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O General Aharon Haliva, que pediu demissão por causa do 7 de outubro.
O General Aharon Haliva, que pediu demissão por causa do 7 de outubro.| Foto: FDI/Wikimedia Commons

O comandante da Direção de Inteligência Militar de Israel renunciou nesta segunda-feira, dia 22 de abril. O general Aharon Haliva afirmou que sua demissão era pelo fato de que seu comando “não cumpriu a tarefa que nos foi confiada” ao não ter impedido o ataque do Hamas no dia sete de outubro de 2023. A questão é: sua renúncia é para servir de bode expiatório ou para fazer pressão nos que estão acima?

Segundo a mídia israelense, Haliva recebeu um comunicado na noite do dia seis de outubro sobre movimentações atípicas do Hamas. Ele recomendou cautela e o adiamento de uma resposta imediata, afirmando que poderia ser um exercício do Hamas. O resultado foi o maior ataque terrorista da História recente de Israel, com mais de mil pessoas mortas e centenas de  sequestrados.

Responsabilidade

É perfeitamente plausível que Haliva seja sincero quando lamenta que não teria cumprido com seu dever e que “carrego aquele dia sombrio comigo desde então, dia após dia, noite após noite. Levarei comigo a dor horrível da guerra para sempre”. Sua renúncia não ocorreu antes devido à formação do chamado gabinete de guerra em Israel, com um governo de emergência que manteve todos em seus postos.

Agora, em um momento de trégua extra-oficial, Haliva renunciou na véspera da Pessach, a principal data do calendário judaico. Ele vai permanecer no posto de maneira interina até a nomeação da pessoa que o substituirá. Haliva, entretanto, não agiu nem decidiu nada sozinho. Ele era uma das engrenagens de uma enorme máquina militar que é o Estado de Israel, em quase todos seus aspectos.

Não foi Haliva que ignorou o alerta egípcio do dia quatro de outubro; foi o governo de Benjamin Netanyahu. Não foi Haliva que classificou os planos do Hamas, quarenta páginas obtidas mais de um ano antes, como “pouco críveis”, nem foi ele quem praticamente fingiu que não existiam os alertas das mulheres militares do tatzpitaniyot, a vigilância da fronteira, que alegam que o sexismo contra elas parcialmente proporcionou o ataque.

Todos esses erros foram do primeiro-ministro e de seu gabinete. Também foi Netanyahu, para agradar seus aliados colonos extremistas, como Itamar Ben-Gvir, que deslocou parte das tropas que faziam a segurança da fronteira com Gaza para a Cisjordânia, para proteger colonos ortodoxos. Nada disso tem relação com o cargo ou com a autoridade do general que renunciou essa semana.

Efeitos

A renúncia de Aharon Haliva pode ser explicada por motivos pessoais dele, de consciência ou de sentimento culpa? Pode, mas a coluna não tem como propósito fazer uma análise psicológica do general, mas sim olhar para a estrutura política israelense. E, hoje, a renúncia de alguém tão alto no escalão israelense pode ter relação com dois fenômenos. Um deles é a busca por um bode expiatório.

Netanyahu e seus aliados podem simplesmente querer lavar as mãos e jogarem toda a responsabilidade em Haliva, dizerem que a inteligência que não funcionou de forma adequada como o próprio general teria admitido e ponto final. Isso pode ser tanto uma consequência como também a origem da renúncia, com o general sendo pressionado para renunciar nos bastidores.

O outro fenômeno é servir como ferramenta de pressão contra o próprio Israel, com pessoas pedindo para o chefe de governo “seguir o exemplo” do general. Esse foi o caminho adotado por Yair Lapid, um dos líderes da oposição em Israel, afirmando que a renúncia era “justa e digna” e que “seria apropriado que o primeiro-ministro Netanyahu fizesse o mesmo”.

Novamente, a pressão pode tanto ser uma consequência como também o motivo da renúncia. Netanyahu está sob pressão popular, relativamente isolado na política e com uma relação extremamente desgastada com os militares. Haliva pode ter imaginado sua renúncia servindo como a derrubada do primeiro dominó que, no final da linha de peças, vai causar a queda de Netanyahu.

Todas as outras pautas, como uma trégua duradoura, o julgamento de Israel na Corte Internacional de Justiça e eventuais investigações sobre o cometimento de crimes de guerra passa, primeiro, pela queda de Netanyahu. O primeiro-ministro usa Israel e sua população como um escudo, alimentando uma guerra eterna para se manter no cargo e garantir imunidade. Talvez Haliva tenha começado esse processo.

Conteúdo editado por:Bruna Frascolla Bloise
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