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Banco Central sobre juros para esfriar economia embalada por gastos do governo Lula
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad: gastos do governo Lula contribuíram para a alta dos juros.| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A fatura dos gastos do governo Lula chegou. A primeira parcela veio na forma de um aumento de 0,25 ponto na taxa básica de juros, a Selic. O Banco Central, responsável pela decisão, descreveu a alta como o início de um ciclo. Quer dizer: mais prestações estão a caminho.

O Comitê de Política Monetária (Copom) listou razões para o aumento, que vai na contramão do que ocorre nos Estados Unidos e boa parte do mundo. Resumidas, são as seguintes:

  • atividade econômica e mercado de trabalho estão mais aquecidos que o esperado;
  • a inflação está um tanto acima da meta de 3% ao ano, próxima da margem de tolerância de 4,5%; e
  • as expectativas para os índices de preços deste ano e dos próximos dois também estão acima do objetivo, "desancoradas".

Como tem o dever de levar a inflação à meta, o BC usou sua ferramenta: subiu o preço do dinheiro. A ideia é esfriar a economia e, com isso, limitar as pressões inflacionárias.

O que Lula tem a ver com isso?

Boa parte da piora das expectativas é fruto do desarranjo das contas federais. E este é consequência direta da política econômica do governo, baseada em forte aumento das despesas públicas e da arrecadação de impostos.

Essa combinação afeta os "preços de ativos" (como o dólar, que subiu mais aqui do que no resto do mundo) e as expectativas dos "agentes econômicos" (famílias, empresas, investidores, bancos.. enfim, qualquer um que mexa com dinheiro).

Como as medidas arrecadatórias não bastam para tapar o buraco das finanças, o governo dribla regras, cogita novos aumentos de impostos, tenta se apropriar de "dinheiro esquecido" dos outros e até pegar de volta o que deve a pessoas e empresas. Quando aparece um imprevisto (nem tão imprevisível, aliás), precisa gastar por fora.

Como se não bastasse, o presidente faz pouco caso do rápido aumento da dívida do país. Diz que tem coisas mais importantes a fazer.

Claro que isso piora ainda mais as expectativas. Quando há problema nas contas públicas, o público sabe quem paga a conta.

BC sobe juros para esfriar economia embalada por gastos do governo

Mas as decisões de Lula não influenciam apenas o quadro fiscal e as percepções sobre ele.

As escolhas do presidente ajudaram a economia a crescer mais que o previsto. E – aí está o problema – mais que seu potencial.

Quando o Copom diz que o "hiato do produto" passou para o "campo positivo", quer dizer que a economia está operando acima da capacidade, com mais demanda que oferta e, portanto, empurrando preços para cima.

Aumento acima da inflação no salário mínimo (e portanto em aposentadorias, pensões e vários benefícios), ampliação de transferências de renda (como o Bolsa Família), antecipação do pagamento de precatórios acumulados: medidas como essas, que deixam as contas públicas no vermelho e fazem o governo pegar dinheiro emprestado para cobrir gastos do dia a dia, puseram centenas de bilhões de reais nos bolsos de consumidores Brasil afora.

Não por acaso, o aumento do consumo tem sido o motor do PIB. O investimento produtivo, porém, não acompanha o mesmo ritmo e segue muito abaixo do ideal. Embora tenha avançado nas medições mais recentes, ele ainda recua em prazos mais longos – baixou 0,9% em 12 meses, ao passo que as despesas do governo subiram 2,4% e o consumo das famíilas, 3,7%.

Quando o país não aplica o suficiente em máquinas, equipamentos, meios de transporte e infraestrutura, sua capacidade de produzir e transportar vai chegando ao limite. Se os salários avançam mais que a produtividade, a sobrecarga aumenta. Cedo ou tarde, os preços passam a subir além da conta. E aquele aumento inicial da renda da população começa a ser corroído pela inflação.

Essa engrenagem é conhecida, e não surpreende que o Banco Central tenha elevado os juros.

PT culpa "bolsonarista" por alta de juros, mas "lulistas" votaram junto

O PT reagiu conforme o esperado. Falou em ataque à economia, sabotagem, loucura, insanidade. Disse que o Banco Central é chefiado por um "bolsonarista". Omitiu, porém, que os outros oito membros do Copom votaram na mesma direção, aí incluídos os quatro indicados de Lula – e, dentre eles, o escolhido do presidente para comandar a autoridade monetária de 2025 em diante. Também não citou que o mesmo "bolsonarista" estava à frente do BC quando o órgão elevou os juros até chegarem a 13,75% ao ano às vésperas da eleição de 2022.

Há uma questão que o PT e boa parte da esquerda desenvolvimentista – obcecados por crescimento a qualquer custo e tolerantes com a inflação – parecem esquecer: o descontrole de preços prejudica o trabalhador que eles dizem defender.

Um exemplo do passado recente. Entre 2021 e 2022, na saída da pandemia, a inflação ficou quase um ano e meio acima de 8%, em boa parte do tempo acima de 10%. O resultado: a grande maioria das negociações salariais desse período terminou em reajustes abaixo da inflação. Mesmo com o PIB crescendo quase 5% num ano e 3% no outro, o assalariado perdeu poder de compra.

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