Ouça este conteúdo
Música e tecnologia fazem parte da vida do nosso entrevistado há mais de 20 anos. Inspirado por James Zabiela e James Hype, se aperfeiçoou na arte da discotecagem, realizando performance com todos os recursos disponíveis nos equipamentos em suas apresentações. Mas não segurou esse conhecimento para si, também transmite tudo o que aprende à milhares de novos DJs em suas aulas presenciais, palestras, youtube e consultorias.
Falamos com o DJ, produtor musical, professor, palestrante, youtuber e consultor Pionner DJ, Jayboo! Confira um pouco da trajetória desse super talento da música eletrônica brasileira.
Como surgiu seu interesse pela música eletrônica, em ser DJ e o que mudou daquela época para os dias de hoje?
Sempre fui amante de tecnologia, quebrava os carrinhos para tirar os LEDS e motores, além de gostar muito de computadores. Meus tios tinham uma balada em Guaratuba no litoral do Paraná e quando eu tinha 13 anos fui visitar e fiquei encantado quando entrei na pista de dança, foi amor à primeira vista, lembro da sensação robótica do strobo, moving lights e o DJ com toca-discos e uma mesa cheia de botões, me encantei.
Quando cheguei em casa no interior de Erechim RS depois eu logo baixei o Virtual DJ e comecei minhas primeiras mixagens. No verão seguinte com 14 anos retornei ao clube já com o intuito de "encher o saco" dos DJs de lá até que eles me mostrassem os equipamentos. Aí então o Rogério Animal e Will, residentes do club da época, me ajudaram a dar os primeiros passos.
O principal desafio da época era o acesso aos equipamentos que além de caros não tinham em todo lugar. Sem contar o garimpo de músicas que era em disco de vinil. Resumindo: os discos custavam caro e não tinha MP3, streaming e etc.Ou você comprava o disco ou nem acesso para ouvir a música tinha direito. Era bem mais complexo tanto para o público ouvir as músicas como para o DJ conseguir as faixas.
Hoje em dia com pouco dinheiro você já consegue tocar, sem contar que ficou muito fácil ouvir e garimpar músicas. Uma controladora Pioneer DJ DDJ-400 por exemplo custa aproximadamente R$2 mil e ela já tem muitos recursos para treinar e tocar e desenvolver na arte.
Você tem como característica utilizar todos os recursos dos equipamentos em suas apresentações como DJ. Como surgiu o interesse pela discotecagem com performance?
Meu amor por tecnologia e informática me fez sempre querer entender os equipamentos, abrir e ver o que tem dentro, além de querer dar utilidade para todos os botões. O interesse pela performance foi quando eu vi o James Zabiela tocando ao vivo pela primeira vez, aquela noite me fez ter uma referência e querer aprender a tocar igual ele.
Logo depois dessa festa um dos meus mentores Ilan Kriger comprou um processador de efeitos da Pioneer DJ o EFX-1000 porém o equipamento ficava mais comigo do que com ele (rs). Na época o James Zabiela tinha alguns tutoriais no canal do YouTube. Eu me debrucei e fui estudar à fundo. No começo foi difícil, até que com muito estudo e prática comecei a entender os recursos pra valer e aprendi a utilizar dentro da minha performance.
Aprendi a enxergar as músicas como "DJ Tools". É como se eu pensasse como produtor musical enquanto toco. Sempre em busca de trechos de músicas e oportunidades para utilização dos recursos que estão dentro da minha caixa de ferramentas.
Você ensina DJs há mais de 15 anos. Como foi esta jornada de conhecimento e os desafios de ser um professor de música?
Fiz um curso de produção musical na AIMEC Curitiba logo que cheguei em Curitiba. Faziam aproximadamente 3 anos que eu tocava, me concentrei muito no curso e fui um aluno muito aplicado. Logo recebi o convite para ministrar algumas aulas lá comecei com professor no curso de produção musical. Foi um desafio muito grande pois em uma sala com 10 alunos é necessário fazer todos me entenderem.
Logo peguei gosto pela coisa, fui desenvolvendo e estudando além de melhor minhas aulas dia após dia. Atualmente eu tenho um canal no YouTube onde eu dou dicas para DJs, além de prestar consultorias e cursos on-line: DJ básico, DJ avançado, Mashups, re-edis e também curso de gravação e edição de sets.
Quando comecei a ministrar aulas para DJs os equipamentos disponíveis não tinham leitores de BPM (velocidade da música), isso criava um ambiente totalmente diferente já que você precisava a qualquer custo desenvolver o ouvido para fazer o Beatmatch (sincronia entre as músicas). Atualmente as ferramentas tecnológicas simplificaram muito esse trabalho, mas claro que surgiram muitos outros recursos para tornar a apresentação mais interativa e interessante.
Os anos foram passando e o amor pelo ensino foi aumentando, não tem preço ver os alunos fazendo bonito. Me preenche de alegria e sensação de que os ensinamentos estão ajudando DJs do mundo inteiro.
Hoje você trabalha como consultor da Pioneer DJ no Brasil. Como surgiu esta oportunidade de trabalhar com uma marca de referência na música eletrônica?
Tudo começou naquele dia que vi o James Zabiela pela primeira vez. Aquele dia eu coloquei na minha mente que um dia eu iria receber os equipamentos da Pioneer DJ para testar e promover. É muito louco o poder da mente. Foram anos ministrando aulas, palestras e consultorias. Quando resolvi pegar firme no meu canal do YouTube, um dos objetivos era chamar a atenção da Pioneer DJ, foram horas e horas de gravações e vídeos postados.
Conheci o Richard Mercado, um dos diretores da Pioneer DJ, há muitos anos atrás na conferência RMC no Rio de Janeiro, lá ele tomou consciência pela primeira vez a respeito do meu trabalho nos workshops que eu ministrava. Depois disso o tempo foi passando e constância de postagem de vídeos e na construção das minhas redes sociais seguiu firme.
Em 2019 recebi o convite para ministrar uma Masterclass da Pioneer DJ que rolou em São Paulo, esse foi o momento em que realmente me dediquei para entregar a melhor aula da minha vida. Foi o que aconteceu, o evento estava lindo e tudo perfeito. Lá eu recebi meus 2 primeiros equipamentos, o sampler DJS-1000 e o Toraiz Squid, "mostrei trabalho" utilizando os equipamentos, promovendo e gravando vídeos até que recebi o contato com a proposta para virar consultor da marca aqui no Brasil.
Você que tem experiência de pista há 20 anos, como enxerga o cenário da música eletrônica no Brasil?
Eu estou impressionado com o crescimento e amadurecimento da cena. Grandes nomes como Alok e Vintage Culture ajudam a levar o nosso nome para o mundo, além de fazer com que todos os outros DJs "se puxem" vendo que é possível quebrar todas as barreiras e crescer mundialmente.
Sem contar que existem várias escolas e cursos que ajudam na profissionalização do mercado. Quanto mais ensino, mais maduro os profissionais se tornam. É muito legal ver que hoje nós temos festas rolando do Sul ao Norte com DJs de diversos gêneros musicais tocando, produzindo e fazendo acontecer.
Qual a sua dica para novos talentos que buscam encontrar um lugar nas cabines dos clubs?
Em primeiro lugar, estudar, entender a ferramenta de trabalho. Dar uma boa atenção ao repertório, se conectar com as pessoas certas, produzir suas próprias músicas e principalmente acreditar no seu trabalho além de saber onde quer chegar. Dessa forma você vai ter um norte do que precisa ser feito para caminhar na direção correta.
Recentemente você gravou um set em 4 decks com o James Hype, como foi essa experiência e quando esse set vai ao ar?
Desde que conheci o James Hype no YouTube, mentalizei que um dia isso iria acontecer, até que descobri que ele iria estar no Brasil e fui curtir a balada com ele. O Paulo da Garden Bookings estava cuidando dele aqui no Brasil e eu troquei uma ideia com ele dizendo que eu queria muito conhecer ele.Fui curtir a festa que ele tocou no El Fortin no dia 25 de dezembro. Foi impressionante ver ele ao vivo, o nível é muito alto. Não teve nenhum deslize, tudo redondo.
Logo após a festa trocamos uma ideia e eu plantei a sementinha na cabeça do Paulo contando meu sonho de gravar um set em 4 decks com ele. Ele mostrou meu trabalho para o James, e no dia 26 de dezembro fomos juntos conhecer o Surreal em Camboriú.
Nos aproximamos e ele acabou topando gravar o set comigo, preparei tudo para gravarmos já alguns dias depois, no dia 28 de dezembro, foi tudo uma loucura, quase vim para Curitiba pegar meus CDJs já que não estava conseguindo alugar. Por sorte eu estava com minha XDJ-RX3 e consegui alugar mais um par de CDJ-3000 com DJM-V10 para a gravação.
A sonzeira está forte e foi muito emocionante tocar com ele, afinal ele além de tocar muito, me inspira a ser um DJ melhor e evoluir a cada dia. O set vai ao ar logo após o carnaval, siga minhas redes sociais para ficar atento por que vale a pena.
Com o avanço da tecnologia, novos recursos, equipamentos e plataformas, a vida do DJ ficou bem mais simplificada, como você vê essa evolução?
Com certeza, antigamente era só o ouvido, agora temos recursos visuais e ferramentas que simplificam a vida do DJ. Eu sempre incentivo todos meus alunos a aprenderem a discotecar sem olhar os BPMs e ter a experiência do DJ raíz, isso ajuda muito a desenvolver a habilidade.
O DJ que só usa o SYNC geralmente não consegue transmitir segurança tocando, independente de ao vivo utilizar o recurso ou não acredito que ter a sensibilidade bem desenvolvida ajuda muito a entregar uma apresentação mais intensa.
Você acompanhou a transição dos tocadiscos para os CDJs e streaming de músicas. Como você enxerga o futuro da música?
Eu lembro a primeira vez que tentei baixar músicas na internet utilizando Napster e depois o Kazza, nessa época nem o Beatport existia, não conseguia achar nada. Depois veio a popularização do YouTube e surgimento do Beatport e outros sites, isso tudo mudou em um intervalo muito pequeno de tempo.
Eu acredito que cada vez mais os artistas vão em busca de criar suas NFTs e de alguma forma a blockchain vai revolucionar a música, seja artistas criando seus tokens ou vendendo suas NFTs. Estamos vivendo um momento de disrupção tecnológica e eu acredito que muita coisa vai mudar.
Atualmente os produtores de músicas ficam com menos de 20% da distribuição de royalties das músicas e sinceramente no meu ponto de vista não parece muito justo. Com o surgimento das NFTs os artistas podem ficar com praticamente todo o lucro, sem contar que utilizando a tecnologia blockchain, se alguém re-vender a NFT o artista vai continuar recebendo uma porcentagem por cada transação.
Se quiser saber mais sobre isso e entender esses termos eu gravei um vídeo interessante no meu canal do YouTube:
Siga o Jayboo nas redes: