Lula e Bolsonaro são opostos em tudo, mas escolho abordar a diferença nos critérios de escolha de ministros, e os inevitáveis resultados que isso acarreta, para propor uma reflexão. Quanto o país pode melhorar quando a meritocracia, e não a troca de favores, é levada em conta na hora da composição da equipe de governo?
Durante quatro anos o Brasil teve ministros técnicos, a maior parte escolhida pela experiência em sua área de atuação. Paulo Guedes, um economista, na Economia; Tarcísio de Freitas, engenheiro civil, cuidando das obras no Ministério da Infraestrutura; Marcos Pontes, engenheiro aeronáutico, à frente da pasta da Ciência e Tecnologia; Tereza Cristina, engenheira agrônoma, ministra da Agricultura.
Pouco importava sexo, raça, religião, mas sim, capacidade. O que temos hoje? A volta do “toma-lá-dá-cá” e da sinalização de virtude, sem necessariamente, conteúdo. Ser mulher ou indígena, por exemplo, passou a ter mais importância do que os diplomas, o conhecimento e o currículo. Ter ligação com alguém que lulou na campanha vale mais do que experiência profissional.
Não à toa, bastaram poucos dias de governo para surgirem denúncias contra vários integrantes da equipe ministerial de Lula. Já se vão dois meses nessa toada e o país segue à deriva. Mesmo os lulistas de última hora, que haviam se deixado engolir pelo processo de desumanização de Bolsonaro, devem estar com saudade dos ministros técnicos.
Carreta furacão
Para começar essa conversa sobre meritocracia e sobre a necessidade de o Brasil virar a chave, quebrar a cultura de normalização do nepotismo e dos conchavos, puxo a memória recente. É importante olhar para o que aconteceu do dia 30 de outubro (2º turno das eleições 2022) até o fim do ano.
Assim que o TSE anunciou que as urnas eletrônicas tinham elegido Lula para “voltar à cena do crime” (relembrando o alerta feito por Geraldo Alckmin, em 2018, acerca das reais intenções de Lula ao candidatar-se à presidência), a quantidade de gente que foi surgindo na equipe de transição já anunciava o que estaria por vir.
Os quase mil integrantes da carreta furacão, como foi adequadamente apelidada a equipe de transição, foram deixando claro que competência não seria critério para alguém ser oficializado na equipe do governo Lula. Se fosse, algumas poucas dezenas de pessoas teriam dado conta da tarefa de se atualizar sobre a situação do país e começar a planejar ações futuras. Não foi isso que se viu.
Acharam necessário que centenas de pessoas se juntassem para esse trabalho. Era tanta gente que não havia sequer lugar para todos no prédio que costuma abrigar equipes de transição de governo. De lá saíram os 37 ministérios, com ssua carreta de empregos.
Vale lembrar que Bolsonaro governou com 23 ministros; Temer, com 27 e Dilma Rousseff, com 35, número muito exagerado, mas ainda assim, menor que os atuais 37 ministros de Lula.
Ministros de Lula e de Bolsonaro
O inchaço da máquina pública está por trás da PEC do rombo e das consquências já vividas, apenas dois meses após a posse de Lula: aumento de impostos, alta nas projeções de inflação, redução de investimentos, fechamento de postos de trabalho e desemprego.
A diferença do governo com ministério técnico, que estava de saída, para um governo mercenário, com seus 37 ministérios e milhares de novos cargos públicos, não é só de quantidade, mas de qualidade. Basta lembrar que na Economia, principal área do governo, o Brasil trocou Paulo Guedes por Fernando Haddad.
Saiu o economista experiente, respeitado pelo mercado, para dar vez ao político, que anos atrás, numa entrevista, assumiu sequer entender de economia. E nem teve vergonha de dizer que fez um curso rápido só para prestar um concurso e ainda confessou que colava nas provas.
É uma vergonha alguém assim no comando da pasta mais importante do governo. Haddad pode até ter méritos. O da vassalagem política com certeza é um deles, afinal aceitou até ser substituto de um presidiário na corrida para a presidência em 2018, qaundo o “companheiro” Lula estava preso por corrupção e lavagem de dinheiro.
Denúncias contra ministros de Lula
A lista das consequências de se nomear ministros como troca de favores, em agradecimento a apoios de campanha, é longa. Não vou entrar em detalhes, porque o noticiário está repleto de informações sobre, por exemplo, a ministra do Turismo, Daniela do Waguinho.
Basta dizer que foi eleita deputada federal com a ajuda de milicianos da baixada fluminense. Seu colega ministro das Comunicações, Juscelino Filho, o criador de cavalos do Maranhão, quando era deputado asfaltou a estrada em frente à própria fazenda com dinheiro do orçamento secreto.
Podia entrar em detalhes sobre o indicado de Davi Alcolumbre para um dos ministérios, o da Integração Regional, mas é suficiente dizer que o ex-governador do Amapá, Waldez Góes, deu ao atual governo a identidade que faltava: eis que Lula tem em sua equipe alguém também condenado em três instâncias.
Segundo o Ministério Público, que fez a investigação, como governador Góes deu várias pedaladas fiscais. Permitia que servidores pegassem crédito consignado com desconto em folha, mas, em vez de pagar os bancos, retinha a parte do salário que os servidores que era retida na fonte para pagar outras despesas do governo.
O agora ministro Waldez Goes está condenado por peculato a quase 7 anos de prisão e a devolver para os cofres públicos 6 milhões de reais. Está solto, graças à lentidão do Supremo Tribunal Federal em julgar um último recurso, um pedido de habbeas corpus, parado há meses nas gavetas de um ministro que pediu vistas do processo.
"Lacração" de Janja
Teria muito a falar sobre os primeiros dois meses de “destrabalho” dos “desministros” de Lula, mas prefiro focar no tema da meritocracia, da necessidade de não normalizamos a política dos conchavos ou a lacração ideológica. Ocupantes de cargos do mais alto escalão da República deveriam ser escolhidos por formação, experiência e conhecimento técnico.
Por isso termino o artigo com o convite a clicar no vídeo publicado no topo da página. Nele mostro um trecho da fala de Janja, a primeira-dama que demonstra querer ter status de rainha, num sistema de governo não monárquico.
Durante café da manhã nesta quarta (1), ela abriu o “mês da mulher” empunhando o microfone, como se fizesse parte da equipe de governo. E tentou lacrar, enaltecendo a grande equipe feminina, composta por 11 ministras mulheres e duas "presidentas" de bancos públicos, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
Ainda que o importante tema da violência contra as mulheres tenha sido abordado, a falta de meritocracia na escolha do ministério acabou roubando a cena. Pelas falas de Janja e das ministras, ficou evidente que não foram critérios técnicos e sequer, políticos, que pesaram na escolha e sim, o sexo biológico.
Ser mulher (ou pessoa com útero, como a turma gosta de dizer) parece ter sido a condição número 1 para ascender ao cargo. Se esse é o governo da inclusão, do amor, da igualdade, por que, de 37 ministérios, só 11 são ocupados por mulheres (menos de um terço)?
Com tantas economistas bem sucedidas, alinhadas ideologicamente à esquerda, por que Haddad, um político que afirma não entender nada de economia, foi o escolhido para assumir o Ministério da Economia?
Cadê a igualdade prometida? Ou será que não precisamos mesmo dividir tudo meio a meio, neste caso, dando 18 ministérios aos homens e 19 às mulheres, ou vice-versa?
Meritocracia
Acredito que o Brasil teria mais chances de não afundar na recessão que se anuncia, se tivéssemos ministros escolhidos por sua idoneidade, honestidade e currículo.
Meritocracia como critério de promoção e nomeação costuma ser bom para todos, já que traz resultados para a coletividade e ainda estimula os menos capazes a correr atrás do prejuízo para, quem sabe um dia, também eles ascenderem na carreira.
Já pensou se os brasileiros não tivessem se permitido dividir, ao menos nesse quesito, e eleitores de esquerda, direita ou centro estivessem todos exigindo ministros técnicos, puoco importando sexo raça, religião ou qualquer outra preferência, apenas formação, conhecimento de área e mérito?