O novo governo de Taiwan tomará posse com uma série de desafios. O mais óbvio para muitas pessoas é um suposto plano da China continental invadir a ilha e conduzir uma reunificação chinesa pela força. Até lá, entretanto, talvez o principal desafio da República da China seja o fato de que suas relações exteriores oficiais estão cada vez mais minguantes, inclusive na sua própria região.
Claro que a hipótese de uma invasão militar chinesa deve ser mantida dentro do horizonte das autoridades de Taiwan. O governo Xi Jinping afirma que busca uma reunificação pacífica, ao mesmo tempo em que alerta os países do chamado Ocidente que não aceitará qualquer intervenção externa no status quo da relação entre a China continental e a República da China, ou Taiwan, a “província rebelde” aos olhos de Pequim.
Por um lado, a ameaça, mesmo que alguém queira pensar que é apenas uma suposta ameaça, militar chinesa contra Taiwan levou ao aprofundamento das relações extra-oficiais da ilha. Mais países têm mandado delegações de alto nível para Taiwan e houve um aprofundamento das relações estratégicas com os EUA, interessados em, no mínimo, antagonizar Pequim.
Também existe o fato da grande importância econômica mundial da ilha, pólo tecnológico e fabril. Mesmo sem o reconhecimento pleno, Taiwan tem conseguido colher alguns frutos em suas relações exteriores, seja pelo interesse em antagonizar a China, como citado, seja pelo interesse de alguns países em evitar maior isolamento taiwanês. Os dois interesses se relacionam, mas não são sinônimos.
Oceania
Ainda assim, não se sabe se e quando tal invasão chinesa virá. Até lá, Taiwan não pode depender apenas de meia dúzia de parceiros que podem bancar uma posição antagônica à da China, como os EUA. O fortalecimento de Taiwan dependeria também de ser visto e reconhecido como um país soberano. E isso está ocorrendo cada vez menos, ano após ano e eleição após eleição.
Logo depois das eleições taiwanesas, em janeiro, Nauru retirou seu reconhecimento de Taiwan, formalizando suas relações com Pequim dentro da doutrina de Uma Só China. Recapitulando ao leitor, tanto a China continental quanto Taiwan reivindicam a soberania exclusiva chinesa. Só existiria uma república chinesa no mundo e estabelecer relações com uma significa renegar a outra.
Nauru é o terceiro menor Estado do mundo, passa longe de ser uma potência, mas a mudança do reconhecimento da pequena nação insular do Pacífico é extremamente simbólica. Era nessa região onde Taiwan tinha um reduto de países parceiros e, nos últimos anos, diversos deles formalizaram suas relações com Pequim, que possui mais incentivos econômicos e políticos a oferecer.
Também há o fato de que os países da Oceania, no futuro próximo, também terão bastante a oferecer, como abordamos em 2021, na coluna "Oceania, a próxima fronteira econômica da humanidade". As zonas econômicas exclusivas enormes dos países insulares colocam esses países como pólos de pesca e, em breve, de mineração no leito oceânico, em busca de terras raras e minerais estratégicos.
Reconhecimento
Além disso, esses países estão ocupando uma posição de proeminência política internacional, já que são os mais vulneráveis às mudanças climáticas. Tuvalu, por exemplo, é um país cuja área seca corre o risco de desaparecer em breve. O quarto menor Estado do mundo possui uma enorme zona econômica exclusiva, que deixa sua área similar ao de um país como a Zâmbia.
Tuvalu realizou eleições em 26 de janeiro e, nessa última semana, tomou posse o novo primeiro-ministro, Feleti Teo. Ele descartou uma troca imediata da representação chinesa, ao menos publicamente. Nos bastidores, entretanto, ele é próximo de Pequim e já sinalizou essa possibilidade. Um dos primeiros atos de seu governo, inclusive, foi o anúncio de que o acordo de segurança com a Austrália será revisado.
A cooperação de segurança se tornou um campo de batalha diplomático entre a China, os EUA e seus aliados em relação aos países insulares do Pacífico. A possibilidade de uma base naval chinesa no meio do oceano, ou perto da costa australiana, causa calafrios em Washington. Caso Tuvalu rompa relações com Taiwan, será também um golpe nas relações exteriores da república chinesa.
Hoje, apenas doze países reconhecem Taiwan como a China soberana. Um deles é a Santa Sé e, dos doze, os principais atores econômicos são Guatemala e Paraguai. Desde 2018, Taiwan “perdeu” Burkina Faso, El Salvador, Ilhas Salomão, Kiribati, Nicarágua, Honduras e Nauru. A pequena nação de Tuvalu pode não parecer muito para a maioria dos países, mas, para Taiwan, é uma perda a ser evitada.
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