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Como regular uso de internet por crianças pequenas? A ciência começa a ter respostas
| Foto: Igor Starkov/Unsplash

A discussão sobre o uso de tecnologias como a internet por crianças tem sido um campo de batalha para pais e cuidadores. As dúvidas são muitas: qual é a idade certa para introduzir smartphones? Qual é o impacto dos dispositivos digitais no desenvolvimento infantil? Recentemente, uma nova meta-análise publicada no JAMA Pediatrics oferece respostas fundamentadas para essas questões, fornecendo orientações baseadas em evidências para pais e responsáveis sobre o usa da internet por crianças. Trago aqui as descobertas apresentadas por Jacqueline Nesi e Cara Goodwin, duas especialistas que interpretaram esse estudo em profundidade.

A pesquisa, conduzida por uma equipe de 17 pesquisadores australianos, buscou entender os efeitos do uso de telas no desenvolvimento cognitivo e psicossocial de crianças de 0 a 6 anos. Os pesquisadores analisaram mais de 12.000 estudos, selecionando 100 que atendiam a critérios rigorosos para serem incluídos em uma revisão sistemática e meta-análise. Ao todo, os estudos incluíam dados de 176.742 crianças de 30 países diferentes, oferecendo uma visão ampla e diversificada sobre como a exposição às telas e à internet pode afetar os pequenos.

Os estudos mostraram que o uso frequente de dispositivos pelos pais durante momentos de interação (como refeições ou brincadeiras) está associado a piores resultados psicossociais para as crianças

Jacqueline Nesi, psicóloga clínica e professora da Brown University, e Cara Goodwin, psicóloga infantil e fundadora do Parenting Translator, destacaram que o foco da análise não era apenas na quantidade de tempo de tela e internet pelas crianças, mas principalmente no tipo de conteúdo consumido e no contexto em que as telas são usadas. "O que realmente importa é a qualidade do conteúdo e como ele é utilizado", disse Jaqueline Nesi em entrevista, enfatizando a importância de contextos apropriados de uso de tecnologia.

A seguir, as seis principais recomendações derivadas das conclusões da pesquisa:

Evite o uso de telas durante interações com seus filhos
Os estudos mostraram que o uso frequente de dispositivos pelos pais durante momentos de interação (como refeições ou brincadeiras) está associado a piores resultados psicossociais para as crianças. Esse fenômeno, conhecido como "tecnoferência", pode levar as crianças a desenvolverem problemas comportamentais, além de perderem oportunidades de aprendizado de habilidades sociais importantes. "Minimizar as distrações tecnológicas durante esses momentos pode melhorar a qualidade da interação com as crianças", ressaltou Goodwin.

Escolha conteúdo de qualidade e apropriado para a idade
O consumo de conteúdo inadequado, como programas violentos ou com temas adultos, mostrou-se prejudicial ao desenvolvimento social e emocional das crianças. Por outro lado, programas educativos e focados em habilidades socioemocionais podem ter efeitos positivos, melhorando a alfabetização e a capacidade emocional. Aplicativos interativos também se mostraram mais benéficos que a visualização passiva de vídeos.

Use telas em conjunto com seus filhos sempre que possível
A prática de "co-uso" ou "co-visualização" está associada a melhores resultados cognitivos, como o desenvolvimento da linguagem e funções executivas. Fazer perguntas sobre o que a criança está assistindo e explicar conceitos durante a experiência pode ajudar a conectar o conteúdo com o mundo real, aumentando o aprendizado. "Transformar a experiência de assistir em uma conversa é uma forma poderosa de promover o desenvolvimento", afirma Nesi.

Evite TV de fundo enquanto a criança realiza outras atividades
A exposição a programas de TV em segundo plano distrai as crianças e dificulta sua capacidade de se concentrar em outras tarefas. Estudos associaram a TV de fundo a resultados cognitivos e psicossociais inferiores, sugerindo que é melhor evitar essa prática sempre que possível.

Não se preocupe demais com o conteúdo acelerado
A pesquisa revelou que a velocidade dos programas não é um fator determinante na maioria dos casos. Embora algumas pesquisas apontem efeitos negativos ou positivos, a maioria não encontrou um impacto significativo dos vídeos curtos e rápidos. Portanto, se o programa for adequado para a idade e de alta qualidade, a velocidade do conteúdo não precisa ser um fator de preocupação.

Evite usar telas como única ferramenta para acalmar as crianças
O uso de dispositivos como meio de acalmar as crianças em momentos de angústia pode impedir que elas aprendam outras estratégias de regulação emocional. Embora poucos estudos tenham abordado essa questão, a recomendação é ensinar técnicas alternativas, como respiração profunda e comunicação sobre os sentimentos.

Embora este estudo ofereça orientações valiosas, ele também destaca as lacunas na pesquisa atual sobre o uso de telas por crianças pequenas. A maior parte das evidências é baseada em estudos observacionais, que não podem confirmar uma relação causal direta entre o uso de telas e os impactos no desenvolvimento infantil. "Precisamos de mais estudos experimentais para entender completamente os efeitos das telas", explica Goodwin, enfatizando que muitas das descobertas são correlacionais.

Além disso, os desafios práticos enfrentados pelos pais são complexos e variam dependendo das circunstâncias. Por exemplo, enquanto a recomendação é para que pais assistam programas junto com seus filhos, questões logísticas podem surgir quando há mais de uma criança em casa com idades diferentes e necessidades distintas.

O estudo deixa uma mensagem clara: o contexto em que as telas são usadas é tão importante quanto a quantidade de tempo que as crianças passam em frente a elas. Focar no tipo de conteúdo e na maneira como a tecnologia é introduzida nas rotinas familiares pode ter um impacto significativo no desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças.

À medida que continuamos a navegar nesse mundo digital, vale refletir sobre como podemos integrar essas descobertas em nosso dia a dia. Como pais e educadores, a responsabilidade não é apenas limitar o uso da tecnologia e da internet, mas também orientar nossas crianças para que possam tirar proveito do melhor que essas ferramentas têm a oferecer.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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