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Uma revolução se iniciou. Pelo menos é a impressão de muitos que estão refletindo sobre as repercussões do grande evento desta semana: a compra de uma das maiores redes sociais pelo homem mais rico do mundo. Conservadores e defensores da liberdade estão em êxtase com a promessa de Elon Musk de levar o Twitter de volta às suas origens: um espaço que valoriza o livre pensamento. Entre as mudanças prometidas estão: alterar o método de moderação de conteúdo, mudar os critérios para verificação de perfis e abrir o algoritmo para que todos possam conhecê-lo e sugerir alterações.
Seria realmente revolucionário, caso confirmado. As repercussões políticas são simplesmente inimagináveis. Basta lembrar o enorme controle do fluxo de informação que aconteceu no Twitter durante a corrida de 2020 para a Casa Branca. A “surpresa de outubro” (o polêmico computador do filho de Biden) foi preterida, e o New York Post teve seu perfil temporariamente congelado. O próprio presidente americano acabou sendo expulso da rede, perdendo uma importante plataforma onde expunha suas opiniões.
Neste ano de disputa no Brasil e de eleições de meio de mandato nos EUA, um Twitter mais “livre” poderia transformar o debate online num reflexo mais eficiente da opinião pública. E isso está tirando o sono de muitos “progressistas” (ou “regressistas”), lá e cá. Para entender o motivo de tanta apreensão, basta lembrar do relevante papel hoje das redes sociais, principalmente no que tange à dinâmica do poder. Veja que a palavra “mídia” vem do termo latim medium, que significa “aquilo que está no meio”. Ou seja, a mídia realiza a mediação entre o “fato” e as “massas”. Os meios de comunicação de massa sempre desempenharam, isolados, este papel. Entretanto, com o advento das mídias sociais, a intermediação entre os acontecimentos e o público ganhou nova dinâmica, que acabou elegendo Trump em 2016 e Bolsonaro em 2018. Desde então, talvez percebendo que o amplo debate político nas redes poderia favorecer novamente o setor mais “conservador”, foram instaurados algoritmos e moderadores que acabaram, na prática, pendendo a balança para um dos lados do espectro. Este é o motivo de tanta choradeira diante da venda do Twitter para Musk.
Contudo, em meio à euforia de liberais e conservadores, questionei-me sobre quais outras motivações poderiam ter levado o magnata da tecnologia a fazer tão ousada aquisição. Talvez, isso tudo pode envolver um grande movimento de proteção. Você sabe que todos que se destacam incomodam a concorrência, geram inveja e trazem temores que se torne poderoso demais para ser contido no futuro. Assim aconteceu, por exemplo, com os templários, quando “inventaram” a ideia moderna de banco e ficaram superpoderosos: foram tornados ilegais e extintos. No séc. XVIII, os jesuítas se transformaram na ordem mais poderosa. Foram suprimidos em 1773, retornando à legalidade plenamente apenas em 1814. Citando um exemplo mais contemporâneo, vale lembrar que Bill Gates enfrentou uma pesada acusação de monopólio por parte do governo norte-americano, de forma que a Microsoft chegou perto de ser desmembrada.
Parece que o homem mais rico do mundo já está se preparando para, ao contrário de Trump, ter uma plataforma aberta para se defender de seus detratores. Ou então meramente para tirar do ar o perfil no Twitter do jovem de 19 anos que publica todos os dados sobre as viagens do jatinho de Musk, com informações sobre emissão de carbono e gasto de combustível. O magnata já ofereceu US$ 5 mil para que ele excluísse o conteúdo, mas o rapaz quer US$ 50 mil.
Difícil saber a real motivação da compra. O que sabemos é que foi uma semana triste para os adeptos da agenda “woke”. Nos últimos dias, tivemos: Elon Musk comprou o Twitter; CNN+ saiu do ar com menos de 1 mês de estreia; Spotify se recusou a oferecer ao casal Obama um novo contrato para seu podcast; Joe Rogan ganhou 2 milhões de inscritos depois de ter sido cancelado; Netflix perdeu R$ 250 bilhões em valor de mercado, teve redução de assinantes pela primeira vez em 10 anos e cancelou produções; Flórida aprovou o fim do status especial da Disney e a empresa chegou a perder US$ 50 bilhões. Agora, falta Musk confirmar suas promessas e instaurar uma Nova Ordem Tecnológica. Aguardemos.