As articulações para as pré-candidaturas à prefeitura de São Paulo nas eleições do ano que vem estão levando a uma divisão profunda da esquerda e da direita e tendem a pulverizar o eleitorado paulista. Neste fim de semana, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que foi quatro vezes governador do estado e trocou o PSDB pelo PSB para dar um verniz de moderação à candidatura presidencial do petista Lula no ano passado, colocou seu peso político a favor da pré-campanha da correligionária Tabata Amaral. A deputada federal conta também com o empenho do ministro do Empreendedorismo Márcio França, igualmente ex-governador e homem forte do partido.
Tabata, acreditam os estrategistas do PSB, tem potencial para quebrar a polarização política em São Paulo, agregando votos da centro-esquerda e da centro-direita. Ou seja, atraindo eleitores que desgostam da aproximação do prefeito Ricardo Nunes (MDB) com a direita bolsonarista e com o grupo político do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas que também desconfiam da fachada light que Guilherme Boulos (Psol) vem adotando para afastar-se da imagem de esquerdista radical por sua ligação com o movimento sem-teto na cidade.
A campanha em São Paulo pode demonstrar que o eleitorado que anseia por moderação política não é desprezível.
Com isso, tanto o voto quanto o palanque na esquerda ficam divididos. Lula prometeu apoio a Boulos, em arranjo do PT com o Psol. Seu vice, Alckmin, estará ao lado de Tabata.
Já a direita caminha para pulverizar ainda mais os seus votos. Nunes tenta o apoio do núcleo bolsonarista, mas o ex-presidente Jair Bolsonaro vem sinalizando a possibilidade de apoiar uma candidatura de seu ex-ministro do Meio Ambiente, o deputado Ricardo Salles (PL). Já o deputado Kim Kataguiri planeja candidatar-se pelo União Brasil e afirma ser o único candidato verdadeiramente de direita na disputa (já que Nunes está mais ao centro e a candidatura de Salles ainda é incerta, pois exigiria uma troca de partido). Contribui para a divisão dos votos de direita no primeiro turno a pré-candidatura de Vinicius Poit (Novo).
Na última pesquisa Datafolha, Boulos obteve 32% das intenções de voto, Nunes, 24%, Tabata, 11%, Kim, 8%, e Poit, 2%. O desempenho de Tabata é considerado surpreendente até por estrategistas adversários, pois se deu antes de qualquer esforço maior do PSB em alavancar seu nome e mesmo sem a projeção e o espaço midiático garantidos por Boulos, que chegou ao segundo turno da disputa para prefeitura em 2020, e Nunes, que como prefeito tem a máquina de inaugurações e obras a seu dispor.
Além disso, avalia-se que Tabata tem maior potencial de crescimento do que Boulos e Nunes pois ainda é menos conhecida do que eles junto ao eleitorado paulistano. Apenas 13% dos entrevistados disseram conhecê-la bem, uma proporção próxima da sua intenção de votos. Em comparação, 80% afirmam conhecer Boulos e 79%, Nunes.
A perspectiva de uma campanha municipal com palanques divididos tanto à esquerda quanto à direita vai representar um teste para a viabilidade eleitoral da moderação política em um cenário de persistente polarização. Tabata foi acusada de traidora da esquerda por ter apoiado a reforma da Previdência, no início do governo Bolsonaro, e é vista como irremediavelmente progressista pela direita. A dinâmica de eleições anteriores mostrou que o eleitor médio resiste a candidatos que ele tem dificuldade de classificar ideologicamente, aquilo que antes de se definia como "em cima do muro" e hoje ganhou o apelido de "isentão".
A campanha em São Paulo, porém, pode demonstrar que o eleitorado que anseia por moderação política não é desprezível. Tabata não é a única que pode beber dessa água. Nunes também tenta manter a conexão com o nicho eleitoral da antipolarização, ao mesmo tempo em que busca a aproximação com o bolsonarismo. É uma estratégia que funcionaria melhor se as pré-candidaturas de direita não estivessem caminhando para a pulverização.
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