Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, fez críticas duras a Gilberto Kassab, presidente do PSD, na sexta-feira passada, dia 27. Valdemar criticou o fato de Kassab fazer parte do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) no estado de São Paulo, de apoiar a prefeitura de Ricardo Nunes e de, ao mesmo tempo, ter seu partido como integrante da base de Lula, adversário político do bolsonarismo e portanto de Tarcísio. De fato, Kassab equilibra-se com astúcia sobre alianças tão contraditórias. Além de ele ser secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado de São Paulo e de seu partido ocupar secretarias na gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), o PSD tem o comando de três ministérios do governo petista. (Vale lembrar que o Republicanos de Tarcísio também faz parte do gabinete ministerial de Lula.)
Esse equilíbrio tênue acaba gerando atritos e insatisfações. Há uma semana, deputados do PL iniciaram uma campanha nas redes sociais para pedir que os eleitores fiéis à sigla não votem em candidatos municipais do PSD. A justificativa seria o fato de senadores do partido não terem assinado o pedido de impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes. A manobra irritou Nunes, cuja reeleição conta com o apoio tanto de Kassab quanto de Bolsonaro, que aliás foi quem indicou o seu vice, o coronel Mello Araújo.
As cutucadas de Valdemar em Kassab mostram que o PL está preocupado com o crescimento do PSD. Isso diz respeito não apenas às disputas internas por espaço no governo do estado e na prefeitura de São Paulo
Valdemar, na sexta-feira, também alegou que Kassab não cumpriu um acordo com o PL, que teria cedido a posição de vice na chapa de Tarcísio de Freitas para o PSD, em 2022, sem receber nada em troca. O vice-governador de São Paulo é Felicio Ramuth, do PSD e homem de confiança de Kassab. Este, por sua vez, respondeu à provocação de Valdemar em entrevista à Folha de S.Paulo, dizendo que a acusação não era verdadeira, pois daquele acordo nasceu a apoio à candidatura do astronauta Marcos Pontes, do PL, ao Senado.
As cutucadas de Valdemar em Kassab mostram que o PL está preocupado com o crescimento do PSD. Isso diz respeito não apenas às disputas internas por espaço no governo do estado e na prefeitura de São Paulo. Tem a ver também com o comando do Congresso e de muitas prefeituras Brasil afora. Na Câmara dos Deputados, os PSD tem apostado na candidatura de Antônio Brito para a presidência da casa, enquanto Lula e Arthur Lira tendem a apoiar Hugo Motta, do Republicanos. Motta está longe de ser o candidato dos sonhos do PL, até porque tem o apoio de Lula, e as recentes cutucadas no PSD por parte dos parlamentares da sigla de Bolsonaro podem inclusive ser entendidas como uma forma de criar um álibi para apoiá-lo, em detrimento de Brito. Brasília quase sempre funciona por vias tortas. No Senado, há a possibilidade de uma articulação do PSD com o MDB com um candidato que possa fazer frente ao favorito Davi Alcolumbre (União Brasil).
Mas os calos do PL também estão sendo pisoteados em outros lugares. O PSD adotou uma estratégia agressiva para se tornar uma potência ainda maior nas eleições municipais. O PSD já é, hoje, o partido com o maior número de prefeitos. São mais de 1000, ou seja, um em cada cinco em todo o Brasil. Em São Paulo, Kassab capturou diversos prefeitos do PSDB. Sua meta é eleger 200 prefeitos no estado.
Nas disputas das maiores cidades do país, aquelas com mais de 200 mil habitantes, o PSD divide com o PL o posto de partido que tem o maior número de candidatos na liderança nas pesquisas. Muito representativo da capacidade de Kassab de ter os pés nas duas canoas é o fato de que, em algumas dessas cidades, o candidato do PSD é apoiado por Bolsonaro e em outras, por Lula.
Em Curitiba, por exemplo, Eduardo Pimentel, do PSD, é apoiado por Bolsonaro. A mesma coisa com Tiago Amaral, em Londrina. Já no Rio de Janeiro, Eduardo Paes é apoiado por Lula. E, como tem dito Valdemar Costa Neto, a cereja no bolo para Kassab é virar governador depois de Tarcísio. Para isso, ele se tornaria vice do governador na chapa à reeleição em 2026 e, em 2030, assumiria o posto com a saída de Tarcísio para concorrer à presidência. Como se pode ver, o PSD tem se consolidado com o partido de centrão raiz, aquele que diz: Hay gobierno, soy a favor, uma inversão da máxima anarquista que resume bem a política brasileira. E isso tem incomodado Valdemar Costa Neto, que sempre foi mestre em seguir esse lema e que hoje se vê limitado à identificação política com o bolsonarismo, o que o impede de seguir seus instintos adesistas.
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