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Abraham Weintraub, o polêmico ex-ministro da Educação, ficou conhecido por não ter papas na língua, especialmente ao falar de quem defende uma ideologia contrária à sua e se opõe ao governo Bolsonaro. Conseguiu, com isso, uma legião de seguidores fiéis e outra de inimigos mortais. É um daqueles casos típicos de amor ou ódio, sem meio termo.

Esta semana, porém, ao comentar o assunto do momento, estupro, conseguiu a proeza de ser elogiado por ambas as turmas, prova cabal de que segue influenciando o debate político, mesmo distante do governo e do país. Mas por que só agora? O que tem feito e falado Abraham Weintraub desde que deixou o ministério da Educação? Há algum outro comentário feito recentemente que merecesse atenção?

Vida nos Estados Unidos

Depois que deixou o ministério da Educação Abraham Weintraub foi morar em Washington, capital dos Estados Unidos, onde assumiu de forma provisória uma das diretorias do Banco Mundial. Apesar da formação em Economia e da larga experiência anterior no sistema financeiro, foi criticado por ter conseguido a vaga graças a uma indicação do presidente Bolsonaro.

Fato é que depois de 4 meses como diretor-executivo do grupo de países que o Brasil lidera no Banco Mundial (incluindo Colômbia, Equador, Trinidad e Tobago, Filipinas, Suriname, Haiti, República Dominicana e Panamá) o ex-ministro foi eleito para continuar no cargo, agora não mais de forma provisória, indicado pelo presidente Bolsonaro, mas com um mandato de dois anos, conquistado à custa de votos dos representantes dos acionistas do banco.

Semanas depois de começar no novo emprego ele contou em vídeo, bem mais à vontade do que quando era ministro, até alguns detalhes da rotina no banco mundial, trabalhando em casa por causa da pandemia.  “Hoje chegou o computador novo do banco, que eu estou usando. Até ontem eu estava utilizando o meu pessoal. Foi desse computador aqui que saiu o plano de governo do presidente,” revelou Weintraub no vídeo mostrando os dois computadores sobre a mesa de casa.

Recentemente ele ganhou a companhia do irmão, Arthur Weintraub, advogado, especialista em Direito Previdenciário, que também tinha cargo no governo e, assim como ele, foi nomeado pelo presidente para um cargo no exterior, na mesma cidade, Washington. Arthur assumiu a Secretaria de Acesso a Direitos e Equidade na Organização dos Estados Americanos (OEA).

Revelações em vídeo

Abraham Weintraub e o irmão Arthur acabaram decidindo dividir a mesma casa e parecem ter ganhado fôlego para voltar a se expor e a falar publicamente o que pensam e fazem. Dias atrás gravaram um vídeo durante uma viagem de carro, onde contam histórias pessoais, inclusive coisas que aconteceram na viagem que fizeram ao Japão junto com o presidente Bolsonaro antes da eleição de 2018. Caso tenha curiosidade, o vídeo completo está no canal do YouTube de Arthur Weintraub, que você pode acessar clicando aqui.

Em outro vídeo nesse mesmo canal, Arthur revela por que ele e o irmão, que eram profissionais bem sucedidos, cada um na sua área de atuação, ambos professores universitários, decidiram largar tudo para tentar ajudar a eleger Bolsonaro. Fala da perseguição que sofreram no meio acadêmico a partir de 2017 por serem contrários às ideologias de esquerda e da vontade de lutar contra a destruição de valores conservadores não só dentro das universidades, mas na sociedade como um todo.

“A gente foi bombardeado com esses valores horrorosos, essas novelas, durante décadas... Os valores de que o bicheiro é o cara bom; o empresário é o otário, sempre valores errados. Era pra gente já ser Sodoma e Gomorra. E o brasileiro conseguiu preservar os valores cristãos, conseguiu se resguardar... O brasileiro falou: não vou aceitar isso aí", diz Arthur no vídeo.

"Como professor, você é pago pra pensar. E eu lembro de ficar pensando junto com o meu irmão e a gente falar: não tem como isso dar certo! Isso que nos fez apoiar o então deputado Bolsonaro, porque era a única hipótese que havia pra quebrar isso que estava ocorrendo."

Arthur Weintraub, irmão de Abraham Weintraub, em vídeo no YouTube

São coisas parecidas com as que diz o ex-ministro da Educação em seu próprio canal no YouTube, criado depois que saiu do governo. O canal de Abraham Weintraub já tem mais de 230 mil inscritos, embora a quantidade de vídeos publicada não seja tão grande. Em suas vídeo aulas fala bastante de economia, explica sobre dinheiro, impostos, inflação e indica livros.

O vídeo de boas vindas a quem chega no canal, aliás, é um trecho de uma das aulas. Com o excesso de sinceridade característico ele provoca os alunos (ou os seguidores do canal), supostamente conservadores.

“Agora eu não vou criticar só a esquerda, os corruptos e os oligopólios. Eu vou criticar você que fala do Scruton”.

Abraham Weintraub no vídeo de boas vindas ao seu canal no YouTube

O ex-ministro refere-se ao filósofo inglês Roger Scruton, que morreu no começo de 2020. Scruton é considerado o intelectual britânico conservador mais bem-sucedido desde Edmund Burke, o pai do conservadorismo. E, assim como Burke, é um dos autores mais citados pelos conservadores.

No vídeo o ex-ministro explica por que menciona que merece crítica quem costuma citar o autor. “Eu vou criticar você que fala difícil, que fala empolado. Você até usa meia quando calça um sapato e não usa calça apertada branca [cutucada direta no jeito de se vestir moderno dos jovens progressistas]". Depois continua: “É muito sofisticado o discurso. Nada contra estudar filosofia, eu gosto. Mas como a gente traduz as coisas pra população?”

Abraham Weintraub segue falando, de uma forma coloquial, sem “empolação”, sobre as ameaças à democracia no Brasil e no mundo, cita Aristóteles. O vídeo tem pouco mais de cinco minutos e pode ser visto aqui.

Professor Abraham Weintraub

Como eu disse antes, o ex-ministro tem publicado aulas em vídeo em seu canal no YouTube, além de também mostrar a rotina e as impressões de um brasileiro em Washington: “tô gravando esse vídeo pra mostrar duas coisas. A primeira é que tá chovendo e tá sol, não sei se dá pra ver", diz ele num dos vídeos. "E a segunda coisa é uma loucura muito grande."

"O que acontece quando uma sociedade resolve por na cadeia quem apronta? É bandido, é ladrão, rouba, atrapalha, põe na cadeia, encarcera o cara. Todo mundo que quer fazer a coisa certa, fica em paz. Como é que são as entregas aqui? Terminei o [trabalho no] banco mundial, estava resolvendo as coisas aqui, eu chego, vou olhar, é direto isso", diz ele saindo para a frente da casa para mostrar encomendas deixadas do lado de fora.

"Vem computador, as coisas são entregas na porta da sua casa e fica aqui ó, desse jeito. E ninguém mexe. Brasileiro é honesto, podia fazer assim no Brasil também. O problema é que aqui você tem 3 a 4% da população adulta masculina encarcerada. E aí, quem não é ladrão pode viver em paz. Olhe isso aqui, ó! Pode ser uma TV de plasma, o que será que é isso aqui? Vamos levar pra dentro e eu conto pra vocês.”

Abraham Weintraub em vídeo no YouTube

Depois disso ele aparece já do lado de dentro da casa abrindo a embalagem. Não era uma Tv de plasma, era uma lousa que ele diz que comprou para voltar a dar aulas. A lousa já aparece em outros vídeos, inclusive naquele que eu mencionei que é o vídeo de boas vindas do canal.

Os vídeos mais recentes do canal são trechos de lives em que o ex-ministro foi convidado a falar sobre assuntos ligados à Educação, como a volta às aulas presenciais e as escolas cívico-militares. Há uma live também em que comenta o apoio que seu irmão recebeu de representantes dos movimentos LGBT depois de criticar aquele rapaz de 19 anos que anunciou publicamente estar namorando uma menina de 12.

Por fim, na live mais recente, fala sobre as bases do conservadorismo e ideologia de gênero, assunto, aliás, que estava para ser discutido no STF. Por decisão do presidente Luiz Fux foi adiado o julgamento que estava marcado para o dia 11 de novembro, da ação do PSOL para tentar mudar, no Judiciário, texto de leis aprovadas no Legislativo, como o Plano Nacional de Educação.

O partido quer incluir no PNE termos usados por quem prega a ideologia de gênero, obrigando as escolas a ensinar as crianças que não é o sexo biológico que define quem é homem ou mulher, tudo não passa de uma construção cultural, ideia que foi derrotada durante as discussões no Congresso.

No vídeo o ex-ministro da Educação se posiciona sobre isso alertando para o risco que o Brasil corre se o STF julgar, como quer o PSOL, que é inconstitucional e discriminatório não permitir por exemplo namoro entre crianças ou adolescentes do mesmo sexo no ambiente escolar.

Tweets elogiados

Apesar da dedicação recente aos vídeos no YouTube o canal de comunicação preferido do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub é o Twitter, onde escreve com regularidade desde abril de 2019, quando criou a conta. Foi logo depois de ter assumido o ministério da Educação, após a demissão do então ministro Vélez Rodrigues.

Nesse um ano e meio no Twitter conquistou quase um milhão de seguidores. Sua foto de perfil atual é uma imagem em que aparece amordaçado, referência a como se sentiu depois da liberação pelo STF do vídeo da reunião ministerial sigilosa com a polêmica fala que acabou gerando muita pressão e está por trás de sua saída do governo.

A imagem de capa no Twitter é uma montagem, com fotos dele com o irmão, o presidente Bolsonaro e uma foto do cachorro. E a provocativa frase: “Meu Twitter, Minhas Regras”. Na descrição do perfil, além da frase ele explica que “tudo aqui é pessoal e de minha inteira responsabilidade! Não reflete a opinião de nenhuma organização da qual eu faça parte”.

Como eu disse no início deste artigo, em suas últimas publicações o ex-ministro conseguiu a proeza de angariar apoio de conservadores e progressistas. Foram seis tweets em dois dias, todos falando de estupro. Em alguns ele comenta o julgamento que provocou revolta em todo o país, em que juiz e promotor ficam calados enquanto o advogado do réu tenta transformar a moça que diz ter sido vítima de um estupro em culpada.

Mas foram as publicações em que fala genericamente do crime de estupro que fizeram do antes odiado Abraham Weintraub, um homem amado por todos.

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