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Suicídio de transgêneros foi tema de artigo recente publicado na Editoria Ideias aqui na Gazeta do Povo. O assunto é delicado e quase toda vez que vem à tona é tão carregado de preconceito que não gera a reflexão necessária para o debate evoluir de forma a melhorar a vida de todos que convivem com essa dor.

Não é o caso da reportagem em questão. Ela induz o leitor a parar para pensar nas angústias e pressões que vive quem não se sente no corpo certo. E no tanto que determinadas decisões, iniciativas e narrativas adotadas nos últimos anos podem estar piorando a situação dessas pessoas, em vez de ajudar.

Depois de me pegar refletindo sobre o assunto achei por bem colocar em vídeo as informações do artigo escrito pelo jornalista Gabriel de Arruda Castro para levar o tema também para as redes sociais, dando mais visibilidade a esse problema que atinge tantas famílias. Quanto mais gente receber informações de forma honesta menor será a rejeição ao diferente.

O artigo da editoria Ideias pode ser lido aqui. Para acompanhar minha análise em vídeo clique no play da imagem no topo da página. Segue o roteiro com as informações e reflexões.

Suicídio de transgêneros

No artigo "Por que a taxa de suicídio entre os transexuais é tão elevada", publicado aqui na Gazeta do Povo na última quinta (18), o jornalista Gabriel de Arruda Castro tenta explicar por que a taxa de suicídio nesse grupo específico de pessoas é de 4 a 10 vezes maior do que na população em geral, segundo estudiosos do assunto.

A reportagem cita que, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 40% das pessoas que se identificam como sendo do gênero oposto ao do nascimento já tentaram o suicídio.

Esse índice não é registrado só entre adultos, mas também entre adolescentes. Um dos maiores e mais abrangentes estudos sobre o tema, feito em 2018 pela Associação Americana de Psiquiatria, levantou que 41% dos adolescentes transgêneros já tinham tentado o suicídio, enquanto que a média entre os demais adolescentes era de 14% (índice que por si só já incrivelmente alto).

Seria natural pensar que o preconceito e a falta de aceitação social são a razão para tantos suicídios nesse grupo específico da população, mas não é o que mostram as pesquisas. Uma delas, feita pelo Instituto Williams, da Universidade da Califórnia, revelou que o índice de suicídios é maior entre transexuais assumidos do que entre aqueles que preferem carregar a angústia sozinhos por medo de discriminação.

Os pesquisadores também se debruçaram sobre a questão da aceitação social, entrevistando transexuais assumidos, que têm apoio da família. 80% deles revelaram já ter pensado em suicídio e 37% disseram que já tinham efetivamente tentado se matar. A conclusão é que o preconceito não é o único nem o principal fator por trás das estatísticas de suicídio.

Comparações com outros grupos também historicamente discriminados, como os negros sul-africanos durante a vigência da política de segregação racial do apartheid e os sobreviventes do Holocausto também não trouxeram respostas.

Os negros da África do Sul cometiam menos suicídio que os brancos, que não eram discriminados. No grupo que sobreviveu ao Holocausto 24% cometeram suicídio. É um número bem alto, mas menor que os 40% registrados entre transexuais.

Ideologia e politização do tema

Diante de tantos dados é de se perguntar: que outras possíveis causas estrariam por trás de tamanha tragédia? A reportagem cita como os grupos LGBT tem atuado em relação aos transexuais. Normalmente o discurso é de estímulo para que homens e mulheres que não se sentem no corpo certo assumam a transexualidade.

Há um incentivo aberto também às terapias hormonais e até às cirurgias para mudança de sexo. Será que isso é suficiente para resolver problemas emocionais como depressão e pensamentos suicidas? Se fosse assim a causa de tanto desconforto estaria no corpo do transexual e não externamente, na forma como os outros veem e tratam pessoas trans.

Não há nenhum estudo conclusivo a respeito disso, nem estatísticas confiáveis. E como o tema foi muito politizado nos últimos anos, com a tentativa de impor a tese de que ninguém nasce homem ou mulher, o sexo é só uma construção social (a tão falada ideologia de gênero), a coisa só piorou.

Os grupos LGBT e quem diz defender minorias insistem que só o ensino da ideologia de gênero nas escolas, para crianças pequenas; e o estímulo a terapias hormonais desde a infância ou pré-adolescência, o que não é autorizado no Brasil, podem ajudar a combater o preconceito e melhorar a vida dos transexuais.

O artigo de Gabriel de Arruda Castro levanta um ponto crucial: “A tese de que o alto índice de suicídio entre pessoas transexuais se deve ao preconceito, e que a cirurgia precoce é eficaz para amenizar o problema, é fundada mais em princípios ideológicos do que em observações empíricas."

Ele também diz que "uma das explicações alternativas para o alto índice de suicídios entre transexuais é a simples correlação entre dois transtornos mentais. Na verdade, pelo paradigma científico, toda pessoa trans possui um distúrbio mental."

Distúrbio mental?

Eis o maior problema e que afeta não só o debate, mas até a possibilidade de ajuda maior a pessoas que, nessas condições de não aceitar o próprio sexo, chegam ao limite da dor emocional e pensam em suicídio.

Nos Estados Unidos a disforia de gênero é descrita no Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria. A definição do transtorno é "uma nítida incongruência entre o gênero expressado por alguém e o gênero atribuído a ele, com duração de pelo menos seis meses e que inclua a manifestação de pelo menos dois sintomas de uma lista de seis, dentre eles um forte desejo de pertencer ao outro gênero."

Ou seja, se o paradigma científico reconhece um distúrbio mental nas pessoas que se sentem no corpo errado, mais eficiente do que modificar a estrutura física desse corpo, seria ajudar essas pessoas a lidar psicologicamente com seu estado emocional, certo?

Estou fazendo um assumido "copia e cola" do artigo da Editoria Ideias, para os leitores que eventualmente não tenham lido o original acompanharem melhor minha análise. Uma das pessoas citadas lá é a jornalista Eugênia Rodrigues, que pesquisa o assunto e criou uma campanha chamada “No Corpo Certo”. Ela faz uma comparação questionável, mas interessante.

Uma pessoa com anorexia, que costuma não comer por se achar gorda, não vai ser estimulada por ninguém a fazer dieta para ficar com a aparência que quer. Pelo contrário, será orientada a procurar ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra. Isso não ocorre quando um homem se acha mulher ou uma mulher diz que se sente como sendo homem.

Eugênia Rodrigues, jornalista

Aqui no Brasil o Conselho Federal de Psicologia proibiu, em 2018, que a transexualidade fosse considerada patologia ou tratada como doença. A Resolução CFP 001-2018 segue modificação proposta pela Organização Mundial de Saúde que nem todos os países adotam.

Isso foi recebido pelo movimento LGBT como uma vitória contra o preconceito, mas na verdade pode ter acentuado o problema. Ao invés de permitir que as pessoas trans sejam ajudadas por um profissional de Psicologia a pensar melhor sobre a sua condição, elas são mais estimuladas a fazer uma cirurgia, muitas vezes sem estar preparadas para isso.

O que acontece na prática é que um trans depressivo que procure o psicólogo em busca de tratamento emocional para um possível distúrbio mental não pode ser tratado, porque a disforia de gênero não é reconhecida, não existe no dia a dia dos consultórios.

Ele pode tratar uma paixão platônica por um heterossexual do mesmo sexo ou algo assim, mas não pode olhar terapeuticamente para a sua própria condição. E se for um distúrbio mental? Todo mundo sabe que distúrbios mentais não tratados tendem a piorar.

Não é possível tratar pacientes de forma a tentar reverter algo que pode estar simplesmente no plano mental, mas estimulam-se cirurgias de mudança de sexo e terapias hormonais pesadas, que são irreversíveis?

Reflexões dos leitores

Para quem se propõe a debater o tema de forma honesta está claro que a discussão não deveria ser política, mas de saúde. Depois de ler o artigo vários leitores se manifestaram, defendendo que há uma questão psíquica sendo negligenciada.

"Acompanhei casos onde a cirurgia não era a solução, demonstrado pelo fato de que a pessoa que exigia a cirurgia judicialmente acabava não indo fazer. Esse é o lado perverso da "cobrança social". Hoje fazer uma cirurgia de mudança de sexo é bem visto e até incentivado. E às vezes a pessoa não quer chegar a esse ponto, mas tem medo de ser mal vista em alguns círculos", escreveu o assinante identificado por Carlos na área de comentários.

Alguns apontam que a cultura de glamourizar os trans praticamente isola todas essas pessoas dos demais grupos sociais e faz com que se sintam cada vez mais solitárias, sugerindo que isso pode estar por trás das altas taxas de suicídio.

Outro questionamento pertinente é o quanto pode ser maléfica uma política de cotas para transexuais em cursos universitários ou no mercado de trabalho. Isso não garante necessariamente socialização ou aumento de autoestima para quem já se sente rejeitado. Acompanhamento psicológico ou psiquiátrico, sim, pode fazer a pessoa aceitar-se como é. Se nem ela se aceita, como pode exigir que os outros a aceitem?

Outro leitor escreveu que os trans “primeiro destroem sua identidade pela mutilação, depois descobrem que não são mais nem uma coisa nem outra e que aquele tratamento com hormônios o transformou em algo que nem de perto é o que sonhava. O suicídio passa a ser uma fuga.”

Isso não é preconceito, são coisas para se pensar. Essas pessoas precisam da ajuda certa, vinda de profissionais certos. A sociedade deveria estimular o Conselho Federal de Psicologia a rever sua posição e permitir que psicólogos tratem pacientes trans a partir da ótica de que podem ter um distúrbio mental.

Deixá-los à mercê da pressão de grupos movidos por ideologias é cruel. As eternas tentativas de dividir a sociedade entre opressores e oprimidos não têm produzido resultado positivo para quem mais precisa de apoio. Mentes e corpos sequestrados por ideologias fazem com que essas pessoas virem vítimas de si mesmas.

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