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Flávio Gordon

Flávio Gordon

Sua arma contra a corrupção da inteligência. Coluna atualizada às quartas-feiras

Assassinato

Charlie Kirk e o ódio da esquerda

Charlie Kirk
Charlie Kirk em foto de 2024. (Foto: CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH/EFE/ARQUIVO)

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“Não se pode enfrentar uma força satânica apenas com humanismo e moralidade” – escreveu Eric Voegelin em As Religiões Políticas. A frase ecoou na minha mente assim que, ontem, soube da notícia do brutal assassinato de Charlie Kirk. Voegelin referia-se ao nazismo, e particularmente ao componente espiritual de sua cosmovisão. Mas a lição serve perfeitamente bem para a esquerda contemporânea, que produz mentalidades cada vez mais perturbadas e cada vez mais dispostas à prática do mal concreto em nome do que enxergam como o “bem”.

Kirk tinha uma personalidade socrática, e levava para as universidades americanas, por décadas tomadas por radicais de esquerda, o método maiêutico, ainda que em estilo descontraído. Daí que a cena da instantânea transformação de uma alma vivaz e comunicativa em um cadáver, com os olhos revirados e o sangue jorrando, jamais sairá da minha cabeça. Não apenas pela brutalidade em si, mas também pelo terrível significado dessa morte.

Kirk, homem da palavra, e que jamais se valeu de nada além dela para avançar as suas ideias, exercia justamente o seu dom no instante fatal. Sua fala foi interrompida pelo estampido, logo seguido do projétil que lhe caçou a palavra. O sujeito que tanto lutou pela liberdade de expressão e de pensamento, perdia, enfim, aquela batalha contra a censura, em sua versão mais extrema. O assassino é a epítome dos censores contemporâneos. Kirk, a vítima quintessencial que representa todos os censurados.

Já há indícios de que, como se imagina, o crime tenha sido mesmo cometido por um terrorista de esquerda. Próximo ao local do crime, foram encontrados cartuchos e munições gravados com mensagens ligadas à “ideologia de gênero” e ao “antifascismo”. Terá sido, portanto, mais um atentado cometido por possessos pela ideologia de esquerda, cada vez mais violenta desde que confrontada com o crescimento da direita nos EUA e no mundo.

Herança do marxismo e de seus derivados, essa ideologia tem por legado despersonalizar, desumanizar e, por fim, lobotomizar o espírito humano. Essa desumanização é inteiramente programada. Conta-se que Vladimir Lenin, o açougueiro predileto do século 20, teria certa vez desabafado ao ouvir a sonata de Beethoven: “Não posso ouvir música com constância. Dá-me vontade de fazer afagos na cabeça das pessoas e de dizer palavras amáveis e tolas. Mas, no momento, é preciso sovar cabeças, espancá-las sem misericórdia.” Lenin encarnava o revolucionário de esquerda em seu estado mais puro: um sujeito que temia Beethoven porque o som de um piano ameaçava abalar sua pulsão de matar. Para ele, todo sinal de beleza e transcendência havia de ser neutralizada para que a maquinaria de ódio continuasse a girar.

Herança do marxismo e de seus derivados, essa ideologia tem por legado despersonalizar, desumanizar e, por fim, lobotomizar o espírito humano

A autocastração existencial do ideólogo revolucionário é, antes de tudo, uma tentativa desesperada de suprimir uma estrutura da realidade que não depende de sua vontade. É também uma revolta contra a própria condição humana. Ao contrário do que crê o esquerdista, o homem não se reduz a um animal movido por pulsões e interesses (de classe, de gênero, de raça etc.). O homem é um ser situado no metáxi, essa região intermediária descrita por Platão, onde a existência se estende entre a imanência e a transcendência, entre a bestialidade e o divino. Como notou Eric Voegelin, essa tensão não é um acidente, mas a própria essência da condição humana.

Ao tentar dissolver esse drama estrutural da alma, o possuído ideológico esquerdista não se emancipa dele. O que faz é apenas se mutilar. Permanecendo humano, ele é ainda o portador virtual de uma abertura para o transcendente que ele próprio se recusa a reconhecer. Essa recusa não o liberta, apenas convertendo a nostalgia do alto em obsessão pelo baixo. O vazio espiritual que ele cavou não permanece neutro; cedo ou tarde, exigirá um preenchimento.

E aqui está o ponto crucial da mentalidade de esquerda hoje e sempre. Incapaz de se reconciliar com o princípio transcendente, o esquerdista precisa inventar um simulacro de transcendência que seja compatível com sua rebelião. Essa pseudo-transcendência não é uma elevação, mas um rebaixamento. É a tomada do espírito pelo ressentimento e pela revolta. Para esse doente do espírito, portanto, o ódio – preferido entre os pecados capitais – torna-se o sacramento negativo que dá sentido à existência. Por meio dele, o esquerdista realiza uma paródia de espiritualidade: não busca o bem, mas persegue incessantemente o mal a ser destruído, como se a erradicação do inimigo fosse suficiente para redimir o mundo.

Antes de Lenin, o próprio Karl Marx foi a encarnação perfeita desse ódio existencial. Em Os Intelectuais, o historiador Paul Johnson nos oferece um retrato impagável de sua juventude, quando o filósofo de Trier se dedicava a escrever versos sombrios. “A selvageria é uma marca característica de seus versos”, observa Johnson, “juntamente com um intenso pessimismo no que diz respeito à condição humana, ódio, uma fascinação pela decomposição e pela violência, pactos de suicídio e pactos com o demônio.”

Como amostra, Johnson transcreve um dos versinhos de juventude de Marx:

“Nós estamos acorrentados, alquebrados, vazios, amedrontados/ Eternamente acorrentados a esse bloco marmóreo de ser/ Somos os imitadores de um Deus insensível./ Gritarei maldições colossais à humanidade.”

Sim, Voegelin está certo. O ódio revolucionário é uma força satânica, que afasta os homens de Deus e de sua própria humanidade. Em vida, Charles Kirk tinha o dom de tirar as vestes supostamente virtuosas com que os esquerdistas recobrem esse ódio, daí que os enfurecesse tanto quanto Sócrates aos sofistas, ou quanto Jesus a Satanás. Resta que, com a sua morte, esse ódio está completamente desnudado, impossível de ser coberto ou disfarçado. Kirk está morto, mas algo parece ter mudado definitivamente na América e no mundo.

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