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Segundo Ricardo Lewandowski – ex-ministro do STF, atual ministro da Justiça, mas sempre camarada leal ao projeto lulopetista de poder total –, o mandatário brasileiro ficou “estarrecido” com o número de mortos no Rio de Janeiro. Não me lembro de uma única ocasião em que o mesmo sujeito tenha se declarado estarrecido com o assassinato anual de cerca de 50 mil de seus compatriotas. Mas uma centena de narcoterroristas fortemente armados mortos em confronto com a polícia? Aí já é demais...
Sim. O descondenado-em-chefe não suportou tanto horror. Pousando as suas mãos calejadas (de tanto jogar purrinha) sobre as suaves e tépidas mãos de dona Janja, é provável que tenha derramado lágrimas contidas pelas pobres almas daqueles que, como ele próprio afirmara dias antes, são também vítimas dos usuários de drogas. Derramou-as decerto, como outrora fizera ao rogar a seu amigo Fernando – o sociólogo uspiano, não o taxador compulsivo – que livrasse da cadeia “os meninos” do MIR chileno, a guerrilha marxista cujos membros sequestraram Abílio Diniz. Vê-se que o pai dos “meninos” – que as redes sociais, sempre tão cruéis, apelidaram de “presidente dos traficantes” – nunca lhes falta. Como naquela canção natalina do submundo do crime: Seja rico ou seja pobre, o painho sempre vem...
A bandidolatria – ou, como prefiro, a narcoafetividade – é hoje o afeto político dominante da esquerda brasileira
Quanto ao fato em si, é preciso observar que a operação policial realizada na terça-feira nos complexos da Penha e do Alemão – que resultou na morte de cerca de uma centena de criminosos do Comando Vermelho – foi uma das mais bem-sucedidas ações contra o narcoterrorismo no Rio de Janeiro em muitos anos. Como tuitou Marcelo Pessoa, bacharel em Relações Internacionais e doutor em Economia, em resposta a uma crítica ignóbil do advogado petista Augusto de Arruda Botelho:
“Uma operação que conta com cerca de 2,5 mil agentes das forças de segurança do Estado, com apoio de helicópteros, drones, 32 veículos blindados e 12 de demolição, em dois complexos com 26 comunidades e 280 mil moradores, contra centenas de combatentes armados com fuzis de assalto modelos AR-15 modificados e AK-47, pistolas, rádios comunicadores e drones adaptados para lançar granadas e bombas improvisadas, deve ser caracterizada como uma operação de guerra. Nesse caso, o saldo foi extremamente positivo. Afinal, a média histórica para conflitos assimétricos, quando inimigos não usam uniforme, em áreas urbanas densamente povoadas, é de três a dez civis mortos para cada combatente eliminado. O governador Cláudio Castro e as forças policiais do Rio de Janeiro servem de exemplo para o mundo sobre como combater em áreas urbanas preservando civis. Merecem congratulações efusivas de toda a sociedade brasileira pela estratégia e pelo heroísmo.”
Mas, como era de esperar, a esquerda brasileira em peso – liderada pelo consórcio formado pelo STF, pelo governo federal e pela Rede Globo – reagiu com manifestações de repúdio, indignação e lamento. Pelos policiais mortos e pelas vítimas do crime organizado? Claro que não. Pelos criminosos.
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Em vez de reconhecer o esforço das forças de segurança que, a custo de vidas e sob fogo cerrado, avançaram sobre uma das regiões mais violentas do país, a esquerda preferiu repetir seus slogans de DCE (e bons tempos aqueles em que se limitavam ao DCE): “violência policial”, “execuções sumárias”, “chacina”, “necropolítica”, “massacre de corpos pretos e pobres”, “genocídio”, e por aí vai.
Por sua vez, o Judiciário companheiro prossegue em seu enredo cínico – que, entre milhares de habeas corpus concedidos a traficantes e restrições ao trabalho policial, há décadas paralisa a ação do Estado e protege o crime sob o disfarce do humanitarismo. Ninguém menos que Alexandre de Moraes, recordista mundial de vitórias nos sorteios da corte, assumiu a relatoria da assim chamada “ADPF das Favelas” – a qual, desde que Edson Fachin decidiu favoravelmente à ação movida pelo PSB em 2020, estendeu o tapete vermelho para que o Comando Vermelho ampliasse seus domínios e incrementasse seu arsenal bélico. É o garantismo penal levado ao paroxismo: a toga como colete à prova de balas do narcoterrorista. Nesse contexto, não espantaria que o governador Cláudio Castro e os comandantes do Bope e do Core fossem incluídos em algum dos inquéritos alexandrinos “em defesa do Estado Democrático de Direito”.
A Globo, naturalmente, cumpre seu apostolado sentimental, substituindo o jornalismo pelo narcoativismo. Entre closes chorosos e trilhas melancólicas, chama de “chacina” o que foi uma operação legítima e necessária, ignorando o arsenal de guerra apreendido. Ao espectador, é oferecida a velha fábula da “juventude periférica interrompida”. As menções ao fuzil, à granada e aos drones lança-bombas são rápidas e constrangidas. Enfatiza-se a dor das mães e das namoradas – dos criminosos, por óbvio, pois as mães de policiais assassinados não interessam ao esquema desinformativo.
A cada operação policial bem-sucedida, o coração progressista sangra – não pelas vítimas do crime, mas pelo bandido revolucionário armado até os dentes
Qualquer observador atento nota que há método nesse escândalo coreografado. Afinal, a indignação ostensiva contra a suposta “letalidade policial” serve a um propósito político: pavimentar o caminho para a centralização do poder de polícia na União, via PEC da Segurança Pública, proposta pelo próprio camarada Lewandowski. Sob o pretexto de “coordenar esforços”, o governo pretende submeter as forças estaduais – as únicas ainda capazes de resistir minimamente ao domínio do crime – ao controle direto de Brasília. É a velha fórmula totalitária: criar a crise, deplorar seus efeitos e, em seguida, propor a solução que amplia o poder de quem a criou.
A bandidolatria – ou, como prefiro, a narcoafetividade – é hoje o afeto político dominante da esquerda brasileira. Trata-se de um amor materno pelo delinquente, um carinho patológico pelo homicida. A empatia que o esquerdista nega aos fetos humanos abortados, ele a reserva, inteira, aos piores facínoras.
No campo da história cultural, o fenômeno assume contornos quase clínicos: trata-se de hibristofilia, o estranho fascínio erótico por criminosos violentos – patologia que o escritor Carlinhos Oliveira identificou nos anos 1970 e consagrou no livro Terror e Êxtase, depois transformado em filme por Antônio Calmon. O fenômeno foi exemplarmente ilustrado também pela tórrida paixão do cineasta João Moreira Salles pelo traficante Marcinho VP, líder do Comando Vermelho, a quem o herdeiro do Itaú Unibanco chegou a presentear com uma bolsa de estudos no início dos anos 2000, e que, ao contrário de Jair Bolsonaro e Filipe Martins, segue com uma conta ativa nas redes sociais.
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O fato é que a intelligentsia nacional parece sofrer de uma síndrome de Estocolmo tropical, enamorada de seus sequestradores morais. A cada operação policial bem-sucedida, o coração progressista sangra – não pelas vítimas do crime, mas pelo bandido revolucionário, que, armado até os dentes, ousou reagir à opressão capitalista com rajadas de fuzil.
No fundo, o horror da esquerda à vitória da polícia é perfeitamente coerente. O que a enoja não é a morte de criminosos – cuja dimensão humana tampouco lhe interessa, uma vez que marxistas e neomarxistas não enxergam pessoas, mas átomos históricos. O que realmente a exaspera é a lembrança de que a civilização ainda pode reagir. E o que de fato “estarrece” o lulopetismo não é o sangue do traficante, mas o vislumbre de um Estado que, por um instante, ousou comportar-se como Estado.
O problema, para eles, é que cada tiro disparado pela polícia atinge também o cerne de sua ideologia patológica, que vê no crime a ferramenta de destruição da sociedade atual, de cujos escombros nascerá, enfim, a sociedade futura, onde todos poderão – como disseram os profetas – “caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite e fazer crítica depois do jantar”.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos




