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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica da repetição

A estranha relação entre a Guerra em Israel e a Nova Rota da Seda

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante visita a Gaza neste domingo (26) (Foto: Divulgação)

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No último dia 16, enquanto eu ministrava uma palestra no Insper com o título “Desglobalização, Fim do Dólar e a Ordem Internacional Nova”, um ouvinte fez uma pergunta interessante. Na ocasião, eu explicava a estratégia chinesa da Nova Rota da Seda como um caminho para expandir globalmente sua zona de influência. Só para lembrar, o projeto, criado em 2013, se concentra em enormes investimentos regionais e globais, principalmente nas áreas de transporte e infraestrutura. O resultado é que, por exemplo, enquanto em 2020 a maioria dos países da América do Sul tinha os EUA como seu maior parceiro comercial, hoje o posto é ocupado por Pequim.

Foi exatamente nesse trecho da palestra que o aluno fez a seguinte pergunta: “Mas você acha que os Estados Unidos não irão fazer nada para impedir que a China domine o mundo dessa forma?”. Eu respondi: “Eles não estão fazendo nada? O que você acha que é a Guerra na Ucrânia? Ou então a nova Guerra em Israel?”. Neste ponto, passei a explicar que ambos os conflitos acabam por funcionar como uma tentativa de minar a influência russa e chinesa não apenas na Europa, mas também no Oriente Médio.

Creio que isso que estou chamando de “Nova Rota das Especiarias” foi criado para fazer frente à Nova Rota da Seda.

Não podemos esquecer que, no início dos anos 2000, o general quatro estrelas do exército americano Wesley Clark revelou em livros e palestras o plano secreto do Pentágono para redesenhar o mundo muçulmano, derrubando 7 nações em cinco anos. Eles conseguiram concluir o plano no caso da Líbia, mas não tiveram sucesso na Síria e muito menos no Irã. Pode ser que os novos conflitos citados acima sejam não apenas uma retomada do plano original revelado pelo general Clark, mas também uma maneira de, redesenhando o mapa do Oriente, atrapalhar os objetivos da China de dominação global.

Durante a reposta, eu percebi que a história estava se repetindo. Da mesma forma que Pequim retomou sua antiga ideia da Rota da Seda (que unia a China meridional até a Índia, Pérsia, Egito, Itália, Portugal e inclusive a Suécia), a resposta ocidental aparece na forma de uma revitalização da Rota das Especiarias. Após o fim das Cruzadas, com a liderança de Vasco da Gama, os portugueses criaram a Rota das Especiarias, que saía da Índia, cruzava o Oriente Médio e chegava à Europa a partir dos portos venezianos. Naquela época, os árabes controlavam essa rota comercial, e Veneza acabou se transformando no grande centro comercial europeu.

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Hoje, porém, a Rota das Especiarias renasce com o nome de IMEC (India-Middle East-Europe Economic Corridor). Este “Corredor Econômico Índia-Oriente Médio-Europa” tem o objetivo de reforçar o desenvolvimento da região, promovendo a integração comercial entre a Ásia, o Golfo Pérsico e a Europa, conforme apresentei em um artigo recente.

Portanto, creio que isso que estou chamando de “Nova Rota das Especiarias” foi criado para fazer frente à Nova Rota da Seda. O problema é que, assim como nos exemplos originais, muitas guerras aconteceram em meio a essa busca por novos caminhos comerciais. A diferença é que, naquela época, não havia armas nucleares, biológicas e químicas. É isso que preocupa.

Não sei quem irá vencer essa nova disputa, mas oro para que os inocentes não continuem pagando o preço da ganância dos poderosos. O que você acha dessa ideia? Deixe sua opinião nos comentários.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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