“Não podemos esperar por outra tragédia mundial, como a Segunda Grande Guerra, para só então construir sobre seus escombros uma nova governança global” – disse Lula na Assembleia Geral da ONU. Na Big Apple, depois dos sucessivos vexames referentes à fala inexistente (caso do desencontro com Joe Biden) e à fala interrompida (caso do microfone cortado na Cúpula do Futuro), o descondenado-em-chefe pôde, finalmente, protagonizar o seu vexame predileto, o da fala realizada, quando desfiou seu rosário habitual de platitudes, vitimismo, autoestereotipia macunaímica e conversa de boteco.
Para quem não compreende a mensagem que o mandatário brasileiro quer dizer ao usar o termo “governança global” – um eufemismo globalista para governo mundial –, eu traduzo: entreguismo puro e simples, que consiste em acabar de vez com a soberania brasileira, bem como com qualquer resquício de democracia representativa, e fazer do país uma reles colônia das organizações internacionais. Faço questão de deixar claro que não tiro essa conclusão da minha cabeça, uma vez que o marido da Janja anunciou esse projeto em 2021, quando, recém-egresso do sistema prisional, era ainda pré-candidato à Presidência do país. Refresco a memória do leitor.
Em dezembro daquele ano, em entrevista a um canal do YouTube, o fundador do Foro de São Paulo e candidato dos globalistas para a eleição presidencial de 2022 não se vexou em anunciar abertamente o seu projeto para um eventual retorno à Presidência do Brasil: submeter o povo brasileiro aos ditames de uma elite internacional não eleita. Disse ele na ocasião:
“Numa crise como esta, precisava ter uma governança global, que seria possível através de um Conselho de Segurança da ONU mais forte, mais participativo, com mais gente, decidindo coletivamente o que fazer (...) Eu participei da criação do G-20, eu participei de muitas reuniões do G-20. Não adianta nada você tomar uma decisão coletiva com 20 presidentes se a decisão de execução é do Estado nacional e depende do Congresso de cada país. Aí as coisas não são decididas como o mundo espera. Então, nós precisamos pensar um novo modelo de governança global para que determinadas decisões sejam coletivas e implantadas por todos os países.”
Contrastando brutalmente com o entreguismo e a subserviência de Lula, o presidente argentino Javier Milei proferiu na ONU um discurso histórico pelo tom altivo e soberanista
Afirmava-se ali com todas as letras, e com a segurança de quem já contava com o respaldo do establishment econômico, político e jurídico nacional, o plano globalista de atropelar as decisões soberanas dos Estados nacionais e dos Legislativos eleitos de cada país. O sujeito anunciava para quem quisesse ouvir que o seu mandato presidencial já não teria o povo brasileiro como fiador e interessado, mas, em vez disso, uma abstração chamada “o mundo”. É preciso decidir “como o mundo espera”, confessou então o fantoche globalista. E essa tem sido a orientação de sua presidência.
Contrastando brutalmente com o entreguismo e a subserviência do colega brasileiro, o presidente argentino Javier Milei proferiu na ONU – ele, sim! – um discurso histórico pelo tom altivo e soberanista. Em lugar de se posicionar de quatro para as hostes globalistas, Milei denunciou abertamente as políticas coletivistas e socialistas promovidas por essa organização internacional ao longo das últimas décadas, e anunciou o rompimento da Argentina com a totalitária e neoimperialista Agenda 2030 (a mesma que, no Brasil, cumpre ao STF implementar na marra, à revelia do Congresso). Sobre a ONU, disse Milei:
“Uma organização que foi concebida essencialmente como um escudo para proteger o reino da humanidade foi transformada em um Leviatã de muitos tentáculos, que busca decidir não apenas o que cada Estado ou nação deve fazer, mas também como todos os cidadãos do mundo devem viver.”
O presidente argentino – talvez a principal liderança soberanista e pró-liberdade hoje no mundo – condenou a tentativa de imposição ideológica promovida pelo sistema ONU, e sua pretensão de se intrometer nos mais variados assuntos que, mediante processos decisórios representativos, cabe exclusivamente às populações das nações soberanas decidir. Tendo abandonado a ideia de cooperação internacional entre nações soberanas, a instituição converteu-se em um poder supranacional, composta por burocratas não eleitos, desconhecidos e infensos à fiscalização, que buscam impor um modo de vida determinado a todos os povos do mundo. Segundo Milei:
“O que se está discutindo esta semana aqui em Nova York, na Cúpula do Futuro, nada mais é que o aprofundamento desse curso trágico seguido por esta instituição. O aprofundamento de um modelo que, nas palavras do próprio secretário-geral da ONU, exige a definição de um novo contrato social em escala global.”
Como, por óbvio, um novo “contrato social” erigido nessas bases jamais poderá ser justo, representativo e democrático, o presidente argentino recusa a participação argentina num tal arranjo. Referindo-se mais uma vez à Agenda 2030, e também às violações às liberdades individuais durante a pandemia (por ele qualificadas de “um crime contra a humanidade”), anunciou Milei:
“Quero deixar clara a posição da Agenda Argentina. A Agenda 2030 (...) nada mais é que um programa governamental supranacional de teor socialista, que visa a resolver os problemas da modernidade com soluções que infringem a soberania dos Estados-nação e violam o direito das pessoas à vida, à liberdade e à propriedade (...) É sempre a mesma coisa com as ideias provenientes da esquerda. Eles criam um modelo de acordo com o que os seres humanos devem fazer, segundo eles, e quando os indivíduos agem livremente de outra forma, eles não têm outra solução que não restringir, reprimir e limitar sua liberdade (...) A Argentina, que atualmente passa por um profundo processo de mudança, decidiu adotar as ideias de liberdade. Aquelas ideias segundo as quais todos os cidadãos nascem livres e iguais perante a lei, que temos direitos inalienáveis concedidos pelo Criador, incluindo o direito à vida, à liberdade e à propriedade. Esses princípios, que orientam o processo de mudança que estamos realizando na Argentina, também são os princípios que orientarão nossa conduta internacional a partir de agora. Acreditamos na defesa da vida para todos. Acreditamos na defesa da propriedade para todos. Acreditamos na liberdade de expressão para todos. Acreditamos na liberdade de culto para todos. Acreditamos no livre comércio para todos. E acreditamos em governos limitados. Todos eles.”
Nunca foi tão grande o abismo civilizacional entre Brasil e Argentina – o primeiro, laboratório global da censura, do abuso de poder estatal e da cleptocracia; o segundo, bastião da liberdade, dos direitos individuais e da soberania nacional
Por fim, discordando do pacto firmado na Cúpula do Futuro, Milei propôs que os países se unam em torna de uma agenda pró-liberdade. E concluiu com as palavras de um verdadeiro líder mundial:
“A partir de hoje, saibam que a República Argentina abandonará a posição histórica de neutralidade que nos caracterizou até aqui, e estará na vanguarda da luta em defesa da liberdade (...) Que Deus abençoe os argentinos e todos os cidadãos do mundo. E que as forças do Céu estejam conosco ¡Viva la libertad, carajo!”
Num momento em que, com o banimento do X, as prisões políticas, o alinhamento com grupos terroristas como Hamas e Hezbollah, e a amizade com narcoditaduras como as da Venezuela e da Nicarágua, o nosso país se nivela aos regimes mais tirânicos, criminosos e corruptos do mundo, nunca foi tão grande o abismo civilizacional entre Brasil e Argentina – o primeiro entrando para a história como o laboratório global da censura, do abuso de poder estatal e da cleptocracia; o segundo, como bastião da liberdade, dos direitos individuais e da soberania nacional. O que nos resta na comparação com os hermanos? Bem, ao menos Pelé foi muito melhor que Maradona...
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