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Bill Gates e Xi Jinping possuem em comum não apenas o interesse em estudar pandemias, mas também o controle climático
Bill Gates e Xi Jinping possuem em comum não apenas o interesse em estudar pandemias, mas também o controle climático| Foto: Financial Times/Getty Images

A pandemia surgiu como uma enorme surpresa, que ceifou empregos, vidas e sonhos. Mas, por outro lado, abriu um cenário de oportunidades para quem tinha dinheiro em caixa. Com a crise econômica, muitos conseguiram comprar imóveis mais baratos, aumentar sua exposição ao dólar etc. Agora imagine um fundo de investimento trilionário que conta, além de seu gigantesco patrimônio, com a ajuda estatal no caso de um possível risco de falência. Eles teriam capacidade de comprar cidades, estados e quase países inteiros. A transferência de bens e serviços do cidadão comum e dos pequenos negócios para os grandes players do mercado abriu caminho para uma enorme concentração de capital e de poder, o que cria o ambiente perfeito para que sejam tirados da gaveta os projetos mais loucos e ambiciosos.

No artigo anterior, comentei sobre uma matéria do Wall Street Journal mostrando que os fundos de investimento estão direcionando pesadamente suas estratégias na compra de residências nos EUA. Em alguns casos, pagam valores acima da avaliação de mercado. Esses conglomerados conseguem conduzir essa prática, talvez, por saberem que o Banco Central norte-americano vai continuar imprimindo dinheiro desenfreadamente para garantir eventuais prejuízos. Um privilégio impensável para o cidadão comum, que sempre acaba pagando pelas ajudas que o governo concede às empresas consideradas “too big to fail”, ou seja, “grandes demais para fracassarem”. Porém, assim como aconteceu na sequência da crise de 2008, essas megacorporações devem continuar sendo subsidiadas pelo tesouro americano, o que lhes oferece ainda mais incentivo para “ousar” em suas operações.

O novo problema é que, enquanto esse movimento acelerado de aquisição de imóveis pelos maiores fundos de investimento do mundo pode conduzir a uma nova bolha imobiliária, aqueles que se cansaram da vida nas grandes cidades também estão vendo uma estranha situação surgir. Outros conglomerados estão investindo pesadamente na aquisição de terras agricultáveis, o que fez de Bill Gates, por exemplo, o maior detentor privado desse tipo de propriedade no ano de 2021. Para o criador da Microsoft, o objetivo de gastar tanto dinheiro na compra de terras é totalmente nobre: desenvolver sementes mais produtivas, evitar o desmatamento, expandir a produção de biocombustíveis e ajudar o continente africano a superar suas dificuldades climáticas. Tomara que seja isso mesmo. Mas, num mundo onde escutamos falar tanto em Great Reset, Green New Deal, Quarta Revolução Industrial e capitalismo verde, tudo parece fazer parte de um processo mais amplo: reformar a relação dos humanos entre si, com o Estado e com a ideia de propriedade privada. Se as residências e as terras agricultáveis estiverem nas mãos dos grandes conglomerados, a ideia de que “você não terá nada, mas será feliz” pode estar passando de uma tendência para uma agenda.

A cada dia, surge uma ideia mais louca que a outra. Falando em Gates, não podemos nos esquecer do seu projeto de borrifar poeira na atmosfera para escurecer o sol, com o fim de solucionar o problema do aquecimento global. Eu achei que o magnata da tecnologia já havia abandonado esse pensamento, mas uma matéria recente na revista Forbes mostrou que o plano está mais firme do que nunca, uma vez que estava programado para este mês de junho o lançamento de um balão na Suécia que liberaria pó de calcário como teste. Graças à manifestação de organizações ambientais e conselhos indígenas o experimento foi interrompido. Muitos começaram a questionar: a quem caberia a decisão de modificar o clima? A pergunta esconde uma realidade: tais estudos são antigos, ambiciosos e possuem um desdobramento geopolítico, e a pandemia está abrindo caminho para que essas pesquisas voltem a acontecer.

Para você que não conhecia esse ramo das estratégias militares, na década de 1940, o Projeto Cirrus foi uma das primeiras tentativas de modificar um furacão. Em 1962, uma parceria entre o Departamento de Comércio dos Estados Unidos e a Marinha americana deu origem ao Projeto Stormfury, cujo objetivo era enfraquecer ciclones tropicais. O Projeto BATON continuou as pesquisas, tentando expandir o conhecimento sobre como funcionavam as tempestades. Mas somente a Operação Popeye colocaria em prática militar os conhecimentos reunidos nas iniciativas anteriores. Esse foi um plano altamente secreto dirigido pelos americanos na época da Guerra do Vietnã. O objetivo era prolongar a estação de chuvas no sudeste asiático, que acabou atrapalhando toda a logística tática do exército vietnamita. Depois que a informação chegou ao conhecimento do público, a mudança climática como estratégia de guerra foi proibida pela Convenção de Modificação Ambiental.

Mas isso não impediu que as pesquisas e projetos continuassem. O programa chinês de modificação do clima figura entre os maiores do mundo, e já abrange uma área maior do que a Índia. O Conselho de Estado chegou a emitir uma nota recente em que anunciou a consolidação de um sistema desenvolvido de alteração climática até o ano de 2025, exatamente a data selecionada pela Força Aérea americana para se tornar a “dona do clima”. Parece que, além da disputa sobre quem possui o maior número de laboratórios de pesquisas biológicas de segurança máxima, Washington e Pequim estão também dispostos a competir sobre quem será o maior controlador climático. Era só o que faltava.

Post scriptum: para sua reflexão

Enquanto vivemos o fantasma de um novo racionamento de energia em virtude da seca que estamos enfrentando, a China tem conseguido aumentar artificialmente a incidência de chuvas para proteger suas áreas agricultáveis. Essa é mais uma tecnologia que poderia colocar o Brasil em posição menos vulnerável.

Já os indianos não gostam muito da ideia, uma vez que temem a utilização da tecnologia para atrapalhar suas monções, tão importantes para a economia local.

Já faz muito tempo que os chineses manipulam o clima para evitar que chova em Pequim na ocasião de grandes eventos, como a inauguração das olimpíadas de 2008 e nas celebrações do dia 1º de outubro, quando se comemora o aniversário da República Popular da China com um grande desfile militar.

No final das contas, nos resta torcer para que não seja mais uma tecnologia apresentada como benéfica, mas usada secretamente para o mal.

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