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O ex-presidente norte-americano Donald Trump   em comício no estado de Nevada, em outubro de 2022.
O ex-presidente norte-americano Donald Trump em comício no estado de Nevada, em outubro de 2022.| Foto: Peter DaSilva/EFE

De todas as encrencas com a Justiça que o ex-presidente americano Donald Trump tem, a que avançou para um indiciamento é justamente a mais fraca. Trata-se da acusação de que ele registrou de maneira fraudulenta o pagamento a uma atriz pornô para que não revelasse o (rápido, segundo ela) caso extraconjugal que tiveram, de maneira a não prejudicá-lo politicamente.

Poderia ter sido a investigação em torno do papel desempenhado por ele na incitação à invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, por apoiadores trumpistas dispostos a impedir a declaração de vitória eleitoral do democrata Joe Biden. Poderia ter sido a suspeita de que ele tentou interferir na contagem de votos no estado da Georgia. Poderia ter sido a investigação a respeito dos documentos oficiais da presidência que ele levou para o seu resort em Mar-o-Lago.

Trump continua competitivo eleitoralmente, e as encrencas na Justiça ajudam a sua retomada do discurso de outsider antissistema.

Mas não. O caso mais avançado contra Trump na Justiça diz respeito ao cala-boca pago para abafar uma pulada de cerca. Não pelo cala-boca em si ou pela pulada de cerca. Mas porque o dinheiro usado não foi registrado da forma correta.

Não é à toa que Trump vai explorar o caso politicamente até onde der. O promotor do caso, com amplos poderes para determinar a prisão de um indiciado, não esconde ser democrata até a medula e se orgulha de ter pegado no pé do ex-presidente republicano com outros processos.

Se nenhum dos outros casos avançar, o mais provável é que Trump vai acabar se livrando de um condenação. De quebra, vai usar o caso para provar que sofre perseguição política e para voltar à presidência. Do ponto de vista eleitoral, apesar da alta rejeição, Trump permanece competitivo. E não são os problemas na Justiça que vão mudar isso. O republicano Trump tem um nível de popularidade equivalente ao do democrata Joe Biden, atual presidente. Coisa na faixa de 40-42% de aprovação.

Biden disse certa vez que não pretendia concorrer à reeleição, por causa da sua idade avançada (ele está com 80 anos). Mas os democratas estão com poucas alternativas. Kamala Harris, sua vice, é ainda menos popular que Biden. Bernie Sanders, o outro democrata de maior projeção atualmente, é ainda mais velho do que ele: 81 anos. O critério etário, portanto, precisaria ser descartado como nota de corte.

Nas pesquisas mais recentes, um enfrentamento direto entre Biden e Trump daria 47% dos votos para o primeiro e 44% para o segundo. Nas intenções de voto, Biden tem um desempenho um pouco pior se, em vez de Trump, enfrentasse Ron DeSantis, governador da Flórida que pretende disputar as primárias republicanas: 45% X 42%.

Mas nas primárias, Trump levaria a melhor sobre DeSantis. As pesquisas apontam 59% das intenções de voto republicano para Trump contra 34% para DeSantis.

Trump continua competitivo eleitoralmente, e as encrencas na Justiça ajudam a sua retomada do discurso de outsider antissistema. Pode acreditar. Estamos em 2023 e isso ainda cola.

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