"'Conseguir a primeira posição em uma cadeira de conselho e tão desafiador quanto conseguir o primeiro emprego'. Esta é uma das afirmações recorrentes que ouvimos nas conversas de carreiras e em transições executivas", afirmou Cibele Castro, palestrante do último encontro Mais Mulheres na Governança.
Tornar-se membro de um conselho de administração é uma conquista de prestígio que acarreta responsabilidades e recompensas substanciais. No entanto, a jornada é repleta de desafios, e o processo exige uma combinação de planejamento estratégico, networking e experiência.
Nos últimos anos, houve uma mudança perceptível nos conselhos globais em direção a uma maior diversidade. Contudo, no Brasil, esse avanço segue sendo tímido e o intuito desse movimento protagonizado por mulheres de Curitiba almeja contribuir para esse progresso.
Ao longo da jornada do programa, grandes speakers trouxeram de forma generosa seus desafios para ingressarem em conselhos, bem como desafios que encontraram para assumirem sua primeira posição.
Abaixo listamos alguns dos desafios sinalizados, bem como, na sequência, algumas dicas que foram compiladas ao longo dos encontros. Não temos a pretensão de esgotar o tema, que vem sendo vivenciado de forma intensa e profunda pela turma de 50 integrantes ao longo de dois anos.
Desafios para ingressar em conselhos
- Vagas limitadas: os cargos nos conselhos são poucos e distantes entre si, com os membros estabelecidos frequentemente mantendo seus cargos por longos períodos. Essa escassez significa que os recém-chegados devem disputar um número limitado de vagas, tornando a competição acirrada. Inclusive, aqui, vale a reflexão: qual conselheiro está disposto a “disruptar” sua cadeira, sabendo que seu perfil não seria o ideal para o desafio que a organização irá passar?
- Experiência e ocupar posições C-Level: provar-se como um candidato qualificado exige um histórico sólido e profundo conhecimento em áreas relevantes além de skills relevantes ao business. Aqui também há vieses inerentes. Quando se fala em “experiência”, vem à tona os homens brancos, de meia-idade e que ocuparam posições de C-level. Mas será que apenas esse perfil descreve as skills de conselheiro que serão chave para o seu negócio?
- Conexões: o quão robusta é sua rede, visto que mais de 80% das posições são por indicações? Executivos passam por dificuldades de ingressar em posições de conselho, pois na grande maioria conhecem pares como vice-presidentes, diretores e CEOs e não presidentes de conselho e conselheiros, os quais detém a “voz” de indicar para as novas cadeiras. Já refletiu que ingressar nesse círculo exclusivo pode ser desafiador, especialmente para indivíduos de grupos minoritários como mulheres, negros etc.?
- Disparidade de gênero: historicamente, as mulheres têm tido pouca participação nos conselhos, refletindo ainda mais o desafio, pois como mais de 80% das posições são preenchidas por indicações e na grande maioria ocupadas por homens, esse desafio é ainda maior para “estourar a bolha”. Essa disparidade está mudando lentamente, embora o progresso permaneça gradual. Para dar ordem de grandeza, temos apenas 343 empresas listadas na bolsa de valores, das quais apenas 55% confirmam ter uma mulher, segundo dados da B3.
Como “desbravar” a primeira posição em conselhos?
O programa Mais Mulheres na Governança, idealizado por Ana Paula Camargo, Gisah Akel, Izabela Curi, Janete Anelli, Marcia Zazula, Regina Arns, Rose Russowski e Silvana Pampu, surge como um importante movimento na região Sul para trazer à tona a temática e articular grandes conexões e parceiros estratégicos para a causa.
A jornada robusta contou com fases que se denominam Despertar e Fortalecer, iniciando em 2022. Já estamos quase na sua reta final, trzendo as temáticas a seguir que servem de dicas para quem está com o desejo de ingressar em Conselhos de Governança:
- Construção de um pitch: qual é a sua marca? Qual é a sua excepcionalidade? Repaginar seu pitch executivo é crucial, pois a linguagem e skills que usará para ocupar posições em conselho precisam ser destacadas. Esse foi um dos exercícios moderados pela Silvana Pampu, Cofounder do Programa Mais Mulheres na Governança.
- “Ao longo do programa, tivemos grandes speakers como Arthur Bender, criador do conceito de Personal Branding, um dos ícones na área e autor de livros sobre o tema, como "Paixão e Significado da Marca" e "Autenticidade". Esse foi um dos encontros mais marcantes, que gerou importantes reflexões. Neste mesmo sentido, recebemos Cris Tuna, Conselheira de Empresas, Advisor de Negócios, Futurista, Palestrante, Investidora-Anjo, C-Level Marketing e Vendas, que nos provocou para pensarmos na nossa marca pessoal com a pergunta que ficou ecoando: “qual é a sua área de excepcionalidade?”
- Programas de preparação do conselho: participe de programas de preparação do conselho que forneçam informações sobre governança, estratégia e o papel de um membro do conselho. Esses programas oferecem conhecimento valioso e ampliam seu repertório. Hoje, há vários disponíveis e, ao longo da Jornada Despertar, foram trazidos speakers do IBGC – Instituto Brasileiro de Governança; HSM (com o produto de Digital On Board); Gonew, com Anderson Godz trazendo um olhar de governança para a Nova Economia etc. Ou seja, o importante é ter autoconhecimento inclusive para escolher qual programa está mais aderente a sua expectativa.
Cibele Castro brindou o grupo com uma síntese dos principais programas, sendo eles inclusive movimentos, para dar um overview amplo de quais são as possibilidades e caminhos alternativos a percorrer nessa jornada de preparação:
- Dê o primeiro passo: ONGs, startups ou instituições não-governamentais e comitês temáticos têm sido portas de entrada para atuar como conselheiro consultivo ou de administração. Além de dar uma “bagagem” de experiência, permite que amplie sua rede de conexões e visibilidade para outros postos.
Importância das Conexões e Networking
Networking desempenha um papel fundamental na obtenção de cargos no conselho. O ditado "não é apenas o que você sabe, mas quem você conhece" é válido na sala de reuniões. As conexões podem abrir portas para oportunidades que podem não ser anunciadas publicamente. O envolvimento em atividades de networking permite que você cultive relacionamentos com indivíduos influentes que podem atestar suas qualificações e advogar em seu nome.
O networking vai além dos eventos formais; envolve a construção de relacionamentos autênticos baseados em interesses, valores e aspirações compartilhados. As plataformas online, como o LinkedIn, oferecem oportunidades de contato com profissionais de diversos setores e formações, ampliando seu alcance e possíveis conexões, mas estar presente em comunidades de aprendizagem e outros fóruns é o que irá consolidar relações mais sólidas.
Com o objetivo de fomentar mais mulheres na governança, o programa idealizado é um catalisador de conexões e oportuniza ser um polo para encontrar talentos para atuar nos conselhos. Sua jornada de dois anos fomentou encontros com palestrantes nacionais e internacionais com o intuito de despertar o olhar para a atuação em conselho, bem como fortalecer as redes.
Alavancar conexões e networking é uma ferramenta inestimável que faz diferença significativa na jornada executiva e foi o tema do último exercício coletivo, no qual as participantes fizeram reflexões para avaliar a robustez das suas conexões relacionadas a governança, bem como estão acionando suas redes individuais nas esferas pessoais, empresarial e de governança, com o objetivo de comporem o painel do próximo evento.
O encontro será em setembro e está sendo orquestrado por líderes dos grupos e visa convidar novos embaixadores da causa e pessoas chaves que inspiram a fazer a diferença em posições de governança.
A ascensão das mulheres nos conselhos globais
O cenário dos conselhos globais está passando por uma transformação, com um número cada vez maior de mulheres assumindo cargos importantes no conselho. A fonte para os dados sobre a participação feminina nos conselhos de administração é o estudo "Women on Boards: A Global Perspective", realizado pela consultoria McKinsey & Company em 2022. O estudo analisou dados de 98 países e concluiu que a média global de participação feminina nos conselhos de administração é de 27,1%. Os países com as maiores taxas de participação feminina nos conselhos são Noruega (42,9%), Finlândia (41,4%), Suécia (40,9%), Islândia (38,9%) e Dinamarca (38,0%). O Brasil ocupa a 82ª posição no ranking, com uma taxa de participação feminina de 14,3%.
Essa mudança em direção a uma maior diversidade de gênero é impulsionada por vários fatores, incluindo maior conscientização sobre os benefícios da diversidade, esforços de defesa de grupos de mulheres e evolução das práticas de governança corporativa. Embora tenha havido progresso, alcançar a verdadeira paridade de gênero nos conselhos continua sendo um trabalho em andamento, exigindo esforços contínuos de indivíduos e organizações.
Recentes movimentos como CVM, que aprovou medidas propostas pela B3 para aumentar diversidade em diretoria e conselhos de administração de empresas listadas, ou votações na câmara que como projeto de lei visa aumentar para 30% a participação de mulheres como conselheiras de administração ou fiscais em empresas estatais ou de economia mista na união, estados e municípios. Esse ainda com um longo caminho que segue para o Senado e depois sanção presidencial, mas pelo menos está na pauta e isso já é um avanço.
Acreditamos que a força coletiva pode fazer a diferença e que movimentos articulados tem uma força imprescindível para mover o sistema.
A Confraria de Executivos, promovida pelo Instituto Connect, é um espaço para conexão de executivos de vários segmentos, estados e países. Trata-se de uma comunidade de aprendizagens, conexões e experience como board advisor, peer coaching etc. Para ingressar ou estar por dentro dos próximos encontros acesse o site.
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