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Facebook proíbe Boogaloo
Membros e simpatizantes do movimento Boogallo usam armas pesadas e táticas de guerra.| Foto: Jeff Kowalsky/AFP

Sob pressão política, econômica e da mídia, o Facebook decidiu nesta semana banir de sua rede grupos ligados ao movimento Boogaloo. A medida mostra mais um capítulo de mudanças na política da empresa, que vem restringindo o espaço para manifestações que possam ser caracterizadas como estímulo à violência.

Foram removidos 106 grupos e 220 contas do Facebook e 95 contas do Instagram que compõem a chamada ‘rede Boogaloo’. Também foram derrubados outros 400 grupos e 100 páginas que hospedavam conteúdo semelhante ao do movimento, mas que eram mantidas por contas externas.

Ao tomar a decisão, o Facebook designou a rede de extrema-direita Boogaloo como uma organização perigosa, no mesmo nível do grupo do Estado Islâmico e dos supremacistas brancos, ambos já proibidos de usar seus serviços. Houve contestação a favor e contra a decisão.

A pressão para que o Facebook “vigie” melhor o que sai na sua rede aumentou nos últimos anos, especialmente depois da eleição de Donald Trump nos EUA, mas há também movimentos na Europa. Um exemplo foi o episódio em que o Facebook deixou no ar, mesmo após denúncias, um post de Trump com a frase "quando os saques começam, o tiroteio começa", numa suposta sugestão para que os policiais atirassem nas pessoas que protestavam contra a morte de George Floyd, homem negro que veio a óbito enquanto era sufocado por um policial.

Facebook proíbe Boogaloo
Grupo armado protesta contra medidas de restrição durante a pandemia de covid-19, no Michigan.| Jeff Kowalsky/AFP

O Twitter, onde o texto foi originalmente postado, incluiu um aviso à frase de Trump, alertando que a mensagem “viola as regras do Twitter sobre a glorificação da violência".  O Facebook, no entanto, não fez o mesmo nos posts que reproduziram a mensagem. O episódio levou a um crescente boicote aos anunciantes ao Facebook, incluindo Coca-Cola, Adidas, Starbucks, Unilever e Levi´s. Essas companhias não querem ter suas marcas relacionadas a mensagens de violência.

As restrições ao discurso de ódio e violência estão aumentando em todas as redes sociais. O YouTube suspendeu várias figuras nacionalistas brancas de destaque de sua plataforma, incluindo Stefan Molyneux e David Duke. O Reddit, um fórum de comentários on-line muito popular, proibiu um fórum extremista de direita que apoiava Donald Trump.

Mas o que faz o Boogaloo para ser banido pelo Facebook? A própria plataforma fundada por Mark Zuckerberg admite que existem correntes diferentes dentro do Boogallo, algumas violentas, que oferecem risco à segurança pública, e outras formadas por ativistas que não praticam violência e, portanto, poderiam continuar ativas na plataforma.

Os membros do Boogaloo dizem se basear na Segunda Emenda da Constituição dos Estados Unidos: "Sendo necessária uma milícia bem ordenada para a segurança de um Estado livre, o direito do povo a possuir e portar armas não poderá ser violado".

As primeiras referências ao movimento foram registradas em 2012, mas somente nos dois últimos anos é que o Boogaloo ganhou força e passou a ser foco na sociedade americana. Agora em 2020, seus apoiadores ganharam destaque na mídia tradicional ao apareceram em protestos contra as ordens de bloqueio da Covid-19, carregando rifles e usando roupas táticas militares. Um dos símbolos do vestuário dos seus membros são camisas havaianas.

Os integrantes do movimento, que se denominam normalmente como Boogaloo Bois, compartilham nas redes sociais conselhos e orientações sobre o uso de armas de guerra, a melhor maneira de atacar uma delegacia de polícia ou causar desordem na multidão, por exemplo. Mas há também conteúdo que defende o direito de qualquer cidadão se rebelar contra medidas do Estado que interfira em decisões individuais.

Levantamento da associação do Tech Transparency Project, realizado antes dos protestos do caso George Floyd concluiu que existem centenas de grupos de discussão públicos e privados no movimento que somam cerca de 70 mil membros. Mas o número de simpatizantes vem se multiplicando rapidamente em decorrência das medidas de restrição à movimentação de pessoas, em decorrência da pandemia de covid-19, e hoje poderia chegar aos milhões. Integrantes do movimento argumentam que as medidas restritivas são formas de os governos controlarem os cidadãos.

Grupo armado caminha em rua do centro de Raleigh, na Carolina do Norte.
Grupo armado caminha em rua do centro de Raleigh, na Carolina do Norte.| Reprodução/Youtube/The News & Observer

Não há concordância entre os integrantes do Boogaloo quanto a temas como raça. Enquanto alguns são supremacistas brancos ou neonazistas, outros condenam o racismo e a supremacia branca. Um ponto em comum é o uso de armas e a luta antigovernamental. A máxima é a luta contra medidas do Estado que consideram ferir direitos individuais.

O termo Boogaloo é uma referência à onda criada pelo filme "Breakin '2: Electric Boogaloo", de 1984, que se tornou um clássico cult. Na internet está ligado ao que alguns consideram memes sarcásticos e bem-humorados, bem como a violência física ocasional e demonstrações de força militaristas.

Medidas como essa do Facebook e outras tomadas por plataformas de redes sociais não são garantia de que esses grupos serão aniquilados nas mídias sociais. Eles vivem se reinventando e têm demonstrado receber apoio de segmentos da população dos EUA. “Este não é um problema estático que você conserta, então está pronto. É algo que você precisa fazer todos os dias ”, alertou Jessica Stern, especialista em terrorismo e pesquisadora da Universidade de Boston ao jornal The Washington Post.

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