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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica estelar

Drones em Nova Jersey: encobrir Biden ou impedir posse de Trump?

(Foto: Vilius Kukanauskas/Unsplash )

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Encerrei meu texto anterior perguntando se o recente enxame de drones em Nova Jersey, nos EUA, seria apenas um teste de novos drones da CIA ou se haveria uma agenda mais sinistra sendo implementada? Para o especialista em segurança Jeffrey Prather, há algo mais profundo, e tudo estaria relacionado ao próximo dia 20 de janeiro. Explico.

A segunda camada neste mistério (a primeira comentei na coluna anterior) estaria relacionada a uma operação secreta de busca a um material atômico extraviado. Alguns afirmaram que havia um container CAT3 (categoria 3) em Nova Jersey perdido. Lembrando que um container de material nuclear de categoria 3 representa uma carga selada que contém um volume de material radioativo suficiente para causar danos irreversíveis a alguém que o manuseie sem a devida segurança. A hipótese foi levantada pela primeira vez pelo ex-oficial de eliminação de artefatos explosivos da Marinha dos EUA, Tom Sauer. Segundo ele, a suposta carga radioativa teria desaparecido em Nova Jersey no último dia 2 de dezembro. A informação foi posteriormente confirmada pelo prefeito de Belleville, Nova Jersey, Michael Melham, sugerindo que o material pode ter chegado pelo Terminal Marítimo Port Newark–Elizabeth. O político afirmou que o container chegou ao porto, mas estava danificado e vazio. A informação apareceu numa matéria recente da Forbes, que cita a seguinte fala de Melham:

“Isso não é uma teoria da conspiração, isso não é um rumor. O Comitê Regulador Nuclear dos EUA emitiu em seu oficial um alerta para material radioativo desaparecido em Nova Jersey em ou por volta de 2 de dezembro. Ele foi enviado. Chegou danificado e vazio. Agora, eu nunca disse que acredito que estávamos lá procurando especificamente por isso. Mas eu disse em outras entrevistas que o fato de estarmos lá em cima farejando algo significa, na minha opinião, que estamos cientes de uma ameaça específica e potencialmente eles podem estar cientes de algo que chegou por um porto.”

O prefeito citou outro estranho argumento para defender sua tese: a decisão de Donald Trump de cancelar o fim de semana que passaria em Bedminster, Nova Jersey. Ele avaliou a postura como "assustadora", interpretando que o presidente eleito teria sido motivado por preocupações com sua segurança, talvez motivado pelos briefings diários de inteligência aos quais ele tem acesso.

Antes de continuarmos, preciso fazer um alerta: a partir daqui a conversa irá descambar para um mundo insólito de teorias mirabolantes. Por isso, coloque seu chapéu de alumínio e aperte dos cintos

Porém, na entrevista que citei na matéria anterior, Jeffrey Prather defende que não faz sentido o enxame de drones nos EUA estar relacionado com essa suposta missão de busca por uma suposta carga radioativa extraviada. Segundo ele, isso seria, na verdade, uma “cover story”. No universo da inteligência, uma “cover story” pode se referir a uma identidade ou um cenário construído para ocultar as reais intenções de um agente ou de uma instituição. Segundo Prather, uma operação de busca por material radioativo não seria realizada da forma como esses drones de New Jersey estão se comportando. A operação não envolveria aeronaves iluminadas, com luzes piscantes e seguindo os regulamentos da FAA (a Administração Federal de Aviação). Se este fosse o caso, tudo seria realizado de forma muito discreta, com uma equipe de resposta a emergências nucleares e efetivos do Departamento de Energia, aquele responsável por lidar com questões de natureza atômica.

Portanto, para Prather, como esse caso dos drones nos EUA não está acontecendo de forma discreta, mas descarada, provavelmente se trata de uma “operação de influência”, junto com uma “operação psicológica”. Segundo site da Rand Corporation, as “operações de informação e guerra”, também conhecidas como “operações de influência”, incluem a coleta de informações táticas sobre um adversário, bem como a disseminação de propaganda em busca de uma vantagem competitiva sobre um oponente. Segundo essa hipótese, o especialista em segurança defende que a primeira parte da operação psicológica envolveria uma estratégia de diversionismo, num esforço de desviar o foco da opinião pública para longe de um tema que se quer ocultar. O objetivo seria, portanto, fazer com que as pessoas não pensassem nas coisas estranhíssimas realizadas pela administração Biden, como, por exemplo, o caos na fronteira e o perdão que o presidente concedeu ao seu próprio filho.

Mas Prather vai além. Ele defende que há um desespero neste final da administração Biden, de modo que muitos poderosos estão com receio de que seus delitos sejam revelados e eles acabem na cadeia. Podemos citar o exemplo do general Mark Milley. Uma matéria recente defendeu que ele temia ser levado à corte marcial se Trump vencesse. Isso sem falar nos bilionário que apoiaram Kamala Harris, muitos dos quais constavam na infame lista de Jeffrey Epstein. Segundo a tese de Prather, isso estaria levando a atual gestão a cogitar meios para, talvez, impedir a posse de Trump, ou fazendo com que o início da nova gestão, a partir de 20 de janeiro, seja envolto num caos tão grande que eles não tenham tempo para mobilizar o Departamento de Justiça contra os erros da administração Biden.

Mas que tipo de caos poderia gerar esse tipo de situação? Bem, recentemente o pediatra Peter Hotez, que ficou muito famoso defendendo as medidas de proteção durante a pandemia, deu uma entrevista prevendo que a gestão Trump enfrentará uma nova pandemia logo no início. Numa participação na MSNBC no último dia 4, o médico alertou que Trump terá que lidar uma enxurrada de doenças infecciosas assim que assumir o cargo. Ele disse o seguinte:

"Temos algumas coisas importantes surgindo a partir de 21 de janeiro. Temos outro grande coronavírus provavelmente se formando na Ásia. Tivemos SARS em 2002, SARS-CoV-19 em 2019, e sabemos que esses vírus estão saltando de morcegos para pessoas milhares de vezes por ano, mas ainda há mais. Sabemos que temos um grande problema com vírus transmitidos por mosquitos em toda a Costa do Golfo, onde estou aqui no Texas. Estamos esperando a dengue e possivelmente o vírus Zika voltando, ou o vírus Apuche, talvez até a febre amarela, e há mais. Tudo isso vai desabar no dia 21 de janeiro sobre a administração Trump. Precisamos de uma equipe muito, muito boa para conseguir lidar com isso".

Estranho, não? Isso me lembrou quando, ainda em 2017, Anthony Fauci afirmou o seguinte sobre a primeira gestão Trump, que estava a dez dias de iniciar: “Não há dúvida de que haverá um desafio para a próxima administração na área de doenças infecciosas", disse Fauci durante seu discurso "Preparação para pandemias na próxima administração". A fala aconteceu no dia 10 de janeiro de 2017, durante um fórum sobre preparação para pandemias na Universidade de Georgetown. O encontro foi promovido pelo Centro de Ciência e Segurança da Saúde Global, em conjunto com o Instituto de Saúde Global da Universidade de Harvard.

Porém, para Jeffrey Prather, a maior preocupação não é uma nova pandemia, mas o uso dessa “cover story” de que um material nuclear foi extraviado para justificar um ataque de bandeira falsa realizado contra os EUA, colocando-se a culpa nos iranianos, norte-coreanos, russos ou chineses. Seria algo como o plot do filme O Mundo depois de nós, que foi produzido pela Higher Groud Productions, do casal Obama.

Antes de continuarmos, preciso fazer um alerta: a partir daqui a conversa irá descambar para um mundo insólito de teorias mirabolantes. Por isso, coloque seu chapéu de alumínio e aperte dos cintos. Continuando: Jeffrey Prather defende, portanto, que o objetivo seria detonar algum tipo de explosivo, justificar que se tratava desse material atômico que foi extraviado, culpar os iranianos e instaurar um cenário de COG (Continuity of Government, continuidade do governo). Prather estima que isso poderia acontecer antes da posse de Trump, agendada para o dia 20 de janeiro, ou logo após. Isso colocaria o NORTHCOM no comando do país. O Comando Norte dos Estados Unidos (USNORTHCOM) é um dos onze comandos unificados de combate do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Este é o comando militar dos EUA que seria o principal defensor no caso de uma invasão ao país. Para eles, essa seria uma solução muito viável, porque os poderosos da gestão Biden não querem o Departamento de Justiça de Trump mobilizado contra eles deles. Caso seja criado um cenário de ameaça externa, eles conseguiriam deixar os departamentos de Justiça de Defesa completamente focados nesse suposto perigo vindo de fora, impedindo que haja tempo e recursos suficientes para focar nos erros da gestão anterior.

Jeffrey Prather chegou, inclusive, a vincular o assassinato do general russo Igor Kirilov a este plano mirabolante. O tenente-general russo era ninguém menos do que o chefe das Tropas de Defesa Química, Biológica e Nuclear das Forças Armadas Russas. A unidade militar de Kirillov havia sido acusada pelos EUA e pela Ucrânia de ter usado a arma química cloropicrina, proibida internacionalmente pela Convenção sobre Armas Químicas, que a Rússia ratificou. Como Kirilov era o expert nuclear russo, agora seria possível criar a narrativa de que houve SADAMS (Special Atomic Demolition Munition, ou seja, Munição Atômica Especial de Demolição) que foram “perdidas” ou “extraviadas”. Ou seja, matando o Kirilov, abre-se caminho para o surgimento da eventual tese de que os CBRMs (chemical, biological, radiological, and nuclear defense) dos russos estariam fora de controle, se perderam e teriam chegado aos EUA por meio de drones iranianos, lançados daquela “nave mãe” iraniana citada na primeira parte deste artigo.

Inclusive, recentemente foi noticiado que o serviço secreto alertou Donald Trump que ele poderia ser atacado por um drone iraniano nos EUA. Cabe lembrar que o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, prometeu vingar a morte do general Soleimani, autorizada por Trump e ocorrida no dia 4 de janeiro de 2020. Por isso, os iranianos divulgaram um vídeo animado em que Trump é atingido por um drone num campo de golfe. O vídeo foi divulgado no próprio site oficial do líder supremo de Teerã, o aiatolá Ali Khamenei.

Jeffrey Prather encerra a entrevista afirmando que podemos esperar um bombardeio ou uma simulação de bombardeios na embaixada americana em Kiev, ou mesmo em solo norte-americano, com o fim de ativar a continuidade do governo via Northcom, talvez até mesmo adiando a posse de Trump. Outro envolveria Trump empossado, mas sem tempo nem recursos para mobilizar sua equipe para investigar os delitos da gestão anterior. Neste caso, seria argumentado que os drones que apareceram nos EUA seriam de origem iraniana, e que eles teriam extraviado o equipamento nuclear do porto em Nova Jersey e detonado o artefato contra os americanos. Um terceiro cenário seria, conforme o vídeo iraniano, um ataque contra Trump nos EUA por meio de um drone supostamente vindo de Teerã.

Parece cenário de filme. A probabilidade de acontecer é mínima. O tempo dirá. Fica a reflexão.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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