Sul
Tenho falado aqui que, baixando as águas, vamos espremer para tirar a água suja, aquele caldo barrento, e vai ficar a essência. Um colega jornalista, Rogério Mendelski, me contou que conversava com o desembargador Thompson Flores sobre liderança. Eles lembraram que, durante grandes crises, os países sempre tiveram um líder: Churchill, na Inglaterra; Adenauer, na Alemanha; De Gaulle, na França. Mas e aqui, onde estão as lideranças? Que líderes temos escolhido? O que estamos fazendo com nosso voto, nossa decisão, nossa responsabilidade?
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Sem prevenção, as enchentes continuarão acontecendo
O Tribunal de Contas da União está cobrando desde 2014 aquilo que eu contei para vocês: já existe, desde 2012, uma lei federal que manda fazer um sistema de prevenção contra desastres. E que prevenção é essa? É limpar a calha dos rios com dragagem, como limpamos as calhas de nossa casa para tirar as folhas quando começa a estação das chuvas. É verificar onde pode haver queda de barreiras e reforçar a segurança. É fiscalizar de verdade a construção de pontes, estradas, aterros e viadutos, para que resistam às águas, pois a engenharia hoje é capaz de obras que resistam.
Prevenção também é fazer planos diretores, evitando que se construam até hospitais em áreas que acabam inundando, como aconteceu em Canoas, onde um hospital foi atingido pelas águas. O pessoal da minha geração viu as enchentes de todos esses anos, a começar em 1941 – eu não tinha nem 1 ano de idade ainda, mas falava e via as marcas da enchente de 41 –, e viu as prefeituras permitirem e licenciarem construções em áreas que pegam não apenas cheias, mas corredeiras, lugares onde o rio escorre com velocidade, o que é fatal. O TCU está cobrando há muito tempo, mas não se fez nada.
O governador Jorginho Mello, de Santa Catarina, contou o que está acontecendo. Ele tinha R$ 95,4 milhões para obras de prevenção, mas desse montante estão bloqueados R$ 85,8 milhões, ou seja, quase tudo, cerca de 90%. Aí não adianta nada. Mas mesmo assim ele está começando a dragagem do Itajaí-Açu. Perfeito, governador! É preciso limpar a calha do rio, porque assim a água escorre e não sai pela borda. Isso é essencial nos rios do Rio Grande do Sul, por exemplo. Se fizessem no Taquari e no Jacuí, já estaria de bom tamanho.
Também soube da sugestão de um gauchão de chapelão, que apareceu na rede social – as redes estão sendo um esteio nisso tudo –, de abrir um canal direto da Lagoa dos Patos para o mar, bem ao norte da cidade de Rio Grande, mais ou menos no meio do sentido longitudinal da lagoa. Não precisaria de muita coisa: são 15, 20 quilômetros, em um terreno onde é fácil abrir o canal. E haveria comportas para regular a água que passasse por ali. Assim a água sairia mais facilmente de Porto Alegre.
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