Com o fim do 2º turno das eleições municipais de 2024, posso reafirmar o que disse na coluna de 6 de outubro de 2024: a direita conservadora foi consagrada como nunca antes, alcançando um resultado inédito, enquanto Lula, o PT e a esquerda foram humilhados. No entanto, o maior vencedor do pleito não foi a direita, mas sim o Centrão, bloco formado por políticos que se alinham tanto à direita quanto à esquerda, mas cuja verdadeira ideologia é o pragmatismo do toma-lá-dá-cá.
Não há como começar esta análise sem falar de São Paulo, onde Guilherme Boulos (PSOL) sofreu um vexame eleitoral raro. Sua derrota foi ainda mais acentuada do que as pesquisas previam, revelando um teto eleitoral que ele não conseguiu superar. Assim, ele terminou a disputa praticamente no mesmo patamar da eleição anterior, apesar de ter investido 16 vezes mais nesta campanha.
Vamos aos números: Ricardo Nunes (MDB) venceu com 59,35% dos votos, enquanto Boulos obteve 40,65% – o mesmo desempenho da eleição de 2020. Nunes conquistou 54 zonas eleitorais de São Paulo, enquanto Boulos venceu em apenas 3, sem sequer liderar nos bairros mais ricos, onde antes tinha vantagem. O número de abstenções superou os votos em Boulos: 2.940.360 eleitores não compareceram às urnas, enquanto 2.323.901 votaram nele. A derrota foi mais que humilhante; foi desmoralizante.
Esses dados são relevantes porque, em 2020, Boulos defendeu abertamente pautas progressistas, como a descriminalização das drogas e do aborto, além da visão bandidólatra da esquerda em relação à segurança pública. Em 2024, contudo, ele fez uma guinada brusca, tentando se afastar de seu histórico como invasor de terras e de seu radicalismo comunista, buscando agradar o eleitorado conservador e evangélico. Nos momentos finais da campanha, chegou a se aproximar de Pablo Marçal (PRTB), que, durante toda a campanha, acusou-o de ser usuário de drogas e cheirador de cocaína, até mesmo com um laudo falso na véspera do 1º turno.
O número de abstenções superou os votos em Boulos: 2.940.360 eleitores não compareceram às urnas, enquanto 2.323.901 votaram nele
Apesar do esforço, Boulos não conseguiu avançar em relação à eleição anterior. Nem o gasto de campanha 16 vezes maior ajudou: o PT e o PSOL, principais financiadores, investiram R$ 51 milhões, mais de quinze vezes os R$ 3,3 milhões de 2020. O projeto de transformá-lo no herdeiro político de Lula fracassou. Além de ter um teto eleitoral claro, Boulos não conquistou a confiança do eleitorado de direita, independentemente do quanto gastasse ou de suas tentativas de se vestir como um "faria limer" em vez de um militante comunista. Lula e a esquerda precisarão buscar outra alternativa para 2026, mas a missão será difícil: não há, atualmente, lideranças relevantes na esquerda além do próprio Lula.
A derrota da esquerda não se limitou a São Paulo, mas se espalhou por todo o Brasil. O PT venceu em apenas uma capital, Fortaleza, e por uma margem apertada contra André Fernandes (PL), que conduziu uma campanha vibrante, com jingles inspirados em músicas populares entre os jovens. Em Porto Alegre, Maria do Rosário (PT) sofreu uma das derrotas mais marcantes, ficando atrás apenas de Boulos em termos de decepção: obteve 38,47% dos votos contra 61,53% do prefeito Sebastião Melo (MDB), agora reeleito. No estado de São Paulo, berço do PT, o partido venceu em apenas quatro cidades: Matão, Santa Lúcia, Lucianópolis e Mauá. Esse desempenho é desastroso para quem está no comando do país, com o poder e a máquina da Presidência da República nas mãos.
Em Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD) e Paulo Martins (PL) serão os próximos prefeito e vice-prefeito. Martins foi indicado pessoalmente por Jair Bolsonaro e recebeu o apoio do partido Novo, do qual sou embaixador. Pimentel conquistou 57,64% dos votos, contra 42,36% de Cristina Graeml (PMB). Embora derrotada, Cristina fez história ao se tornar a mulher mais votada nas eleições municipais de Curitiba, com 390.254 votos, consolidando-se como uma forte candidata para o Legislativo em 2026.
O PL, partido de Bolsonaro, teve um desempenho mais modesto no segundo turno, vencendo em apenas duas das nove capitais disputadas: Cuiabá e Aracaju. O PL perdeu em Palmas, Manaus, João Pessoa, Fortaleza, Belo Horizonte, Belém e Goiânia. A eleição em Goiânia merece destaque, pois, dois dias antes do pleito, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, deflagrou uma operação da Polícia Federal contra o deputado Gustavo Gayer (PL-GO), um dos principais apoiadores do candidato Fred Rodrigues (PL).
Fred acabou derrotado por Sandro Mabel (União), candidato do governador Ronaldo Caiado (União). A operação policial foi vista por muitos, inclusive por mim (e você pode conferir no programa Sem Rodeios da última sexta, no canal do Youtube da Gazeta do Povo), como uma interferência direta de Moraes nas eleições, uma vez que a investigação contra Gayer não apresentava urgência e continha inconsistências graves, como a alegação de que Gayer usou verbas parlamentares para financiar os atos do 8 de janeiro antes mesmo de tomar posse como deputado federal, algo impossível pelas leis da física.
Embora a direita tenha se consolidado e a esquerda tenha sido derrotada, o grande vencedor foi o Centrão, a força política mais relevante do Brasil, infelizmente. O PSD, de Gilberto Kassab, lidera em número de prefeituras, com 878, seguido pelo MDB, com 847, pelo PP, de Arthur Lira, com 743 e pelo União Brasil, com 579. Só então vem o PL, com 510. O PT ficou atrás até do PSDB, um partido já considerado nanico, com 248 prefeituras, contra 271 dos tucanos. Embora o Centrão não tenha um alinhamento ideológico definido, aproximando-se do governo do momento em troca de poder e dinheiro, a maioria de seus políticos tende a se aproximar de posições conservadoras em temas de segurança pública e costumes.
Encerro celebrando o crescimento do partido Novo nestas eleições: elegemos quase 300 vereadores e vencemos em 19 cidades, um feito inédito que representa um crescimento de mais de 1.800%. No 2º turno, conquistamos Taubaté (SP), a segunda cidade mais populosa do Vale do Paraíba, onde Sérgio Victor (Novo) derrotou o ex-prefeito Ortiz Junior com 61,98% dos votos válidos, contra 38,02% do adversário. Em Ribeirão Preto, perdemos a prefeitura por apenas 687 votos e nosso candidato Marco Aurélio, estreante na política, poderá vir a fazer a direita crescer no Congresso em 2026. Para a direita, estas eleições são motivo de celebração: os futuros deputados federais, senadores e governadores de 2026 já estão entre nós.
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