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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica sideral

A luta de classes vai ao espaço

O espaço é o novo campo de batalha ideológica (Foto: Reprodução internet)

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No momento em que a humanidade está vidrada em questões microscópicas e intracorpóreas - como vírus, proteínas spike, anticorpos e vacinas - rapidamente os poderosos do mundo investem bilhões em tecnologias para fora do planeta. Elon Musk corre com seus projetos para levar o homem a Marte e oferecer internet gratuita para toda a humanidade por meio de sua megaconstelação de satélites. Este, porém, é o lado mais corporativo da empreitada. Pensando no âmbito militar, a coisa vai ficando cada vez mas estranha. Por qual motivo você acha que, no dia 20 de dezembro de 2019, Donald Trump criou a Força Espacial dos Estados Unidos, inaugurando o sexto braço das Forças Armadas americanas? O grupamento assumiu todas as operações militares no espaço sideral. Se eles fizeram isso, é porque havia uma ameaça iminente. E tal ameaça foi materializada no início da semana passada.

No último dia 15 de novembro (segunda-feira), a Rússia explodiu um de seus próprios satélites, naquilo que foi descrito como um teste antissatélite. O problema é que a destruição, causada por um míssil, produziu uma nuvem de estilhaços que colocou a tripulação da Estação Espacial Internacional em grande perigo, incluindo os dois astronautas russos que nela trabalham. Quando li essa notícia, vieram duas perguntas em minha mente. Por que fazer isso? Por que agora? Explico.

Na semana passada, refletimos sobre a nova Guerra Fria entre americanos e russos, que está se tornando muito “quente” na fronteira entre Belarus (aliada de Moscou) e Polônia (membro da Otan). Outro ponto de tensão nessa disputa é a Ucrânia, vizinha da Rússia, mas que conta com apoio dos Estados Unidos.

Hoje mesmo, o Ministério da Defesa russo acusou Washington de simular, por meio de exercícios militares, um ataque nuclear contra Moscou no início deste mês. Segundo Sergei Shoigu, ministro da Defesa de Putin, bombardeiros americanos chegaram bem próximo da fronteira russa, distando apenas cerca de 20 quilômetros. Além disso, Shoigu criticou o suposto fornecimento de armas para a Ucrânia e a utilização de drones turcos para conter grupos separatistas (apoiados pelos russos) na fronteira leste ucraniana.

Diante desse cenário, qual foi a maneira encontrada pelos russos para mandar uma reposta incisiva à Otan e aos EUA? A reação de Moscou foi mostrar que pode explodir todos os satélites da Organização do Tratado do Atlântico Norte e cegar "todos os seus mísseis, aviões e navios, para não falar das forças terrestres". É realmente um cenário preocupante, uma vez que isso pode gerar um “apagão” global em termos de comunicação.

Você entende agora o motivo pelo qual Trump criou a Força Espacial dos Estados Unidos? O espaço está se transformando no próximo campo de batalha. Não apenas destruindo satélites, mas criando equipamentos que podem, a partir do espaço, lançar projéteis na Terra. A maioria desses projetos são completamente desconhecidos da grande população. Vou dar apenas uma palhinha para vocês.

Em 1967 mais de cem países assinaram um acordo que impede qualquer nação de depositar armas nucleares no espaço. As ogivas permanecem alojadas em bunkers e submarinos. A simples ideia de imaginar bombas atômicas flutuando sobre nossas cabeças é suficiente para tirar o sono de qualquer um. Porém, para contornar o tratado, a Força Aérea dos Estados Unidos teve uma ideia simples, mas tão assustadora quanto. O Projeto Thor é uma concepção “teórica” que depositaria uma enorme vara de tungstênio, do tamanho de um poste de luz, num dispositivo no espaço, de forma que pudesse ser lançada facilmente a qualquer alvo terrestre. O chamado "bastão de Deus" chegaria no solo com uma velocidade 10 vezes mais rápida que o som, cerca de 11.200 km/h. O impacto seria tão forte que a potência se assemelharia àquele de uma bomba atômica, mas sem o problema da radiação posterior. Seria uma arma perfeita para destruir bunkers, uma vez que atingiria considerável profundidade.

Você acha que Elon Musk, Jeff Bezos, Richard Branson, Trump e Putin estão brincando de passear no espaço? Eles sabem muito bem o que está em jogo. E não espere bom senso desse pessoal. Lembre-se que os russos acabaram de explodir seu próprio satélite, colocado em perigo a Estação Espacial Internacional, que eles mesmos ajudaram a construir, e os seus dois astronautas que trabalham lá. Isso tudo, meramente como demonstração de força. Se Marx controlar o espaço, só nos restará contar com a ajuda dos céus mesmo. Deus nos livre.

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