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Político palestino critica ativistas como Greta, que ficam em silêncio sobre execuções do Hamas

A ativista sueca Greta Thunberg se dirige a repórteres ao chegar ao aeroporto internacional grego Eleftherios Venizelos, em Spata, perto de Atenas, após ser deportada de Israel (Foto: EFE/EPA/YANNIS KOLESIDIS)

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Os mesmos ativistas que, durante meses, gritaram “Palestina livre” nas ruas e nas redes, desapareceram quando a paz chegou. Nenhum gesto de celebração, nenhuma palavra de alívio. A conquista que deveria representar o triunfo da causa se tornou um constrangimento. A paz desarma não apenas os fuzis, mas também as narrativas. Quando o Hamas rompeu o próprio acordo e voltou a executar palestinos em público, os que se diziam defensores da liberdade simplesmente calaram. O silêncio não foi neutralidade, foi revelação.

Enquanto o Ocidente fazia de conta que não via, uma voz palestina expôs o absurdo. Ahmed Al Khalidi, político nascido em Jerusalém, advogado e professor universitário, publicou um artigo contundente sobre a hipocrisia dos ativistas ocidentais que dizem lutar por justiça, mas terminam servindo à tirania. “Eu me sinto profundamente intrigado por um certo fenômeno ocidental: os ativistas climáticos, defensores dos direitos humanos e autoproclamados progressistas que, de alguma forma, acabam repetindo as falas do Hamas”, escreveu.

A geração que se diz rebelde confunde exibicionismo com luta, operações de marketing com ações de libertação, palavras com ação. Criados na era do elogio automático, acostumados a nunca ouvir 'não' e a receber aplausos de pais frágeis e uma imprensa deslumbrada, acreditam que postar frases, fazer dancinhas ou usar um keffieh os torna parte de uma revolução

Al Khalidi desmonta o que chama de modelo mental da confusão moral ocidental. Ele explica que boa parte desses militantes precisa de uma história simples, com mocinhos e vilões. É mais fácil viver num mundo dividido entre oprimidos e opressores do que lidar com a complexidade das tragédias humanas. Para eles, os palestinos são automaticamente as vítimas, e o Hamas, a resistência. “Eles não precisam de fatos, precisam de clareza moral, mesmo que seja falsa.”

O segundo ponto de sua análise é o mais incômodo: a projeção de culpa. O Ocidente, carregado de remorso por séculos de colonialismo e racismo, transforma causas “anti-imperialistas” em rituais de absolvição. “Eles se veem como aliados dos oprimidos, mas, na verdade, não estão nos ajudando, estão lavando a própria consciência.” É uma caridade estética, feita para exibição.

Mas há algo ainda mais profundo, e Al Khalidi toca na ferida: a atração pela intensidade emocional. Para jovens que cresceram em vidas fáceis, sem frustração real, o sofrimento alheio virou palco de experimentação moral. “Eles anseiam por luta moral como outros anseiam por aventura. Confundem destruição com profundidade.” É o mesmo narcisismo que transforma causas em acessórios, slogans em identidade e o drama de povos inteiros em espetáculo.

A geração que se diz rebelde confunde exibicionismo com luta, operações de marketing com ações de libertação, palavras com ação. Criados na era do elogio automático, acostumados a nunca ouvir “não” e a receber aplausos de pais frágeis e uma imprensa deslumbrada, acreditam que postar frases, fazer dancinhas ou usar um keffieh os torna parte de uma revolução. Querem aventura, mas não sabem nem lavar um copo.

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Foram jovens da mesma idade que, em 1944, desembarcaram na Normandia para libertar a Europa do nazismo. Eram meninos que enfrentaram metralhadoras, lama e medo para restaurar a dignidade humana. No século XXI, os descendentes dessa coragem acreditam estar libertando povos enquanto repetem o discurso dos opressores. É o triunfo da pose sobre a consciência.

Al Khalidi conclui: “Quando vejo esses ativistas marchando com slogans que defendem o Hamas, não vejo solidariedade. Vejo confusão psicológica disfarçada de moralidade”, A frase resume um tempo em que a empatia virou performance e o sofrimento, matéria-prima para autopromoção.

A esquerda internacional, que se diz defensora dos oprimidos, ignora que o principal inimigo dos palestinos é o próprio Hamas. E o Ocidente, em seu conforto culpado, prefere a ilusão de pureza à responsabilidade moral de enxergar o real. O artigo de Ahmed Al Khalidi é mais que uma crítica: é um espelho incômodo. O Ocidente criou uma geração de supostos defensores dos direitos humanos incapazes de qualquer tipo de empatia com vítimas reais.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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