
Ouça este conteúdo
Um levantamento feito pelo Bureau of Labor Statistics dos EUA, publicado no The Washington Post, elencou a enfermagem como uma das profissões mais gratificantes, em razão do senso de propósito que o ato de cuidar do outro traz a esse profissional da saúde.
A sensibilidade às necessidades do próximo, a vocação para o cuidado com a saúde e o bem-estar dos mais debilitados são características comuns à função desde seus primórdios, com suas precursoras Florence Nightingale e Ana Nery. De fato, na enfermagem, vida e saúde são termos indissociáveis.
Entretanto, contrariando toda e qualquer lógica dessa verdade intrínseca à profissão, nosso ex-ministro, o PSOL e (pasmem!) a Associação Brasileira de Enfermagem querem transformar esses profissionais em verdadeiros “serial killers” de crianças no ventre — algo extremamente incompatível com a essência da enfermagem, cuja origem está ligada justamente às parteiras que traziam as crianças à vida, e não à morte.
A liminar do agora ex-ministro Barroso possibilitava que enfermeiros realizassem abortamentos em gestações com menos de 12 semanas, tudo sob o dissimulado fundamento de aumentar o “cuidado” com a gestante, para que se “quebrem barreiras trágicas e cientificamente ultrapassadas de acesso à saúde e de livre exercício profissional”.
Segundo os postulantes das ADPFs, se o Código Penal prevê, no artigo 128, que não se pune o médico, o mais sensato seria incluir também os enfermeiros, a fim de ampliar o acesso ao aborto. A liminar do ex-ministro também buscou fundamento em recomendações da OMS, que, não por acaso, é um organismo historicamente afeito ao controle populacional.
Como se sabe, o abortamento dessas crianças com menos de 12 semanas ocorre pela utilização de misoprostol, um fármaco que provoca hipercontratilidade uterina e expulsa o feto, esmagando-o fortemente.
Ao contrário do que querem fazer parecer as ADPFs, há, sim, enorme perigo de ruptura do útero e de hemorragias mortais pelo uso desse medicamento, razão pela qual são extensas as advertências contidas em sua bula. Seu uso é absolutamente restrito a ambientes hospitalares, pois, em caso de complicações, apenas o médico poderá salvar a vida da gestante que o utiliza.
Para se ter uma ideia do quanto o uso desse medicamento é perigoso, certa feita, na tentativa de liberar a venda do fármaco em farmácias e drogarias, grupos favoráveis ao aborto oficiaram o laboratório, informando que bastaria a farmacêutica alterar a bula do misoprostol, retirando a obrigatoriedade de “uso exclusivo em hospitais”, para, assim, poder vender o produto em diversos estabelecimentos.
Contrariando a lógica mercantilista e revelando a integridade de seus princípios ao colocar a segurança dos pacientes em primeiro lugar, o laboratório que produz o misoprostol no Brasil emitiu um ofício informando que não há estudos que comprovem o uso seguro do medicamento fora de um ambiente hospitalar.
Como se vê, em vez de aumentar exponencialmente seus lucros com a venda do medicamento em todas as esquinas, a indústria química preferiu manter a segurança de que seu uso continue restrito a hospitais, onde a assistência imediata de um médico pode ser a diferença entre a vida e a morte da mulher que se submete ao abortamento.
Ademais, sem um médico acompanhando o procedimento, os riscos de que o bebê apresente anomalias congênitas ou malformações em razão do uso indevido do medicamento são bastante consideráveis, podendo ocasionar a chamada síndrome de Moebius, que envolve alterações nas extremidades e no sistema nervoso central do bebê.
Ao fim e ao cabo, o que vemos é uma ignóbil tentativa de desconstruir a identidade de uma das mais belas profissões que o ser humano pode exercer.
A enfermagem é a expressão máxima do cuidado com a vida, e seus profissionais são a personificação do bem, operando em favor do outro justamente nos momentos de sua maior vulnerabilidade.
Querer inserir a morte em tão nobre função nos parece um ato de extrema vulgaridade — típico daqueles que vivem na escuridão.




