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Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos buscavam uma arma que seria capaz de encerrar o conflito. O Projeto Manhattan fazia parte desse plano. Em total segredo, eles desenvolveram a bomba atômica, com um poder destrutivo sem precedentes. Mas o sucesso da empreitada estava diretamente relacionado ao total sigilo. Liderados pelo físico teórico J. Robert Openheimer, chefe do Laboratório de Los Alamos, as mentes mais capacitadas da ciência criaram uma tecnologia que daria total vantagem competitiva aos EUA no cenário geopolítico global.
A novidade só deveria ser usada em último caso. Como dizia Confúcio: “nunca use um canhão para matar uma formiga”. Se a ferramenta certa fosse utilizada na hora errada, o sucesso do projeto poderia estar em risco. A conquista não deveria despertar orgulho ou arrogância nos norte-americanos. Se eles se mostrassem fortes, poderiam levantar suspeitas. Ao contrário, seguiram à risca os ensinamentos de outro pensador: “Pareça fraco quando está forte, e forte quando está fraco” (Sun Tzu). Hoje, os russos e analistas russófilos menosprezam a capacidade operacional e bélica de Washington. Mostram-se poderosos. Por isso, começo a suspeitar que estejam debilitados. Por outro lado, os americanos mostram-se fracos, o que me leva a desconfiar que estão escondendo algo.
Moscou vive uma saga desenfreada no intuito de demonstrar força. Recentemente, os russos apresentaram seu míssil nuclear “invencível”, o Sarmat, que a Otan apelidou de “Satan 2”. Segundo a propaganda russa, o artefato seria capaz de vencer qualquer sistema antimísseis existente hoje, atingir qualquer alvo mundo afora e escapar de todos os radares, com seu alcance de 18 mil quilômetros e 10 toneladas de carga nuclear.
Seguindo com o exibicionismo, no final do ano passado os russos simplesmente explodiram um de seus próprios satélites, colocando em risco a Estação Espacial devido aos destroços que foram liberados. Meramente para mostrar seu poderio. Seguindo a lógica de Sun Tzu, se há o desejo tão grande de anunciar força, pode ser que estejam, no fundo, tentando esconder fraquezas. Alguns podem argumentar que não há debilidade alguma, uma vez que Moscou possui o maior arsenal de ogivas nucleares do mundo, cerca de o dobro da capacidade norte-americana. Entretanto, outros analistas argumentam que o efetivo da Otan é astronomicamente superior, uma vez que reúne 30 países, com orçamento e equipamentos em números mais elevados.
Contudo, um ponto estranho nessa corrida armamentista é que os EUA hoje possuem um número de ogivas nucleares 88% inferior ao recorde do país. Para quem já teve 31.255 ogivas, o número atual (3.750) gera estranheza. Há algo errado nisso. Por que Washington decidiria ficar com uma capacidade atômica menor (praticamente a metade) dos russos? Isso não seria um erro estratégico? Eu creio que a resposta está numa sigla: DARPA.
DARPA remete, em inglês, à “Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa”, criada em fevereiro de 1958 para fazer frente aos avanços bélicos russos. No livro da jornalista Annie Jacobsen “The Pentagon's Brain: An Uncensored History of DARPA, America's Top-Secret Military Research Agency” (“O cérebro do Pentágono: uma história sem censura da DARPA, a agência de pesquisa militar mais secreta da América”, em tradução livre), temos um relato muito interessante sobre o enfoque que o projeto ganhou no final dos anos 80. Após o fim da Guerra Fria, Washington teria decidido que nunca mais permitiria que nenhum país contestasse sua hegemonia. E o caminho para isso era estar sempre 20 anos à frente de seus concorrentes quanto à sua tecnologia militar. Se isso fosse verdade, poderia explicar o motivo pelo qual os americanos desmantelaram 88% de suas armas nucleares. A resposta seria: eles desenvolveram, em segredo, outra tecnologia mais destrutiva e eficiente.
Como o sigilo é a peça crucial no desenvolvimento de novos artifícios bélicos, suspeito que o Pentágono está se fazendo de fraco perante os russos porque estão seguros com certas novidades que o mundo ainda desconhece. Sinto um cheiro de Projeto Manhattan 2.0. Assim como a humanidade só conheceu a tecnologia atômica no final de 1945, creio que somente descobriremos essa novidade em último caso, na situação de um risco real de conflito nuclear.
Espero que o mundo não chegue a esse ponto. Inclusive, pode ser que os norte-americanos estejam realmente fracos e mal administrados, com um governo incompetentemente e um líder senil. E sem um Dr. Manhattan para ajudá-los. Sinceramente, não sei o que é pior.