Menos de um ano após a tragédia das cheias no Vale do Taquari, o Estado do Rio Grande do Sul volta a ser atingido pelas fortes chuvas e inundações que seguem. Este ano, porém, o inimaginável aconteceu: as altas dos rios, as enchentes e o alcance do evento climático tem sido ainda pior que o ano passado. Apenas para se ter uma ideia, em setembro de 2023 o nível da água do Rio Taquari chegou a 29,70 metros. Neste dia 02 de maio de 2024 já estava a 32,60 metros e subindo.
Toda essa tragédia repetida traz consigo um acúmulo de perdas, tristeza e dor. Muitas famílias, que ainda se recuperavam dos prejuízos materiais e traumas do episódio anterior, são obrigadas a ver o mesmo filme diante de seus olhos. E, novamente, já se conta dezenas de mortos e desaparecidos em meio a enxurradas e deslizamentos.
O cenário, segundo relatos, é de guerra. Muitas pontes foram arrastadas pelas águas. Uma barragem já se rompeu, e as autoridades mandaram evacuar moradores ribeirinhos de sua proximidade. Alguns municípios do Rio Grande do Sul estão isolados, inacessíveis pela via terrestre. Em algumas localidades chegou-nos a informação de que até mesmo as aeronaves do governo e helicópteros tiveram dificuldade de fazer aproximação para realizar resgates devido aos ventos, intensidade das chuvas e riscos de raios.
Diante de todo esse caos, as pessoas precisam de ajuda. Nesse tipo de tragédia natural é muito comum o envio de recursos, roupas e alimentos para alívio imediato – o que é, de fato, muito importante. Contudo, há um outro período lento de restauração, demorado e mais difícil, que é a reconstrução da vida dos atingidos. Além de roupas e alimento, as famílias necessitam reconstruir seus lares a partir, muitas vezes, do zero.
Após as águas baixarem em setembro de 2023, muitas pessoas retornaram para suas casas e encontraram seus móveis e eletrodomésticos totalmente estragados ou apodrecidos, e necessitaram mobiliar novamente todos os cômodos. Alguns retornaram para descobrir que nem casa tinham mais. Contudo, é muito encorajador perceber como a própria comunidade se organiza para se reestruturar. E aqui entra o papel vital das organizações religiosas, destacadamente igrejas locais, em que muitas dessas famílias afetadas congregam e já têm uma vida comum há anos.
No ano passado, uma das cidades mais atingidas pelas cheias no Rio Grande do Sul foi Lajeado, no Vale do Taquari. A maior Assembleia de Deus da cidade sempre teve um forte envolvimento com a comunidade local, oferecendo, além da pregação da Palavra de Deus, assistência social às pessoas mais carentes da região. Apesar de ter sido duramente afetada em seu próprio prédio, essa igreja, sob a liderança do pastor Daniel Fich, organizou uma ação para ajudar muitas famílias que precisaram mobiliar suas casas. Desta vez, essa mesma igreja (a água alcançou a cruz no alto do templo) e essa mesma comunidade voltam a ser afetadas, e irão precisar de ajuda para reconstruir.
Esse trabalho não foi realizado isoladamente, pois através da intermediação de uma organização cristã de ajuda humanitária, a chamada Ajuda Barnabas, realizou-se uma campanha para arrecadar recursos vindos do Brasil inteiro para serem enviados à região, e direcionados diretamente para as famílias atingidas.
Foi tocante ver a mobilização local e nacional por parte de cristãos do país inteiro contribuindo por uma causa social e para o bem público
Muitas vezes ouvimos que a Igreja só atua onde o Estado não consegue alcançar, e isso seria culpa dos governantes e gestores públicos. Contudo, essa é uma visão distorcida de sociedade. Primeiro lugar, porque o Estado não é onipresente. É simplesmente impossível que o Governo consiga atender todas as demandas sociais recorrentes e rotineiras, quanto mais situações de urgência que demandam ação imediata, e que precisam alcançar muitas regiões ao mesmo tempo.
A sociedade civil se organiza de várias maneiras a fim de prestar socorro, não em concorrência, mas de forma conjunta com o Estado. E as organizações religiosas, tais quais as igrejas, são as instituições civis com mais capilaridade e alcance para prestar o pronto atendimento às vítimas de tragédias naturais.
Esse tipo de ação conjunta entre Estado e instituições religiosas realça a beleza e a importância da laicidade colaborativa brasileira. Nesse modelo, disposto de forma expressa no art. 19, Inc. I, da Constituição, é permitida a colaboração de interesse público entre o poder público e as organizações religiosas.
Erra quem pensa que a religião não pode, ou não deve, imiscuir-se em assuntos públicos ou problemas sociais. É justamente a possibilidade de atuação conjunta que faz a sociedade ser ainda mais forte e maior.
Ninguém nega a importância do Estado, que também tem uma capacidade imensa de oferecer auxílio efetivo nesse tipo de situação. Mas fosse como alguns querem, que somente o Estado poderia cuidar da população, esse tipo de tragédia, como as enchentes no sul do Brasil, deixariam um rastro muito mais duradouro de destruição e traumas. Lembrando ainda que o Estado pouco pode fazer para dar acompanhamento psicológico pós-traumático, e absolutamente nada consegue somar ao auxílio espiritual aos que tudo perderam, inclusive aos enlutados que precisam lidar com o óbito de seus entes queridos.
O bem público material e as ações sociais podem ser administrados em colaboração entre Estado e religião. Mas há também bens transcendentes que estão em jogo. As pessoas possuem alma, que só a Igreja pode alcançar.
O Rio Grande do Sul enfrenta, mais uma vez, as dificuldades de grandes enchentes. Após as águas descerem, lares precisarão ser reconstruídos. Se você deseja ajudar de forma prática famílias das regiões afetadas, faça um depósito de qualquer valor via PIX para a conta da Assembleia de Deus de Lajeado através desta chave: ieadlajeado@hotmail.com. Apenas mencione no comentário: AJUDA NA ENCHENTE. Sua ajuda irá auxiliar na restauração dos bens materiais das famílias atingidas, e possibilitará que as Igrejas da região ofereçam o auxílio espiritual que somente pode ser prestado pelas organizações religiosas e seus ministros que lá estão.
Coautor do texto: Warton Hertz de Oliveira. Mestre em teologia pela EST, advogado, conselheiro fundador e diretor técnico do IBDR – Instituto Brasileiro de Direito e Religião.
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